domingo, 5 de outubro de 2008
Santa mudou
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Santa Teresa é um enclave no Rio, uma espécie de república autônoma, com características físicas únicas – 19 acessos para carro, umas 50 escadarias, ladeiras, curvas, trilhos, arquitetura colonial. Tudo bem abandonado pelo poder público. E pelo próprio morador, por que não dizer? O presidente da nossa associação nem mora aqui...
A população é especial. Recentemente surgiu uma elite francesa que compra casarão para criar hotéis e restaurantes inacessíveis à maioria dos nativos, o que pode levar ao extermínio o perfil democrático do bairro, como já aconteceu em áreas degradadas de grande metrópoles; também há uma colônia italiana católico-conservadora em moral e costumes, felizmente com influência nula. A missa deles reúne seis (já fui lá contar: é meia-dúzia mesmo). Tem um sino insuportável que toca para chamar esses seis, mas é só.
O restante da população é interessantíssimo. Há uma grande quantidade de ripongas antigos de 40 anos no bairro, muitos artistas plásticos e artesãos. Há uma massa, bem popular, de flamenguistas fanáticos e sambistas animadíssimos, que lideram os vários blocos, as muitas festas e as pouco freqüentes confusões do bairro. Há intelectuais de esquerda já velhuscos, e alguns deles ainda dirigem Ladas e Nivas.
Há uma galera muito rica, que mora em mansões atrás de muros cobertos de hera. Há uma galera muito pobre, boa parte moradora de uma das 17 favelas do entorno, que trabalha de dia e estuda à noite na Santa Catarina, escola que não figura entre as mais inovadoras ou incentivadoras. Não poucas vezes chorei, da mesa do bar de onde sempre aprecio o espetacular pôr-do-sol do Largo das Neves, ao ver grandes grupos deles descendo do ônibus e correndo atrasados para a primeira aula. A perseverança dessas meninas e meninos emociona.
O que temos em comum, que nos transforma numa comunidade única, quase um gueto? Duas coisas. Todos amamos o bondinho. E é tudo petista.
Dia de eleição é festa. Boca-de-urna aberta, a volta dos que se foram, a espera dos amigos mesários para ouvir as novidades, muita discussão, muita risada. Hoje tinha pouco movimento, que aliás vem caindo eleição após eleição – é o neoliberalismo, fazer o quê?
Nas conversas da semana todo mundo dizia que votaria na Jandira, já que o Molon não tinha chance. Hoje, todo mundo votou no Gabeira, para evitar o crivela no segundo turno.
Eu também. Minha reputação já era (o primeiro voto no PSDB fica marcado para sempre). Mas a boca-de-urna indica Gabeira em segundo.
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3 comentários:
Linda a sua análise de Santa.
Eu ia votar no Gsbeira também para aquele troço que chegou em terceiro. Mas na hora não resisti e votei na Jandira.
Linda a sua análise de Santa.
Eu ia votar no Gabeira também para evitar aquele troço que chegou em terceiro. Mas na hora não resisti e votei na Jandira.
pois é, rapaz, vou carregar essa culpa para sempre no coração.
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