Amy Goodman e Juan Gonzalez entrevistaram Robert Fisk (outro guru!) em 2/10 para o Democracy Now!.
Ele conta que estava almoçando na Costa Oeste uns dias atrás quando uma educada senhora comentou: "Mas os muçulmanos querem tomar conta do mundo, como já fizeram na França".
"Como isso é possível?", pergunta Fisk. "Ela poderia ter dito que os marcianos pousaram no Novo México, é o que consegue responder diante de tal argumento..." Para ele, parece uma lavagem cerebral coletiva, todo mundo incorpora esse discurso. "A Sra. Palin ainda fala em vitória no Iraque; não se sente isso se se vive no Iraque".
Vocês têm que entender que não fará diferença alguma quem vencerá a eleição nos EUA no que diz respeito ao Sudoeste da Ásia ou ao mundo muçulmano. Eu estava no Catar, no estúdio da Al Jazeera árabe, quando Obama fez sua famosa visita ao Oriente Médio. Ele dedicou 45 minutos aos palestinos, 24 horas a Israel. O âncora árabe me perguntou: "Você acha que Obama vai vencer?" Eu disse: "Ele vai ser eleito para o Knesset israelense, não sei se para a presidência dos EUA". Aqui nos Estados Unidos há um pensamento único sobre o Oriente Médio, que não vai mudar.
Sobre o Afeganistão: O Talibã agora controla metade do país, não só à noite, mas de dia também. Petraeus [o ex-comandante americano] acertou quando disse que as coisas piorariam.
O governo Karzai está totalmente desacreditado. Ele só governa em seu palácio, sob a proteção de mercenários americanos. O governo dele está cheio de barões da droga, warlords e criminosos. E isso inclui a população de Kandahar. Kandahar é virtualmente uma cidade perdida, o exército não entra mais lá. As mulheres voltaram todas a usar burca, menos em Cabul. E nós vamos vencer lá?
Sobre o Paquistão: O discurso é que os loucos mulás de turbantes negros e o doido do Ahmadinejad do Irã – e ele é um doido – vão destruir Israel e os palestinos e a si mesmos com todas aquelas bombas nucleares. Tenho dito há mais de dois anos que há uma nação no Sudoeste da Ásia repleta de seguidores do Talibã e da al-Qaeda, que tem a bomba, que é corrupta do menino engraxate ao presidente, com seu serviço de inteligência e seu exército, e ela se chama Paquistão. E só agora o Paquistão começa a aparecer. Aposto que se você fizer uma pesquisa [no Google] nos próximos meses verá o Irã cair pro pé da página de resultados, e o Paquistão vai subir.
Sobre falação: Ehud Olmert falou em devolver a Faixa de Gaza, mas ele já era. É a mesma coisa com os generais americanos no Iraque e no Afeganistão. Quando entrevistados, dizem que está tudo bem, que a luta vai ser dura, e saúdam Rumsfeld – ou saudavam – batendo os calcanhares. No momento em que se aposentam, pedem a renúncia de Rumsfeld e dizem que está tudo errado. Se um deles, apenas um deles, dissesse a verdade quando entrevistado no comando, poderíamos ter alguma mudança, mas não fazem.
Sobre o futuro: Usamos palavras como "vitória", quando deveríamos usar "justiça" para o povo do Oriente Médio. Se se tem justiça, pode-se construir a democracia e retirar todos os soldados. Aos povos do Oriente Médio estamos sempre prometendo democracia e pacotes de direitos humanos direto das prateleleiras dos nossos supermercados, mas sempre chegamos com nossos cavalos e Humvees, nossas espadas e helicópteros Apache, nossos tanques M1A1. O único futuro no Oriente Médio é a retirada de todas as forças militares e a construção de sérias relações políticas, sociais, religiosas e culturais com estes povos. Não é nossa terra.
Veja a íntegra aqui.
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Outros vices
Por sinal, Democracy Now! entrevistou no dia seguinte os candidatos a vice excluídos do debate entre Joe Biden e Sarah Palin. Ninguém ouviu falar deles aqui, né? Matt Gonzalez, da chapa independente de Ralph Nader, é advogado em São Francisco. A jornalista Rosa Clemente, do Partido Verde, antiga ativista ambiental, está na chapa de Cynthia McKinney.
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Quase esqueci: Fisk está lançando um novo livro de ensaios, The Age of the Warrior (a era do guerreiro).
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