quinta-feira, 31 de março de 2011

Onde você estava em 64?

O golpe de 64 completa amanhã 47 anos. Minha amiga @nafaixa teve uma ideia sensacional via @emirsader: fazer esta pergunta no Teia Livre. Escrevi o textinho abaixo e postei. Vocês precisam ver quantos depoimentos sensacionais pessoas de todas as idades publicaram lá! Passe lá e comente também!
No dia 13 de março de 1964, o presidente João Goulart, em comício com mais de 100 mil pessoas na Central do Brasil, no Rio de Janeiro, anunciou suas famosas "reformas de base", entre as quais a agrária e da Constituição. "O Comício da Central marcou o começo de uma contagem regressiva", como relata o ótimo blog Hoje na História, do pessoal da pesquisa do Jornal do Brasil.
"Nenhuma força será capaz de impedir que o governo continue a assegurar absoluta liberdade ao povo brasileiro", disse Jango. "E para isto poderemos declarar, com orgulho, que contamos com a compreensão e o patriotismo das Forças Armadas". Ele estava errado. Forças (claríssimas) se mobilizaram para o golpe, consumado em 1º de abril.
Como parte (modesta porém sincera) dos esforços pela criação da Comissão da Verdade no Brasil, o único país entre as antigas ditaduras do Cone Sul que ainda não acertou as contas com seu passado, o Teia Livre convida você a postar nos comentários o que fazia há 47 anos, enquanto a repressão se organizava para depor um governo legítimo. Se você não era nascido, conte o que seus pais ou parentes em geral faziam na época: afinal, a ditadura sempre provoca conversas (às vezes, tensas) nos almoços de família...
Eis alguns dos 78 comentários:


Estava em Brasília, tinha 8 anos, irmãs 10, 6 anos e, na época, a caçulinha candanga de 7 meses. Acordei com os tanques na W3. Pai e mãe professores da UNB. A preocupação começou bem antes, vários alunos frequentavam nossa casa, nós crianças sabíamos que estava acontecendo algo sério e profundamente grave, mas, eu pelo menos, não sabia exatamente o quê. Essa sensação de algo errado foi se aprofundando com o medo, a tensão, as conversas veladas e angustiadas, a necessidade de se livrar de papéis "comprometedores", e finalmente a detenção do meu pai e sua posterior "aposentadoria".
Voltamos para São Paulo, depois fomos pra Salvador. E, apesar de ter duas irmãs morando lá, nunca mais voltei pra BSB. Mas pelo menos conheço todos os hinos brasileiros de cor e salteado.
eu tinha 5 anos, e ja moravamos em Brasília. minha mãe entrou em trabalho de parto durante a madrugada do dia 1°/4, de tanto susto, seu irmão tinha sido preso (ele era soldado, cumprindo alistamento obrigatório). me lembro de ouvir tiros, e sonhar com guerra a noite toda. me lembro da alegria pela vitória do Brasil em 1970, todas as crianças da escola comemorando...só comecei a aprender a verdadeira história do Brasil depois de 84... engraçado, até hoje nunca conversamos sobre este período na família...
[]s
Eu tinha 7 anos, morava no interior do Paraná, estudava em colégio de freiras e as FDP fazia os alunos todo dia ajoelhar ao lado da cruz que havia no pátio da igreja e repetir várias vezes " Deus, nos livre do comunismo"," Deus, nos livre do comunismo" , " Deus, nos livre do comunismo"... . Nem sabia o que estava falando, mas ficava com tanto ódio. Resultado do meu ódio: na adolescência me acheguei ao PC do B, depois me filiei ao PT .
Eu ainda não tinha nascido, minha mãe ainda tinha sete anos e morava em um buraquinho minúsculo no norte do Paraná. Meu avô, de direita, chegou a filiá-la à Arena, que ela nem sabia o que era. Foi entender um pouco mais quando se mudou pra Curitiba pra fazer gaduação, dez anos depois. Meu pai em 64 já tinha 16 anos, mas dele nessa época só sei que tinha TODOS exemplares do pasquim (eu lembro das pilhas de jornais e da minha mãe braba porque era uma festa para as traças).
Estava em Manaus cidade onde nasci, vi de perto um militar armado até os dentes, era o meu saudoso pai, que Deus o tenha em bom lugar, minha madrasta e algoz que eu inconscientemente odiava estava sempre chorando, eu não entendia nada... adorava comer aqueles enlatados que o mesmo carregava em sua mochila, mas morria de medo daquelas armas, ele passava dias sem aparecer em casa, era eu ainda uma criança quando aconteceu o Golpe, só consegui compreender tudo anos mais tarde num internato, quando vivenciei a tirania das freiras, verdadeiras ditadoras e quando de lá saí, li parcialmente Brasil Nunca Mais, não consegui terminar de lê-lo aquilo tudo era demais , mexeu com minha cabeça. Nunca tive coragem de conversar com meu pai sobre esse assunto, só perguntei se o mesmo torturou alguém, disse que não, notei que ficou ofendido, não consigo acreditar que uma pessoa tão generosa que ajudava muitos em suas dificuldades, tivesse torturado e matado, na verdade não sei como foi a atuação da Ditadura no Amazonas, tudo me intriga até hoje e não tenho coragem de pesquisar.
Eu não tinha nascido mas lembro das histórias dos meus pais. Minha mãe lembra que quando aconteceu o Golpe a primeira coisa que a minha avó fez foi pegar uns livros que minha mãe ganhou de uns padres sobre comunismo em aulas que eles davam dentro da Igreja (na cidadezinha do interior que ela morava) e queimou tudo no quintal dos fundos. (...) 
O meu avô, pai do meu pai. Que lutou na segunda guerra. Tinha uma vendinha no interior, e brincalhão como era, depois do golpe ele começou a pintar os ovos de vermelho e a dizer para o povo que ia na vendinha que suas galinhas eram comunistas. Um dia os milicos vieram e o levaram, sem mais nem menos. Depois de um mês, ele simplesmente apareceu na casa dele. Nunca falou sobre o que aconteceu com ele.
arnobio1969 20 horas atrás
Meus pais eram recém-casados minha mãe estava grávida da minha irmã mais velha, moravam no interior distante do Ceará. Jamais soube o que eles pensavam sobre o golpe. Quando criança falava do perigo vermelho de russos, quase morro de medo quando uma vez passamos numa cidade chamada Russas, vizinha a Limoeiro do Norte, onde um tio moravaNasci em 1969, e entrei na militância em 1983,ainda na clandestinidade. Vivi militância apenas 2 anos sob ditadura, mas numa época que ela tinha falido.
Pois é, eu tinha 13 anos e morava no Rio de Janeiro, pois, meu pai, que era amigo pessoal do Jango, tinha um cargo de confiança e trabalhava no IAPI (Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários), como Chefe de Gabinete do Presidente. Nós morávamos na N. Sra. de Copacabana bem pertinho do Forte e qdo. estorou o golpe deu o "barata voa", pq o pai avisou a mãe pra arrumar o q desse pra gente se mandar, já que o tal "dispositivo militar" do Jango foi-se a breca qdo. o Gen. Amaury Kruel aderiu aos golpistas; então, naquela altura, o único lugar "seguro" era o RS e tinhamos q fugir pra lá - e foi o q fizemos !!! Bueno, tem muito mais coisas pra contar, mas, como o espaço é limitado, fica pra outra hora, num Boteco !!! Abs.
Em março/64 eu tinha 12 anos e gostava do movimento que havia em casa, com meus pais animados indo para o comício da Central junto com amigos. Lembro-me de como minha mãe estava bonita, com o cabelo num penteado alto para cima, como se usava na época. Dias depois, acordo de madrugada com um movimento estranho em casa. Vou na sala e lá estava meu pai e mais dois amigos, atentos ao rádio. E me assustei: estavam todos chorando. Um desses amigos ainda comentou: "Agora fudeu tudo!". Minha mãe explicou que os militares tinham dado um golpe e que tempos difíceis viriam pela frente. Muita tensão nos dias e meses seguintes, em que ora tirávamos uma série de livros do alto da estante, ora eles apareciam lá novamente.

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