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sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Será que o Mubarak cai? Por favor, por favor!


Mama Qarat, página de opositores egípcios no Facebook, postou à noite esta foto dos protestos na Praça Tahrir (via The Atlantic e @_WITCHBLADE_).

Mubarak mostra a cara que finge esconder dos Estados Unidos, o grande irmão que finge não ver e sustenta essa ditadura "democrática". Internet detonada. Mas olha só: moradores do Cairo removeram a senha de seus roteadores wi-fi para que os manifestantes possam se comunicar com o mundo (via perfeitamenteinutil). "O Egito se tunisifica, Mubarak se benalisa. C’est du Djeddah vu!" (Ayari Yassine, @yassayari, via The Political Notebook).

Tudo isso é consequência dos Palestine Papers! (Saiba o que são os Documentos da Palestina; Robert Fisk escreve a respeito!) Ah, gente, nessas horas eu até rezo, viu?

Viva Wikileaks!

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Brasil-Irã: a voz que destoa do coro

Um trecho do telegrama traduzido pelo Coletivo VilaVudu:

***

1. (C) RESUMO. O subsecretário para Assuntos Políticos do Ministério de Relações Exteriores do Brasil, Roberto Jaguaribe, que voltou recentemente de missão diplomática a Teerã, disse ao chargé d'affaires dia 16 de setembro que mais diálogo, em vez de sanções, será o meio mais efetivo para pressionar o Irã a desenvolver um programa nuclear responsável. Jaguaribe destacou que o programa nuclear iraniano conta com amplo apoio interno e, em resumo, não será suspenso, motivo pelo qual o objetivo deve ser levar os iranianos a obedecer a orientação internacional para as questões nucleares. Disse que altos funcionários iranianos distinguem entre as diretivas da AIEA, que estão tentando obedecer, e as resoluções do Conselho de Segurança da ONU, que consideram injustas e, em alguns casos, ilegítimas. Jaguaribe contou que disse aos iranianos que ainda não estão cumprindo as responsabilidades que lhe cabem cumprir em relação à AIEA, mas que crê que estejam fazendo progressos. O subsecretário não descarta a possibilidade de o Brasil fazer referência ao Irã na Assembleia Geral da ONU, mas disse que tais referências serão “equilibradas”, sobre o Irã ainda não ter cumprido todas as suas obrigações e sobre o Brasil não acreditar em sanções como instrumento de motivação. FIM DO RESUMO.

Continua aqui.

Alugue seu general e ganhe (muito) dinheiro

Os Estados Unidos são um estranho país. Você fica sabendo de tudo sobre a CIA ou a NSA em livros, seriados e filmes de ficção. Mas revele um despachozinho verdadeiro de graça na vida real pra ver o que acontece! Todo mundo ou qualquer um pode contar segredos à vontade, desde que seja por dinheiro. Ex-agentes e ex-analistas da CIA podem prestar consultoria a rodo a roteiristas de Hollywood. Mas espião pode. Ex-generais revelam o que sabem a empresas, mas general pode. Judith Miller, repórter cretina do New York Times hoje na Fox News, revelou mais segredos americanos no livro Guerra biológica do que o Wikileaks. Mas jornalista pode. Estão todos ganhando dinheiro e aí tudo é permitido. Já Bradley Manning, que expôs 251 mil segredos de graça, está trancafiado e assim pode ficar por 50 anos.

Gira a roda monumental da informação: Andrew Sullivan postou em seu blog na The Atlantic comentário sobre a matéria do Boston Globe intitulada “From the Pentagon to the private sector: em grande número e com poucas regras, generais reformados assumem lucrativas funções em empresas de defesa”; o tuiteiro @rodolfob divulgou o post, @nilocabra reproduziu e eu fui ler: em 20 anos, 750 generais e almirantes de 3 e 4 estrelas americanos assumiram postos no complexo industrial-militar depois de aposentados. A matéria começa contando o caso concreto de um general-brigadeiro.

Uma hora após a cerimônia oficial que marcou o fim de sua carreira de 35 anos na Força Aérea, o general Gregory "Speedy'' Martin voltou a seus aposentos para trocar o uniforme de gala pela roupa de golfe. Ele estava pronto para sua primeira partida como general de quatro estrelas aposentado.

Mas tão logo fechou a porta naquele dia, em 2005, seu telefone tocou. Era um executivo da Northrop Grumman perguntando se ele estaria interessado em trabalhar para o fabricante do bombardeiro stealth B-2 [esse preto aí da foto, “invisível" a radares] como consultor remunerado. Algumas semanas mais tarde, Martin recebeu outro telefonema. Desta vez era o Pentágono, pedindo-lhe que participasse de painel ultra-secreto da Força Aérea que avaliaria o futuro da tecnologia dos aviões stealth.

O convite era compreensível: Martin tinha sido o oficial responsável por todos os programas de armas da Força Aérea, especialmente o do B-2, nos quatro anos anteriores.

Ele disse que sim a ambas as ofertas.

Mas não vou traduzir toda a matéria do Boston Globe, de Bryan Bender (26/12/2010), que tem oito (sim, oito) partes, apenas o post no blog de Sullivan, de autoria de Conor Friedersdorf (28/12/2010), que resume bem esta gravíssima situação (quem viu In ascolto entende o perigo e o acinte da presença física da indústria DENTRO dos prédios de organismos americanos de defesa e segurança de Estado). Eis o texto:

Glórias a The Boston Globe por destacar um problema que está pior do que nunca:

The Globe analisa a trajetória das carreiras de 750 dos generais e almirantes das mais altas patentes que se aposentaram nas duas últimas décadas e concluiu: para a maioria que adere, o “negócio” que muitos em Washington chamam de “alugue um general” é irresistível. De 2004 a 2008, 80% dos oficiais de três e quatro estrelas foram trabalhar como consultores ou executivos de defesa. Há menos de uma década, entre 1994 e 1998, menos de 50% seguiram esse caminho.

Em determinados anos, esse movimento é quase absoluto. Trinta e quatro dos 39 generais e almirantes de três e quatro estrelas que se aposentaram em 2007 trabalham agora em funções de defesa - quase 90%. Em muitos casos, não é sutil o que esses generais têm que vender – Northrop Grumman, a empresa onde o general Martin trabalha, é chamada de “O grupo 4 estrelas”, por exemplo. A cultura da “porta giratória” do Capitólio - pela qual ex-parlamentares vendem seu conhecimento específico a firmas de lobby - está agora generalizada nos degraus superiores da liderança militar.

Incrível, hein? (Ah, a charge é do site Antifascist Encyclopedia.) Mas prossigamos no post:

James Fallows tenta explicar por que ouvimos falar disso tão raramente:

Assim, um problema reconhecido há pelo menos meio século parece ter se tornado pior do que nunca - e ainda não é discutido pelos políticos e raramente pela imprensa. Acho que isso tem a ver com as distorções geradas pela chamada "estreita parcela da população" relacionada aos militares americanos.

Como já apontaram o secretário de Defesa Robert Gates e muitos outros, a nação americana como um todo não está "em guerra", mas a minoria que serve (de novo e de novo) no Afeganistão, no Iraque e em outros lugares definitivamente está, e por anos. Um certo sentimento de mal-estar ou culpa pode impedir que os políticos façam algo mais do que "apoiar as tropas".

Abaixo, um resumo das conclusões do Globe:

* Dezenas de generais reformados empregados por empresas mantêm no Pentágono funções de consultoria, o que lhes dá níveis sem paralelo de influência e acesso a informação privilegiada sobre planos de aquisições do Departamento de Defesa.

* Os generais são, em muitos casos, recrutados para esse papel no setor privado bem antes da aposentadoria, levantando dúvidas sobre sua independência e seu julgamento enquanto ainda fardados. O Pentágono está consciente disso e apoia essa prática.

* O sistema de alimentação de certos comandos em determinadas empresas de defesa é tão poderoso que sucessivas gerações de comandantes são contratadas pelas mesmas empresas ou na mesma área. Por exemplo, os últimos sete generais e almirantes responsáveis pela venda internacional de armas do Departamento de Defesa assessoram agora fabricantes de armas e tecnologia de defesa no exterior.

* Quando um general que se tornou empresário chega ao Pentágono, ele é geralmente tratado com deferência extraordinária - como se ainda usasse farda -, o que pode aumentar sua efetividade para a indústria como vendedor. Esse  militar tem até nome para isso - o efeito bobblehead [aquele bonequinho cuja cabeça balança].

Claro que a preocupação dos americanos conservadores se atém à revelação de segredos à indústria bélica, por mais parceira que seja. Poucos entendem que seja a maior interessada -- e mesmo a instigadora -- em guerras. Já a minha preocupação é a presença mesma da indústria. Ela pode saber de todos os segredos, todos. E isso não é coisa distante não. Mesmo pobrezinhos, entramos no mapa-múndi do comércio de armamentos. E com o Johnbean lá na Defesa então...

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

"Não tente protestar". Viva Wikileaks!

Li "Chris Hedges: Orwell estava certo. Huxley, também" ontem no Viomundo e fui adiante, sem blogar, porque não é exatamente uma novidade (quem não sabe que a democracia americana agora é a democracia permitida pelas megacorporações, hoje em dia até apátridas?). Também fui adiante porque tenho uma certa implicãncia com Chris Hedges pelo livro dele I Don't Believe in Atheists (2008), depois retitulado para When Atheism Becomes Religion: America's New Fundamentalists (ok, é uma reação aos ateístas americanos que botam a culpa dos males da humanidade na religião, especialmente a islãmica, mas, ainda assim...).

Hoje, contudo, resolvi postar por uma série da fatores convergentes: a Vera enviou cópia do texto; acabei de ver The listening/In ascolto/A escuta (2006), filme italiano ruinzinho que mostra que até os mais equipados e capacitados são inexoravelmente derrotados na luta contra o Big Brother; li notícia sobre um homem acusado de hackismo por espionar o Gmail da mulher; li também que o McDonald's pressionou o governo americano contra El Salvador; por fim, mas não menos importante, uma tuiteira dita "de esquerda" me disse ontem que mesmo quem critica o B*ig Bro*ther Br*as*il na verdade assiste ao e gosta do programa --, certamente uma das falácias favoritas da Globo, obviamente o auxílio precioso que fortalece esse câncer e seu poder destrutivo no país. Enquanto isso, a Folha censura a Falha; Bradley Manning está preso em Quântico; Julian Assange não para de receber ameaças de morte. "NÃO TENTE PROTESTAR", é a mensagem. Viva Wikileaks!

Aproveitem o texto. Pena que o Viomundo não informe quem traduziu.

***

2011: A Brave New Dystopia

Chris Hedges (TruthDig.com, 27/12/2010)

As duas grandiosas visões sobre uma futura distopia foram as de George Orwell em 1984 e de Aldous Huxley em Brave New World. O debate entre aqueles que assistiram nossa decadência em direção ao totalitarismo corporativo era sobre quem, afinal, estava certo. Seria, como Orwell escreveu, dominado pela vigilância repressiva e pelo estado de segurança que usaria formas cruas e violentas de controle? Ou seria, como Huxley anteviu, um futuro em que abraçariamos nossa opressão embalados pelo entretenimento e pelo espetáculo, cativados pela tecnologia e seduzidos pelo consumismo desenfreado? No fim, Orwell e Huxley estavam ambos certos. Huxley viu o primeiro estágio de nossa escravidão. Orwell anteviu o segundo.

Temos sido gradualmente desempoderados por um estado corporativo que, como Huxley anteviu, nos seduziu e manipulou através da gratificação dos sentidos, dos bens de produção em massa, do crédito sem limite, do teatro político e do divertimento. Enquanto estávamos entretidos, as leis que uma vez mantiveram o poder corporativo predatório em cheque foram desmanteladas, as que um dia nos protegeram foram reescritas e nós fomos empobrecidos. Agora que o crédito está acabando, os bons empregos para a classe trabalhadora se foram para sempre e os bens produzidos em massa se tornaram inacessíveis, nos sentimos transportados do Brave New World para 1984. O estado, atulhado em déficits maciços, em guerras sem fim e em golpes corporativos, caminha em direção à falência.

[...]

Orwell nos alertou sobre um mundo em que os livros eram banidos. Huxley nos alertou sobre um mundo em que ninguém queria ler livros. Orwell nos alertou sobre um estado de guerra e medo permanentes. Huxley nos alertou sobre uma cultura de prazeres do corpo. Orwell nos alertou sobre um estado em que toda conversa e pensamento eram monitorados e no qual a dissidência era punida brutalmente. Huxley nos alertou sobre um estado no qual a população, preocupada com trivialidades e fofocas, não se importava mais com a verdade e a informação. Orwell nos viu amedrontados até a submissão. Mas Huxley, estamos descobrindo, era meramente o prelúdio de Orwell. Huxley entendeu o processo pelo qual seríamos cúmplices de nossa própria escravidão. Orwell entendeu a escravidão. Agora que o golpe corporativo foi dado, estamos nus e indefesos. Estamos começando a entender, como Karl Marx sabia, que o capitalismo sem limites e desregulamentado é uma força bruta e revolucionária que explora os seres humanos e o mundo natural até a exaustão e o colapso.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Um novo Grinch rouba o Natal



Quisera saber inserir legendas... estou procurando o texto escrito para traduzir e postar aqui.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

ONU fecha o ano com honra. O tema? Wikileaks


RELATOR ESPECIAL DA ONU PARA PROMOÇÃO E PROTEÇÃO
DO DIREITO À LIBERDADE DE OPINIÃO E EXPRESSÃO
COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS
RELATOR ESPECIAL PARA LIBERDADE DE EXPRESSÃO




(Tradução não oficial, para simples leitura, do Coletivo VilaVudu)

21 de dezembro de 2010 – À luz dos desenvolvimentos correntes relacionados à divulgação de telegramas diplomáticos pela organização Wikileaks, e a publicação de informação contida naqueles telegramas por organizações de imprensa, o RELATOR ESPECIAL DA ONU PARA A PROMOÇÃO E PROTEÇÃO DO DIREITO À LIBERDADE DE OPINIÃO E EXPRESSÃO e a COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS (IACHR) vêm a público para lembrar alguns princípios da lei internacional. Os relatores conclamam os Estados e demais atores relevantes a manter em mente esses princípios, ao responder aos desenvolvimentos acima referidos.

1. O direito de acesso a informações guardadas por autoridades públicas é direito humano fundamental sujeito a estrito regime de exceções. O direito de acesso à informação protege o direito de todas as pessoas terem acesso a informação pública e saber o que fazem os governos em nome das populações. É direito que recebeu especial atenção da comunidade internacional, dada a sua importância para a consolidação, o funcionamento e a preservação de regimes democráticos. Sem a proteção desse direito, é impossível para os cidadãos conhecer a verdade, exigir transparência e exercitar plenamente seu direito à participação política. As autoridades nacionais devem tomar medidas ativas para garantir o princípio de máxima transparência, atenta à cultura do segredo que ainda prevalece em muitos países e aumentar a quantidade de informação divulgada por vias rotineiras.

2. Ao mesmo tempo, o direito de acesso à informação deve ser submetido a estrito sistema de exceções para proteger interesses públicos e privados como a segurança nacional e os direitos e a segurança de terceiros. As leis sobre sigilo devem definir precisamente a segurança nacional e indicar os critérios a serem observados na determinação de quais as informações a serem decretadas secretas. Exceções no livre acesso a informações sobre segurança nacional ou outros tópicos só devem ser impostas onde haja risco de dano substancial ao interesse protegido e nos casos de esse dano ser maior que o superior interesse público de ter acesso assegurado àquela informação. De acordo com os padrões internacionais, informações sobre violação de direitos humanos não devem ser consideradas secretas ou sigilosas.

3. Compete às autoridades públicas e respectivas equipes toda a responsabilidade por proteger a confidencialidade de informação legitimamente secreta ou sigilosa sob sua guarda. Outros indivíduos, inclusive jornalistas, trabalhadores da mídia e representantes da sociedade civil, que recebam e divulguem informação sigilosa porque creiam que o fazem em nome do interesse público, não devem ser submetidos a restrição, a menos que cometam fraude ou outro crime para obter a informação.

Além disso, “vazadores” nos governos que divulguem informação sobre violações da lei ou más práticas de que tenham conhecimento nos corpos públicos, ou relativas a grave ameaça à saúde, à segurança ou ao meio ambiente, ou sobre violação de direitos humanos ou de lei humanitária, devem ser protegidos contra sanções legais, administrativas ou trabalhistas no caso de agirem de boa fé. Qualquer tentativa de impor sanções ou pena aos que divulguem informação secreta ou sigilosa deve estar fundamentada em lei existente e em sistemas legais independentes que ofereçam plena garantia de cumprimento do devido processo legal, incluído o direito de apelar.

4. Deve ser proibida por lei qualquer interferência direta ou indireta, pelo governo, assim como qualquer pressão exercida contra qualquer expressão ou informação transmitida por qualquer meio de comunicação oral, escrita, artística, visual ou eletrônica, quando a interferência ou a pressão visar a influenciar o conteúdo. Essa interferência ilegítima inclui processos legais politicamente motivados contra jornalistas e a mídia independente, e bloqueamento de websites e domínios na rede por causas políticas. É inaceitável que funcionários públicos sugiram atos ilegítimos de represália contra quem difundiu informação secreta.

5. Sistemas de
filtragem não controlados pelos usuários – quando impostos por governo ou provedor comercial de serviços – são formas de censura prévia e não podem ser justificáveis. Empresas que forneçam serviços de Internet devem esforçar-se por garantir pleno respeito aos direitos de seus clientes para usar a internet sem interferência arbitrária.

6. Mecanismos de autorregulação para jornalistas têm desempenhado função importante para ampliar a consciência sobre como reportar ou discutir temas complexos e controversos. É necessária responsabilidade jornalística especial nos casos em que reportem informação obtida de fontes especiais que possam afetar interesses valiosos como o direito fundamental à segurança de outras pessoas. Códigos de ética para jornalistas devem portanto prever uma avaliação do interesse público na obtenção desse tipo de informação. Esses códigos devem também oferecer orientação útil para novas formas de comunicação e para organizações de mídia, que devem adotar voluntariamente as melhores práticas éticas, para assegurar que a informação oferecida seja acurada, que seja apresentada de forma equilibrada e que não cause dano substancial a interesses legalmente protegidos, como os direitos humanos.

Catalina Botero Marino

Relatora Especial para Liberdade de Expressão
Comissão Interamericana de Direitos Humanos

Frank LaRue
Relator Especial da ONU para a Promoção e Proteção
do Direito à Liberdade de Opinião e Expressão

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Mídia não evolui com Wikileaks

Traduzi este texto do Michael Moore porque mostra como está desvirtuado o uso dos telegramas do Wikileaks: a mídia acredita na falação dos diplomatas/espiões americanos e sai publicando como verdades! Até o Guardian, que triste... Pelo menos o jornal susbtituiu a notícia original por outra, com a contestação do cineasta, coisa que poucos fazem. O mal já estava feito, claro: a mídia de direita (e até veículos progressistas) ficou reproduzindo a mentira.

Foto: Max Whittaker/Reuters

***
Viva WikiLeaks! Sicko não foi proibido em Cuba
Michael Moore

OpenMike, 18 de dezembro de 2010, 4:47 AM

WikiLeaks ontem fez uma coisa incrível: lançou um telegrama sigiloso do Departamento de Estado que trata, em parte, de mim e do meu filme Sicko.

É espantoso olhar a natureza orwelliana dos burocratas do Estado, que torcem mentiras e tentam recriar a realidade (presumo que para agradar a seus chefes e dizer-lhes o que eles querem ouvir).

A data é 31 de janeiro de 2008. Poucos dias depois de Sicko ser indicado ao Oscar de Melhor Documentário. Isso deve ter deixado alguém quicando no Departamento de Estado de Bush (seu Departamento do Tesouro já tinha me notificado de que investigava as leis porventura quebrei ao levar três socorristas do 11/09 a Cuba para receberem os cuidados de saúde que lhes foram negados nos Estados Unidos).

Wendell Potter, ex-executivo de seguradora de saúde, revelou recentemente que essa indústria – a qual decidiu gastar milhões para me perseguir e, se necessário, "jogar Michael Moore de um penhasco" – trabalhou com anticastristas cubanos em Miami para difamar meu filme.

Assim, em 31 de janeiro de 2008 um funcionário do Departamento de Estado em Havana inventou uma história e enviou-a à sede em Washington. Veja o que eles inventaram:

(...) afirmou que as autoridades cubanas proibiram o documentário de Michael Moore, Sicko, por ser subversivo. Embora a intenção do filme seja desacreditar o sistema de saúde dos EUA, destacando a excelência do sistema cubano, disse que o regime sabe que o filme é um mito e não quer arriscar uma reação popular, mostrando aos cubanos facilidades que claramente não estão disponíveis para a grande maioria deles.

Soa convincente, hein? Há apenas um problema: Sicko tinha acabado de passar em cinemas cubanos. E a nação inteira de Cuba viu o filme na televisão nacional em 25 de abril de 2008! Os cubanos abraçaram tanto o filme que se tornou uma das raras fitas americanas distribuídas nos cinemas de Cuba. Eu, pessoalmente, garanto que uma cópia de 35 mm ficou com o Instituto de Cinema de Havana. Houve sessões de Sicko em cidades de todo o país.

Mas o telegrama secreto disse que os cubanos foram proibidos de ver o meu filme. Hmmm.

Sabemos também de outro documento secreto dos EUA dizendo que "o desencanto das massas [em Cuba] se espalhou por todas as províncias", e que "toda a província de Oriente está fervendo de ódio" pelo regime de Castro. Há uma rebelião subterrânea enorme, e "trabalhadores dão todo o apoio que podem", todos envolvidos na "sabotagem sutil" contra o governo. O moral é horrível em todos os ramos das forças armadas e, em caso de guerra, o exército "não vai lutar". Uau! Este telegrama é quente!

Naturalmente, este cabo secreto dos EUA é de 31 de março de 1961, três semanas antes de Cuba chutar nosso traseiro na Baía dos Porcos.

O governo dos EUA tem passado estes documentos "secretos" a si mesmo nos últimos 50 anos, explicando nos mínimos detalhes como as coisas estão horríveis em Cuba e como os cubanos estão discretamente ansiosos pela nossa volta para assumir o controle. Não sei por que escrevemos estes telegramas, imagino que apenas nos façam sentir melhores. (Qualquer curioso pode encontrar um museu inteiro de desejos esperançosos dos EUA no site do National Security Archive).

Então o que fazer com um telegrama "secreto" falso, especialmente um que envolva você e seu filme? Bem, você espera que um jornal competente investigue a mensagem e grite sua descoberta do alto do telhado.

Mas WikiLeaks ontem enviou o telegrama sobre o caso Sicko em Cuba à mídia – e o que ela fez com ele? Divulgou como se fosse verdadeiro! Eis a manchete no Guardian:

WikiLeaks: Cuba proibiu Sicko por mostrar sistema de saúde “místico”
Autoridades temeram que o lindo hospital mostrado no filme de Michael Moore, indicado ao Oscar, provocasse revolta popular.

E nem uma centelha de investigação para ver se Cuba tinha realmente proibido o filme! De fato, exatamente o oposto. A imprensa de direita passou o dia informando uma mentira (Andy Levy, da Fox duas vezes –, Reason Magazine, Spectator e Hot Air, mais uma série de blogs). Infelizmente, mesmo BoingBoing e meus amigos da Nation escreveram a respeito sem ceticismo. Então você tem WikiLeaks, que se expôs para encontrar e divulgar esses telegramas à imprensa – e os jornalistas tradicionais mais uma vez têm preguiça de levantar um dedo e clicar no mouse para entrar no Nexis ou pesquisar no Google e ver se realmente Cuba "proibiu o filme”. Se ao menos UM repórter o fizesse teria encontrado:
16 junho de 2007 sábado 01:41 GMT [sete meses antes do telegrama falso]
TÍTULO: Ministro da Saúde cubano diz que Sicko, de Moore, mostra "valores humanos" do regime comunista
BYLINE: Por ANDREA RODRIGUEZ, da Associated Press
Dateline: HAVANA

O ministro da Saúde de Cuba, José Ramón Balaguer, afirmou hoje que Sicko, do documentarista americano Michael Moore, destaca os valores humanos do governo comunista da ilha (...) "Não pode haver nenhuma dúvida, este documentário de uma personalidade como o senhor Michael Moore ajuda a promover os princípios profundamente humanos da sociedade cubana."
Ou que tal esta pequena notícia de 25 de abril de 2008 do site CubaSi.Cu (tradução do Google):
Sicko estreia in Cuba
25/4/2008
The documentary Sicko, the U.S. filmmaker Michael Moore, which deals about the deplorable state of American health care system will be released today at 5:50 pm, for the space Cubavision Roundtable and the Education Channel. (O documentário Sicko, do cineasta Michael Moore, que trata do deplorável estado do sistema de saúde americano, será apresentado hoje às 17h30 na Mesa Redonda de Cubavisión e no Canal Educativo.
E tem este, da Juventudrebelde.cu (tradução do Google). Ou esta análise cubana (tradução do Google). Há até mesmo um longo fragmento de Sicko (o trecho sobre Cuba) na homepage do site Mesa-Redonda em CubaSi.cu website!

OK, então sabemos que a mídia é preguiçosa e falha a maior parte do tempo. Mas o maior problema aqui é que nosso governo parecia ser conivente com a indústria de seguros de saúde para destruir um filme que poderia ter ajudado a trazer o que os cubanos já têm em seu país pobre de terceiro mundo: saúde pública universal e gratuita. Porque eles têm e nós não, Cuba apresenta taxa de mortalidade infantil menor do que a nossa, sua expectativa de vida é apenas sete meses mais curta do que a nossa e, de acordo com a OMS, está apenas dois lugares atrás do país mais rico do planeta no ranking da qualidade dos serviços de saúde.

Essa é a matéria, grande mídia e direitistas do ódio.

Agora que você já foi apresentado aos fatos, o que você vai fazer sobre isso? Vai me atacar por ter exibido meu filme na televisão estatal cubana? Ou vai me atacar por não ter exibido meu filme na televisão estatal cubana?

Você tem que escolher um, não pode ser ambos.

E como os fatos mostram que o filme foi exibido na TV estatal e nos cinemas, acho que o melhor é vocês me atacarem porque meu filme passou em Cuba.

Viva WikiLeaks!

***

Michael Moore não menciona, mas a CBS também deu a notícia sem apurar:

Katie Couric (CBSNews): Reportamos ontem [17/12] que Cuba proibiu Sicko, de Michael Moore, porque o documentário mostraria um sistema de saúde tão bom que faria o povo cubano rir ou ficar zangado – era o que dizia telegrama do Depto. de Estado liberado por Wikileaks e publicado pelo Guardian. Agora [18/12], Moore (um dos maiores financiadores de Assange) divulgou longo desmentido (http://bit.ly/gusZxA). Ele afirma que "toda a nação cubana viu o filme na TV nacional em 25 de abril de 2008!” Os cubanos abraçaram o filme de tal modo que se tornou uma das raras fitas americanas exibidas nos cinemas do país". Ele conclui: “Acho melhor vocês me atacarem pelo fato de que meus filmes passam em Cuba! Viva WikiLeaks!" (via The Nation) (N.T.)

domingo, 19 de dezembro de 2010

O caso Wikileaks bem explicadinho

Anda com preguiça de acompanhar o caso Wikileaks porque não pegou do princípio? Pois aqui está uma consolidação de todo o episódio, um trabalho maravilhoso do Passa Palavra:

WikiLeaks e os conflitos no ciberespaço: Parte 1

sábado, 18 de dezembro de 2010

Imprensa americana, essa covarde

Traduzi ontem, sexta, 17/12, um texto publicado em The Daily Beast com o título "Bradley Manning's Prison Hell". Traduzi ao pé da letra, "A prisão infernal de Bradley Manning.

Qual não foi minha surpresa (não pude evitar esse clichê!) ao ver agora de madrugada, quando entrei no site para ler nem me lembro mais o que, o título "Bradley Manning's Life Behind Bars"! Olhem só:



A sorte é que a bruxa velha aqui guardou o mail deles com o título original:



Covardia pura e simples dessa imprensa desclassificada. Certamente Tina Brown recebeu uma ligaçãozinha de Washington e se apressou em mudar o título. Evelyn Waugh -- que inspirou o nome do site -- deu um salto carpado e grupado na cova!

Essas imagens estão registradas na minha conta do Twitpic (devidamente tuitadas) e amanhã farei  pequena razzia com elas sobre esses fariseus.

***
Matéria boa mesmo sobre as torturantes condições da prisão de Bradley Manning (que também traduzi) está aqui.

***
O arquivo Wikileaks/VilaVudu já tem mais de 40 textos.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Um já está solto


Foto: Ravi Somaiya/Alan Cowell (NYT)

Julian Assange livre, agora falta o outro! Confinado em solitária 23 horas por dia! Aos 22 aninhos. Free Bradley Manning!

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Por que "PIG"? Porque sim.

A matéria abaixo saiu no site do PT, que tirou da Folha. Não parece filme de ficção? Serra consegue ser vulgar até numa "esperável" cena de entreguismo explícito... Mas, sinceramente, o pior pra mim é o título da Folha: "Petroleiras americanas eram contra novas regras para pré-sal". (Ah, o Globo também elidiu o principal! Claro...) Agora me expliquem, por que destacar o óbvio se a notícia, a bomba é a posição do candidato? Se o candidato fosse a Dilma, isso não seria manchete garrafal? Este exemplo sozinho serve pra mostrar que a palavra PIG é correta para descrever a imprensa brasileira. E continua valendo agora, no pós-eleição.


***

Serra queria entregar pré-sal a empresas norte-americanas, revela WikiLeaks


As petroleiras americanas não queriam a mudança no marco de exploração de petróleo no pré-sal que o governo aprovou no Congresso, e uma delas ouviu do então pré-candidato à Presidência José Serra (PSDB) a promessa de que a regra seria alterada caso ele vencesse.  É isso que mostra telegrama diplomático dos EUA de dezembro de 2009 obtido pelo site WikiLeaks (www.wikileaks.ch). A organização teve acesso a milhares de despachos.

"Deixa esses caras [do PT] fazerem o que eles quiserem. As rodadas de licitações não vão acontecer, e aí nós vamos mostrar a todos que o modelo antigo funcionava... E nós mudaremos de volta", disse Serra a Patricia Pradal, diretora de Desenvolvimento de Negócios e Relações com o Governo da petroleira norte-americana Chevron, segundo relato do telegrama.

O despacho relata a frustração das petrolíferas com a falta de empenho da oposição em tentar derrubar a proposta do governo brasileiro. O texto diz que Serra se opõe ao projeto, mas não tem "senso de urgência". Questionado sobre o que as petroleiras fariam nesse meio tempo, Serra respondeu, sempre segundo o relato: "Vocês vão e voltam".

A executiva da Chevron relatou a conversa com Serra ao representante de economia do consulado dos EUA no Rio. O cônsul Dennis Hearne repassou as informações no despacho "A indústria do petróleo conseguirá derrubar a lei do pré-sal?".

O governo alterou o modelo de exploração - que desde 1997 era baseado em concessões -, obrigando a partilha da produção das novas reservas. A Petrobras tem de ser parceira em todos os consórcios de exploração e é operadora exclusiva dos campos. A regra foi aprovada na Câmara este mês. (Com informações do jornal Folha de S.Paulo)

***

Agora leia isso aqui, no Diário Liberdade: WikiLeaks e PiG: As mentiras sobre as verdades. É uma perfeição. (Copiei a imagem de lá.)

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Mundo volúvel!

Começa a pipocar aqui e ali acusação em cima de acusação contra Julian Assange. O Openleaks, a ser lançado na semana que vem, é dissidência do Wikileaks contra o "imperador", para "gerenciar, e não "manipular" os vazamentos; Assange tentou fazer leilão dos telegramas, Assange fez isso, Assange fez aquilo...

Os heróis da era digital duram tanto quanto as baterias.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Em nome do Wikileaks, FOGO!


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E assim começou a mais louca, a mais justa, a mais incrível das guerras, a Primeira Guerra Mundial Digital: um número indeterminado de computadores de hacktivistas solidários a Julian Assange miraram no site do Visa, dispararam seus canhões de ddos e o derrubaram em 23 segundos! Por quê? Visa é uma das empresas que de alguma forma prejudicaram Wikileaks. No ataque ao Postfinance, o banco suíço que congelou as contas do site, foram usadas mais de 500 máquinas no voluntário DDoS botnet (LOIC HIVEMIND). O banco ficou 16 horase 30 minutos fora do ar.

@Stanley Burburin, que apresentou a seus seguidores o autor da ordem para o ataque (@Anon_Operation, que poucas horas depois mudou para @AnonOperation), explica: O LOIC (Low Orbit Ion Canon) é uma ferramenta desenvolvida pelos atacantes para realizar seus ataques DDoS.


DDoS = Distributed Denial of Service.

Marco posta lá no Facebook às 20h45: "@stanleyburburin: Galera, neste momento no canal IRC dos hackers da Anon.net estão 1 bilhão de pessoas. Isso mesmo: 1 bilhão." O próprio Stanley disse depois que devia haver muito bot (scripts automatizados, como robôs) para replicar o ddos. U-A-U.


Twitter banned @. Replacement acct is @.

Durou pouco. Banido também. A nova conta [às 23h16] é @AnonOpsNet

O espanto era geral: Bloody hell! @anon_operation takes down mastercard, visa, a Swiss bank, the Swedish prosecution, and Lieberman's site. In 24 hours? Whoa!, comentou um seguidor.

Logo o Facebook removia a página deles!

Vou te contar! Não brinquem com os hacktivistas não!

Volto a tratar disso, por enquanto é muito recente!

***

Barlow dá o nome certo: "A primeira infoguerra séria começou agora. O campo de batalha é o Wikileaks. E vocês são os soldados." Tá lá no Clipping do Mário.

***
À uma da manhã caía o PayPal.

Olhem a ordem de fogo:

Operation Payback
Target: www.Paypal.com FIRE NOW!!!!!!


À 1h08, a ordem era manter o fogo, com um link para verificação de acessibilidade dos servidores em Amsterdam, Hong-Kong, Colônia, Nova York, Estocolmo, Vancouver, Londres, Padova -- "but keep firing":

Operation Payback
Check it but keep firing.

***
Frios, disciplinados e efetivos. Dá um filmaço, isso!

***
E o PayPal recua, uma hora antes do ataque.  (Já era tarde...)

***
E com essa eu vou dormir (2h15), porque fiquei esgotada!

***

Hoje é quinta, 9/12

Os ataques no Vermelho, com muitos detalhes.

Os ataques na Folha.

Os ataques no Huffington Post, bem completo.

***
No Twitter, pouco depois do meio-dia:

Operation Payback
by stanleyburburin
 
TARGET: WWW.AMAZON.COM LOCKED ON!!! INSTRUCTIONS: <-- IGNORE THE WARNING!

Wikileaks em português

Além da Natalia Viana no Opera Mundi e na Carta Capital, o Coletivo VilaVudu também traduz os telegramas do Wikileaks e artigos publicados na mídia internacional.

Aqui no Googledocs, num arquivinho modesto que montei, ou aqui no Delicious e ainda aqui no Diigo, ambos organizados pelo amigo Jorge Henrique Cordeiro.

Já temos mais de 50 textos publicados. Tudo ali no alto da coluna da direita.

Isso é (muito) cabeludo

Wikileaks: Lula pressionou EUA por fim de embargo à venda de aviões à Venezuela

Documento vazado pelo site Wikileaks revela que, quatro anos após ter a venda de aviões Super Tucanos da Embraer à Venezuela vetada pelos Estados Unidos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva continuou a pressionar Washington para reverter a decisão. Os aviões de treinamento militar têm tecnologia norte-americana e a comercialização depende de aprovação por questões de transferência de tecnologia.

Em 2006, quando o presidente venezuelano, Hugo Chávez, denunciou que os EUA estavam ameaçando o Brasil para que não negociasse os aviões com a Venezuela, o governo norte-americano declarou que estava exercendo sua prerrogativa em relação à Lei de Controle de Exportação de Armamentos dos EUA. Essa lei exige licença específica para a exportação de equipamentos com tecnologia norte-americana.

Conforme noticiado pelo jornal O Globo, que teve acesso ao documento, em encontro de despedida do embaixador Clifford Sobel em Brasília, no ano passado, Lula reclamou que, enquanto os EUA facilitaram a venda de aviões na América do Sul para a Rússia e a China, desfavoreciam o Brasil.

***

E ainda tem quem defenda a compra dos caças americanos -- para que descansemos com bonitas e reluzentes caixas-pretas encalhadas aqui, sem poder vender a ninguém! Decisão que, por sinal, ficará para a Dilma. Imagine-se a pressão que o Lula encarou... Resta esperar que esse "estreitamento de laços" com os EUA prometido pela Dilma na entrevista ao WPost não comece por essa concessão.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Mais sobre Wikileaks de VilaVudu!

Rachaduras na selva de espelhos

4/12/2010, Pepe Escobar, Asia Times Online


[Pessoal, lá já dia 4!]

A tentação de ver WikiLeaks como um paraíso artificial neo-Baudelaireano – casamento de anarquismo libertista e ciber-conhecimento – não poderia ser maior ou mais sedutora. Agora, não mais de 40 pessoas auxiliam o fundador Julian Assange, mais 800 que trabalham por fora.

Tudo isso, um orçamento anual de 200 mil euros (264 mil dólares) – e uma base nômade. O porta-voz Kristinn Hrafnsson insiste que WikiLeaks continua a ser um “portal de vazadores”, que não identifica suas fontes as quais, muitas vezes, são desconhecidas. Lá se encontra vazador que mostre que o imperador está nu – assim como qualquer um, Osama bin Laden ou outro, conseguiu inaugurar a verdadeira “nova ordem mundial” dia 11/9 com 500 mil dólares.

Para Daniel Ellsberg, que divulgou os “Documentos do Pentágono” em 1971, Assange é um herói. Para vastas porções do establishment nos EUA, ele é hoje o inimigo público n. 1 – como improvável eco de bin Laden. Talvez esteja hoje no sudeste da Inglaterra, acessível à Scotland Yard, e podendo ser preso a qualquer momento por cortesia da Interpol, que expediu mandato de prisão contra Assange por ser procurado na Suécia. O professor canadense Marshall McLuhan deve estar dando pulos na tumba; se o meio é a mensagem e ninguém consegue eliminar a mensagem, de que adiantaria eliminar o meio?

El libro de arena[2]

Examinemos o crime de Assange. Eis o que diz o próprio Assange em “State and Terrorist Conspiracies” [Estado e conspirações terroristas][3]:

Para mudar radicalmente o comportamento do regime, temos de pensar com clareza e firmeza, porque, se aprendemos alguma coisa, é que nenhum regime deseja ser modificado. Temos de pensar além dos que vieram antes de nós, e encontrar mudanças tecnológicas que nos equipem com meios para agir, com os quais os que vieram antes de nós não contaram. Em primeiro lugar, temos de entender qual o aspecto do governo ou do comportamento neocorporativo que desejamos ou mudar ou extinguir. Em segundo lugar, temos de desenvolver um modo de pensar sobre aquele comportamento, suficientemente potente para nos permitir avançar no labirinto da linguagem politicamente enviesada, até uma posição em que possamos ver com clareza. Por fim, devemos usar esses insights de modo que inspirem, em nós e em outros, um curso de ação mais nobre e mais efetivo.

Portanto, Assange vê WikiLeaks como um antivírus que nos deve guiar na navegação através das distorções da linguagem política. Se a linguagem for um vírus que nos chegou do espaço sideral, como escreveu William (Naked Lunch) Burroughs[4], quantos mais segredos se revelem hoje, menos segredos se produzirão no futuro, até zero-segredos, WikiLeaks pode ser o antídoto. Basicamente, Assange crê que a revelação cumulativa de quantidades enormes de segredos levará ao fim dos segredos, no futuro. É uma visão romântico-anarco-utopista.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Twitcam de Idelber Avelar sobre Wikileaks

VilaVudu ataca outra vez!

WikiLeaks: De que ‘diplomacia’ afinal se trata, nos EUA?

29/11/2010, Norman Solomon, Commondreamsx
 
Comparados aos telegramas secretos que WikiLeaks acaba de partilhar com o mundo, todas as declarações de autoridades ao público são meros exercícios de fazer-crer.
 
Em democracias, as pessoas têm direito de saber o que realmente o governo faz. Em pseudo-democracias, quaisquer contos de fadas narrados por autoridades e repetidos nos jornais e televisões dão para o gasto.
 
Fachadas ditas ‘diplomáticas’ muitas vezes são apresentadas como se fossem fatos. Mas vez ou outra a máscara cai – para que o mundo inteiro veja –, o que acaba de acontecer nesse descomunal vazamento de telegramas do Departamento de Estado.
 
“Estados são entidades governadas por mentirosos”, observou I.F.Stone, jornalista independente. “Ninguém deve acreditar em mentirosos.” A extensão e a gravidade das mentiras variam de governo a governo – mas nenhum ‘pronunciamento’ das capitais mundiais deve ser levado a sério.
 
Quanto aos EUA, o governo está em guerra há mais de nove anos, ainda sem data para terminar. Como o Pentágono, o Departamento de Estado só trabalha para atender os interesses do estado de guerra. Militares e diplomatas são peças móveis dessa mesma vasta máquina de guerra.
 
A guerra exige pesadíssimo escudo de meias mentiras, totais mentiras, mentiras desavergonhadas, falsidades. Com o esforço de guerra em plena arrancada, as contradições entre o que o público sabe e os objetivos jamais revelados – ou entre a retórica grandiloquente e as terríveis consequências humanas – não sobrevivem à luz do dia.
 
Detalhes de tenebrosas transações e alianças entre Washington e ditadores assassinos, tiranos corruptos, senhores-da-guerra, traficantes, estão entre os mais bem guardados desses quase-segredos. Praticamente tudo que a mídia publique pode ser manipulado ou descartado pelas autoridades, mas telegramas diplomáticos divulgados antes de baixar a poeira das últimas mortes são mais difíceis de ignorar.
 
Por causa da massiva dependência absoluta da força militar – o que resulta sempre em crescente carnificina e num rastro de luto e fúria, no Afeganistão, no Paquistão e por toda parte – o governo dos EUA tem buracos colossais entre o que contam os roteiros dos publicitários e de ‘relações públicas’ e as realidades da guerra e do fazer guerra.
 
O mesmo governo que dedica quantidades tremendas de recursos para continuar a empregar violência militar em distantes pontos do mundo é obrigado a zelar atentamente pela própria credibilidade e decência, no trato com o ‘público nacional’, conosco, os que vivemos nos EUA. Mas essa tarefa, que cabe essencialmente aos ‘Relações Públicas’, vai-se tornando cada vez mais difícil, quando acontece de documentos do próprio governo dos EUA continuarem vazando e vazando e, todos, com informações diferentes das que conhecemos por aqui.
 
Nenhum governo deseja encarar documentos reais de políticas reais, objetivos, prioridades, que contradigam frontalemente todos os protestos de alta virtude do próprio governo. Em sociedades nas quais se respeitem as liberdades democráticas, os governos que mais têm a temer de vazamentos reveladores são os que mais e por mais tempo tenham mentido aos seus próprios cidadãos.
 
Os recentes vazamentos de WikiLeaks são especialmente terríveis, por causa dos contrastes extremos que se veem entre o que os representantes dos EUA dizem aos cidadãos norte-americanos e o que realmente fazem. Estranhamente, a reação padrão daqueles representantes e governantes dos EUA é culpar quem divulgou os fatos.
 
“Condenamos nos termos mais vigorosos a distribuição não autorizada de documentos secretos e informação sensível de nossa segurança nacional” – disse a Casa Branca no domingo.
 
E o senador Joseph Lieberman denunciou “ação vergonhosa, ignóbil, desprezível, que reduz a capacidade de nosso governo e de nossos parceiros trabalharmos juntos para defender nossos interesses vitais”. Para garantir, também escreveu pelo Twitter: “A divulgação deliberada dos telegramas, por WL, é nada menos que ataque direto à segurança nacional dos EUA.”
 
Mas... que tipo de “segurança nacional” se pode esperar, construída de tantas mentiras? Que segurança alguma nação poderia obter, de governo que é desmentido e desacreditado por documentos que ele mesmo escreve, assina, depacha e lê?
 
+++++++++++++++++++++++++++
Norman Solomon é jornalista, escritor e historiador. Trabalha hoje na Commission on a Green New Deal for the North Bay, www.GreenNewDeal.info.

Um ministro malcomportado

Wikileaks põe Nelson Jobim na maior saia justa. Olhem os tuítes do Ministério da Defesa:


***

Em documentos confidenciais, EUA atacam soberania do Itamaraty

Seis telegramas confidenciais de diplomatas dos Estados Unidos indicam que a Casa Branca considera o Ministério das Relações Exteriores do Brasil como um adversário que adota uma "inclinação antinorte-americana". Segundo esses documentos, os EUA enxergam o ministro da Defesa, Nelson Jobim, como “talvez um dos mais confiáveis líderes no Brasil”, em contraposição ao “quase inimigo” Itamaraty.

Não há nos telegramas confidenciais nenhuma menção a atos ilícitos nas relações bilaterais Brasil-EUA. São apenas descrições de encontros, almoços e reuniões. Os telegramas fazem parte de um lote de 1.947 documentos elaborados pela Embaixada dos Estados Unidos em Brasília, sobretudo na última década. Os despachos foram obtidos pela organização não-governamental WikiLeaks, que divulgará as íntegras desses papéis nesta terça-feira (30).

Num dos telegramas, de 25 de janeiro de 2008, o então embaixador dos Estados Unidos em Brasília, Clifford Sobel, relata aos seus superiores como havia sido um almoço mantido dias antes com Nelson Jobim. Nesse encontro, o ministro brasileiro teria contribuído para reforçar a imagem negativa do Itamaraty perante os americanos.

Indagado sobre acordos bilaterais entre os dois países, Jobim citou o então secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores, Samuel Pinheiro Guimarães. Segundo o relato produzido por Sobel, "Jobim disse que Guimarães 'odeia os Estados Unidos' e trabalha para criar problemas na relação [entre os dois países]".

Ao mencionar um acordo bilateral, Sobel diz que caberá ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidir entre as posições de um "inusualmente ativo ministro da Defesa interessado em desenvolver laços mais próximos com os EUA e um Ministério das Relações Exteriores firmemente comprometido em manter controle sobre todos os aspectos da política internacional".

Num telegrama de 13 de março de 2008, Sobel afirma que o Itamaraty trabalhou ativamente para limitar a agenda de uma viagem de Jobim aos Estados Unidos. Ao relatar a visita (de 18 a 21 de março de 2008), os americanos pareciam frustrados: "Embora existam boas perspectivas para melhorar nossa relação na área de defesa com o Brasil, a obstrução do Itamaraty continuará um problema".

Caças da FAB

Apesar de elogiado, Jobim nunca apresentou em reuniões nenhuma proposta especial aos Estados Unidos a respeito da licitação dos 36 aviões caça que serão comprados pela Força Aérea Brasileira. Em todos os relatos confidenciais os diplomatas americanos em Brasília mencionam frases de Jobim que coincidem com o que o ministro declarou em público.

Em uma ocasião, por exemplo, os americanos escrevem: "Compras de fornecedores dos Estados Unidos serão mais competitivas quando [o país] autorizar uma produção brasileira de futuros sistemas militares". O Departamento de Estado norte-americano se recusou a comentar as comunicações sigilosas. Uma porta-voz do departamento enfatizou que os países mantêm boas relações.

Da Redação, com informações da Folha de S.Paulo

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Boa semana. Se der.


Marco resumiu: Daniel Ellsberg 2.0

O Wikileaks caiu, segundo o Marco. Não deve estar suportando a carga de acessos!
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