quinta-feira, 23 de outubro de 2008

História pungente

A tradução é vagabundinha, a começar pelo título, que no original – "Moved by a Crescent" – é repleto de significados (pode ser comovido por um Crescente, o símbolo islâmico, mas também empurrado por algo progressivo, os ataques da chapa republicana). Enfim, a história é pungente. Até sobra pro Obama, mas fazer o quê? Tá pisando mesmo... Essa articulista do New York Times é bem boa. Por isso, deixo no pé o link para o original. Basta se cadastrar para acessar.

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Colin Powell e o soldado Khan

Maureen Dowd

Colin Powell tem se sentido incomodado com muitos atos de seu partido nesta campanha: os insidiosos rumores de que Barack Obama era muçulmano, com insinuações de que seria simpatizante de terroristas; a insistência de que Sarah Palin está qualificada para ser presidente; o xerife que ao apresentar Sarah desdenhou de Barack Hussein Obama; o argumento republicano de que usar impostos para "distribuir a riqueza" era socialismo, quando o objetivo dos impostos é distribuir a riqueza; a noção de Sarah de que as pequenas cidades que votaram em George W. Bush são "a verdadeira América".

Mas o que o fez compreender que tinha de vir a público foi quando abriu a New Yorker três semanas atrás e viu a foto de uma mãe com a cabeça encostada na lápide do filho, um soldado de 20 anos morto no Iraque. Na lápide estava gravado seu nome, Kareem Rashad Sultan Khan, suas condecorações – o Coração Púrpura e a Estrela de Bronze – e um crescente e uma estrela simbolizando sua fé islâmica. "Olhei para a foto por uma hora", ele me disse. "Quem pode dizer que esse menino enterrado em Arlington com cristãos e judeus e companheiros sem religião não era um bom americano?"

Khan era totalmente americano. Amava os Dallas Cowboys e jogava videogame com sua meia-irmã de 12 anos, Aliya. Seu pai contou que Kareem queria se alistar desde os 14 anos e que ficou revoltado com os ataques do 11 de Setembro. "Sua fé não o demoveu da idéia de ir para o Iraque", disse Feroze Khan ao Gannet News Service. "Ele se via como um americano e com um trabalho a fazer".

Colin Powell foi ao Meet the Press no domingo e falou sobre Khan, na forma como McCain e Palin têm polarizado o país na tentativa de serem eleitos. Foi revigorante ver alguém contra-atacar essas insinuações.

Mesmo a campanha de Obama tem evitado os muçulmanos. O candidato tem ido a sinagogas, mas não a mesquitas, e houve constrangimento quando foi divulgado que sua campanha não permitira que duas mulheres com véu islâmico ficassem atrás de Obama durante um comício em Detroit, porque assessores não queriam que elas fossem mostradas na TV.

O ex-secretário de Estado tem lidado com preconceito em sua vida, dentro e fora do Exército, e sabe que milhões de muçulmanos no mundo se sentem ofendidos com a campanha feita contra Obama. Ele ficou preocupado ao ouvir republicanos dizerem "Vocês sabem que Obama é muçulmano?" "Bem, ele é cristão. Mas a resposta correta, na verdade, é: e se fosse? Há algo errado em ser muçulmano neste país? A resposta é não. Há algo errado em uma criança americana muçulmana de 7 anos acreditar que ele ou ela pode ser presidente?"

Powell recebeu uma nota de Feroze Khan agradecendo por dizer ao mundo que americanos muçulmanos são tão bons quanto qualquer outra pessoa. Mas também recebeu e-mails insistindo em que Obama é muçulmano e chamando-o de inconstitucional e contra a Bíblia por ousar apoiar um socialista. Powell despreza aqueles que dizem que seu apoio se baseia na raça. E se ofende quando sugerem que sua aparição no domingo foi uma expiação pelo Iraque.

Ele viu George W. Bush dizer em 2000 que sua falta de experiência em política externa não importaria porque estaria cercado de profissionais, e usa o mesmo argumento agora para Obama. "Experiência ajuda, mas é a capacidade de julgar que conta".

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Publicado no New York Times (21/10); reproduzido no Globo (22/10). A foto é de Fred R. Conrad/The New York Times

2 comentários:

Anônimo disse...

Lá como cá, quando alguém, como Obama, se propõe a diminuir as explorações do capital sobre o povo é demonizado.
Parece certo que o Obama vai ganhar, mas tremo, como tremi aqui, com o que vai acontecer com o governo dele sob a pressão dos conservadores. No mínimo vão acusá-lo de medroso por não chutar o pau da barraca. Os fundamentalistas são um atraso de vida venham de onde vier.

Anônimo disse...

Por favor, corrijam o texto para: Os fundamentalistas são um atraso de vida venham de onde vierem.

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