"Adeus aos meus velhos amigos da esquerda radical...". Li esse texto no DailyKos, que é um blog de esquerda, e fiquei encantada. Explica o ceticismo em torno do Obama e explica mais ainda a má vontade em torno do Lula. Não traduzi literalmente, fui cortando enquanto traduzia, mas o sentido está aí.
São, na verdade, dois textos: o principal é de mka193 -- ele só se identifica por este username --, que cita outro, "Enough of 'Barbituate' Left Cynicism" (chega do barbitúrico cinismo da esquerda), de Tim Wise, um sujeito realmente espantoso (veja por que no post acima). Bom, eis trechos do texto de mka193, com excertos de Wise:
"Depois que Barack venceu, um amigo me contou uma história sobre um cidadão progressista que ambos respeitamos. Perguntaram o que ele achava da vitória e que conselho daria a Barack sobre o governo. A pessoa respondeu: "Bem, por que ele haveria de ouvir meu conselho? Se ele tivesse me ouvido dois anos atrás não teria concorrido e não teria vencido".
Isso me impressionou. Resume um truísmo sobre os amigos da minha comunidade. Tanta gente tem sido tão negativa nos últimos 15 dias que nada pode crescer. A construção de um movimento é impossível se o negativismo é sempre automático.
Ontem li um ensaio de Tim Wise (um dos meus pensadores favoritos) que traduziu meu mal-estar. Você sabe o que é se sentir entendido? Bem, esse artigo brilhante, "Enough of 'Barbituate' Left Cynicism", me ajudou a expressar meus sentimentos. Muitos velhos amigos meus tentaram "roubar" minha alegria nestas três semanas depois das eleições. No início, foi fácil ignorar, mas logo ficou claro que o negativismo e o pessimismo estavam pesando. Wise diagnosticou o problema:
Pelo bem da pureza ideológica poucos na esquerda profissional expressaram alegria ou emoção que não estivesse enraizada no negativismo. Eles equivalem na política aos sedativos depressivos: tiram qualquer sombra de otimismo que você por acaso sinta.
Ainda o texto do Wise:
A ausência de humor na esquerda -- à qual ainda me sinto ligado ideologicamente, se não organizacionalmente -- sempre me impressionou como uma de suas maiores fraquezas. As pessoas gostam de rir, de estar alegres, e uma enorme quantidade de esquerdistas empedernidos parece quase totalmente incapaz disso. Como se tivessem feito um juramento de que não deve haver risada na revolução. Nada positivo, nenhuma esperança, nenhuma felicidade enquanto houver gente pobre e explorada, morta pela polícia, vitimada pelo militarismo americano, escravizada pelo capital global, comendo carne ou dirigindo carros. E ainda perguntam por que a esquerda é tão fraca.
Em algum momento a esquerda vai ter que abandonar seu caso de amor com a marginalização. Temos que parar de nos comportar como fãs de bandas de garagem que de repente começam a fazer sucesso, e pronto, se venderam, segundo a idéia de que se o povo gosta não pode ser importante e que a obscuridade é a medida da verdade. Desconstruir a psicologia por trás dessa pose seria fascinante.
A conclusão de mka193:
Continuo zangado com as injustiças, e ainda assim preciso manter minha alegria. Vou continuar com meu ceticismo sem sucumbir ao cinismo. Criei uma organização que apóia jovens líderes comprometidos com a educação e um dos meus objetivos é difundir o otimismo. Infelizmente, terei que dizer adeus aos velhos amigos para poder manter minha alegria."
Agora, sou eu de novo: isso foi uma lição pra mim, juro. Chega, não xingo mais o Lula (bem, só um pouquinho). E já que otimismo é fundamental, que tal ver umas fotos ma-ra-vi-lho-sas do Barack Obama visitando ontem uma escola primária e uma igreja que alimenta pobres? Uma amostrinha ao lado.
4 comentários:
Não tenho bola de cristal, apenas sou mais cínica (ou pragmática) que vc. Dá uma olhadinha nos comentários que fiz logo após a eleição no seu blog e no da Folha, ou nos e-mails que trocamos. Amiga, vc sempre e continua sendo uma romântica!
Faltou aí em cima o "foi" e continua sendo
Tb ficou faltando: NÃO MUDE JA-MAIS!
ah bom!
Postar um comentário