sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Iraque: 1 milhão de civis mortos

O Iraq Body Count, que todo mundo considera uma iniciativa de grande humanismo, calcula 98 mil mortos (no máximo) desde a invasão do Iraque, em 2003. A Fair criticou o Washington Post por usar essa contagem das baixas e o jornal concordou. Hoje o Daily Kos volta a um assunto de que tratou na semana passada -- os 25 fatos mais mal cobertos segundo o Project Censored. O primeiro fato mais subnoticiado (#1 Most Underreported News Story): o número real de civis mortos no Iraque pode superar 1 milhão.

Isso é muito complicado para os americanos, completos avestruzes no que se refere a atrocidades cometidas por suas forças armadas, enquanto são pródigos em denunciar atrocidades alheias. Reconhecer que praticam genocídio é difícil até para os leitores (presumivelmente) de esquerda do Daily Kos, como se pode ver pelos comentários feitos ao texto. Um deles, acho que logo o primeiro, diz que não acredita nesses números, e que 100 mil já seria barbaridade suficiente -- no que não está errado, lógico! Acontece que a diferença entre 100 mil e 1 milhão é justamente essa palavrinha, genocídio. Ruanda, lembra o texto do DK, calcula em até 900 mil o número de tutsis assassinados em Ruanda pelos hutus em 1994. E lembro eu que o mundo não só demorou a socorrer as vítimas, como custou a empregar a palavra genocídio nesse evento trágico (se não me engano, a Christiane Amampour, da CNN, vai fazer um programa sobre essa enorme dificuldade de a "comunidade internacional" -- leia-se ONU, governos etc. -- reconhecer genocídios especialmente em países pobres).

DK destaca que Just Foreign Policy computa 1,2 milhão de mortos no Iraque. Como? Usando como base estudo epidemiológico da Lancet de 2006 -- que o Pentágono rechaçou, claro): na época, os mortos seriam 600 mil. Ocorre que a metodologia foi a mesma usada em Kosovo, perfeitamente aceita pelos americanos! Na minha humilde, se o número de mortos no Iraque for mesmo de 1 milhão, e não de 100 mil (!!!), será impossível não levar George W. Bush, Karl Rove, Donald Rumsfeld e outros falcões da guerra e neocons militaristas a julgamento por crimes contra a humanidade.

Para nossa sorte, os americanos são um povo que conta tudo -- por dinheiro ou compaixão. Assistir à minissérie Generation Kill, que narra o avanço dos americanos Iraque adentro em 2003, chega a ser um ato político. Os civis morrem como moscas. Os soldados da companhia Bravo são desarvorados, mal comandados e, alguns, sedentos de sangue: matam tudo o que se mexe, por medo ou raiva. De camelos a menininhas.

A série, lançada este ano, passa na HBO às segundas, 21h. O próximo capítulo, o 5o, mostrará a chegada a Bagdá. Tremo só de imaginar o que vai ser.

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A idéia de levar todos os warhawks de Bush aos tribunais é puro wishful thinking meu. Os EUA nem sequer são signatários dos acordos que criaram os tribunais internacionais.

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