Li um perfil incrível deste homem aí da foto, o correspondente de guerra da CNN Michael Ware, 39 anos (parece ter 50). O texto -- CNN’s Prisoner of War -- é de Greg Veis, para a Men's Journal.
Não sei quantas vezes já disse esta palavra aqui no blog, mas é impressionante. A matéria não é sobre a guerra no Iraque, mas sobre o efeito da guerra na cabeça, nos nervos, na vida do cara, que já foi caçado, ferido, sequestrado, avisado de que filmaria a própria execução... tudo.
Tenho tentado convercer a Sunny a assistir à minissérie Generation Kill, da qual já tratei aqui. Mas ela argumenta que não gosta de filme de guerra. Desde os anos 50 que não se faz mais filme de guerra; os filmes são sobre os homens na guerra, e isso evoluiu de maneira magnífica. O auge é Generation Kill, a melhor coisa que já vi depois de The Sopranos (só podia ser da HBO). A jornada dos rudes marines americanos Iraque adentro é de metamorfose. Cada um deles vai forjando a duras penas sua humanidade, com avanços e retrocessos, suas alminhas castigadas pelo medo, as incertezas, as descobertas. Eles estão quase virando gente. É porque chegamos ao episódio 7, talvez um dos últimos (vai ficar um vazio...).
Até o repórter embedded na unidade vai mudando, perde arrogância, ganha caráter. No episódio 6, chega a ordem para a troca de fardas: todos devem tirar a camuflada verde, especial para armas químicas de destruição em massa, e vestir a camuflada comum, cor de areia.
-- Mas... mas se vamos trocar de farda é porque não acharam armas de destruição em massa!, diz o correspondente, boca aberta, olhos arregalados.
-- E daí?, responde um dos soldados no Humvee.
-- Você não percebe? Se não há armas de destruição em massa, por que estamos aqui?
-- Para matar, cara. Estamos aqui para matar.
O Michael Ware da CNN, experiente, já descobriu essas coisinhas da vida há tempos. E olhe que falam mal dele à beça no texto, ele tem convicções pessoais bem discutíveis, mas e daí?, pergunto, quem sou eu para contestar um homem que viveu o que ele viveu?
Não percam. O livro (ops, o texto) e o filme (ops, a minissérie).
Um comentário:
To kill, and more often to die off
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