segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Uma equipe universalista

"Obama's 'Third Culture' Team" (a equipe de Terceira Cultura de Obama) é um excelente artigo no Daily Beast de Ruth E. Van Reken, especialista no assunto. Trata dos futuros integrantes da equipe de Obama que, como ele, foram TCK (third culture kids): cresceram ou passaram boa parte da vida fora dos Estados Unidos. Tendo convivido com diferentes culturas, algumas em conflito, essas pessoas constroem uma terceira, sinérgica, que lhes dá a capacidade especial de pensar mais universalmente, e não apenas localmente. (Isso faria imensa diferença nesse governo, em comparação ao do cowboy isolacionista que se comporta como se jamais tivesse saído do Texas. )

Não sei se temos uma expressão para isso, temos, Vera? "Terceira Cultura" não me soa usual, mas não consegui achar a certa. Em resumo, é uma formação intercultural. A conselheira Valerie Jarrett foi criada em Teerã e Londres, o secretário do Tesouro, Tim Geithner, em meio mundo -- África, Índia, Tailândia, China e Japão, filho de executivo da Ford Foundation; o conselheiro de Segurança Nacional, James L. Jones, em Paris; Bill Richardson, secretário de Comércio, na Cidade do México. Um leitor, nos comentários, acrescentou: o pai de Rahm Emmanuel, da Casa Civil, nasceu em Israel; Eric Holder, da Justiça, tem pai e avós nascidos em Barbados; o pai do conselheiro Greg Craig foi do Peace Corps; os avós de Tom Daschle eram alemães de origem russa.

A autora lembra que isso pode ser causa de sofrimento para a criança, mas ao superar se torna um adulto tolerante com a diversidade. Ex-colegas de Obama em Harvard se lembram dele como grande mediador de divergências.

A extrema-direita americana -- e na campanha também o fazia o até então "moderado" John McCain -- "acusa" Obama de "exotismo". Justamente um trunfo adicional.

***
Acabo de ver o anúncio da equipe de segurança de Obama. Não há novidade, todos os jornais já deram os nomes. Hmmm... Ao lado de palavras como "diplomacia, colaboração internacional e trabalho em conjunto", ouvi "liderança global, poderio militar, nossos valores" -- expressões comuns nestes últimos oito anos. Fiquei cabreira.

7 comentários:

Anônimo disse...

Mari, parece que o descrito tem um sentido multicultural, então "Obama's 'Third Culture' Team" poderia ser traduzido por "Equipe Multicultural de Obama".
Pensei inicialmente em transcultural, mas isto seria mais do que ser tolerante com diferenças, vivenciar três culturas etc; transcultural teria o sentido de transcender ao material das culturas humanas e extrair delas o sentido principal do modo de viver humano.
Então achei que multicultural teria o sentido aplicado na expressão e, psicologicamente, produziria este comportamento nas pessoas com esta vivência.
Como não sou especialista, seria bom consultar um antropólogo que teria o termo mais acertado.

mari disse...

Mas o tal TCK (third cultural kid) é um campo específico da psicologia, nao? Pensei que já houvesse estudos aqui sobre isso e já se tivesse criado a expressão. A autora do texto é especialista em aconselhamento de famílias que enfrentam essa experiência, que pode ser traumática, entãio achei que se tratava de psicologia.

mari disse...

Ah, sim, porque em matéria de tradução acho que a melhor mesmo é intercultural. Mas não era a exata tradução que eu procurava, e sim o nome disso aqui no Brasil. Acho que deve ser TCK mesmo, né?

Os brasileiros antigos traduziam as coisas numa boa, no sentido exato mas com nossas palavras. Hoje, tudo é simplesmente assimilado. Já vem embrulhadinho até com a sigla. Não é uma pena?

Anônimo disse...

Mari, eu não conheço esta espressão nem esta autora. Há 4 anos não trabalho com crianças. Penso que esta autora deve ter feito alguma pesquisa longitudinal sobre isto, mas vou dar uma olhada na Internet e ver se alguém se refere a isto.

mari disse...

Tem vários livros publicados a respeito.

sunny disse...

MAri, a Vera tem razão YCK é coisa de antropólogo. Tv o Gilson - sociólogo - conheça uma expressão adequada, para o que seria respeito à alteridade. TCK, sem dúvida, é coisa de gringo acadêmico.

mari disse...

gente, antropólogo não faz acompahamento de famílias para ajuda a crianças TCK; pode haver uma ação inter-setorial aí, mas que o psicólogo entra, lá isso entra. pois se é uma condição que causa sofrimento à criança...!

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