quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Monumento ao cinismo

"Em marcante admissão que contradiz declarações anteriores, Karl Rove, ex-estrategista de George Bush, disse que se o presidente soubesse que o Iraque não tinha armas de destruição em massa não teria ido à guerra". (Íntegra)
Não tem limite a cara-de-pau desse genocida, desse escravo das petroleiras do Texas. E ainda o tratam de "estrategista"... (Anseio falar dessa "ingenuidade" criminosa da imprensa americana, mas cadê tempo?)

Todo mundo conhece a verdade sobre a decisão de Bush de invadir o Iraque mas, se interessar, escrevi sobre isso anos atrás no Observatório, aqui e aqui. Eis um trecho do primeiro texto, "Nós de uma história mal contada", feito em cima de análise do veterano jornalista Michael Massing para The New York Review of Books em fevereiro de 2004, intitulado "Now they tell us" ("Agora eles nos contam"), e com contribuição do Argemiro, que continua arrebentando no blog dele, como não poderia deixar de ser:
Como os jornalistas americanos confiavam demais nas fontes simpáticas ao governo, os repórteres "desconfiados", e eles eram mais do que um punhado, acabaram silenciados. Assim, a cobertura resultou altamente favorável ao discurso da Casa Branca. "Agora [fevereiro de 2004] que os jornalistas se apressam a comentar as falhas do governo deveriam prestar atenção às suas próprias."

Massing começa então a narrar minúcias de todas essas falhas. As mais assustadoras são mesmo as de Judith Miller [adendo de hoje, 3/12/2008: demitida do NYT e atualmente na Fox News!, onde mais???] e Michael Gordon (setorista militar do Times), que montam, matéria-conjetura após matéria-conjetura, com fontes não-confiáveis após fontes não-confiáveis, um quadro dramático de notícias sobre a escalada de Saddam Hussein na construção de seu arsenal de ADM – incluídos aí "detalhes" definitivos sobre uma tentativa de importação de tubos de alumínio reforçado que "só poderiam" servir para uma coisa: centrífugas para enriquecimento de urânio – segundo assessores militares de Bush.

Iniciava-se e completava-se então um aberrante círculo vicioso: os tubos de alumínio soprados aos ouvidos da dupla do Times viraram matéria de primeira página e passaram a ser brandidos por Dick Cheney, Colin Powell, Donald Rumsfeld, Condoleezza Rice e todos os chamados "falcões da guerra" de Bush como "prova" do arsenal de Saddam. Até que, em 12 de setembro de 2002, o próprio Bush, em discurso na Assembléia Geral da ONU, afirmou que o "Iraque fez muitas tentativas de comprar tubos de alumínio reforçado usados no enriquecimento do urânio para uma arma nuclear"!

Para esse canalha, que despejou ódio e mentiras por dois anos -- enquanto durou a campanha eleitoral americana -- e agora desfia mea-culpa como um rosário, inclusive elogiando a equipe de Obama, só mesmo tribunal de crimes de guerra. Mas os americanos, assim como nós aqui com nossos torturadores, não têm colhão pra isso.

3 comentários:

sunny disse...

Só pode ser piada!

Anônimo disse...

BUSH CULPA A CIA E SE
CONFESSA DESPREPARADO


Assinale a única resposta certa. George W. Bush é:
□ A) Cretino
□ B) Cara de pau
□ C) Covarde
□ D) Criminoso
□ E) Todas as opções acima

Quase impossível tirar zero em prova de múltipla escolha que tivesse essa questão. A menos, claro, que o teste fosse destinado aos pouco mais de 20% dos eleitores que ainda aprovam o governo de Bush, apesar de, comprovadamente, ele ter sido o mais desastroso de toda a história dos Estados Unidos. Na mais recente tentativa de sair ileso, George W. Bush jogou na CIA a culpa de ter invadido o Iraque e se disse despreparado para a guerra. Humildade, agora, depois de oito anos de arrogância e prepotência?

Em entrevista à rede de TV ABC, o presidente Bush confessou ao âncora Charles Gibson: “Eu não estava preparado para a guerra do Iraque”.“Ter me fixado na inteligência, que dizia que Saddam Hussein tinha armas de destruição em massa, foi o maior erro da minha presidência. Eu não previ que ia ter de fazer uma guerra e não disse ao eleitor ‘vote em mim porque eu saberei enfrentá-la’. Eu peço desculpas pela crise econômica que está ocorrendo”, afirmou. Admitiu ainda que seu governo ajudou Obama a vencer a eleição. “O eleitor repudiou os republicanos”, lamentou.

Coitadinho. Demorou um ano e oito meses para reconhecer aquilo que em abril do ano passado o ex-diretor da CIA, George J. Tenet, afirmava no livro "At the Center of The Storm" (No centro da tempestade), no qual o autor critica o vice-presidente Dick Cheney e o governo de Bush, afirmando que a invasão do Iraque, em 2003, ocorreu sem um "debate sério" sobre a iminência da ameaça iraquiana, nem mesmo uma "discussão significativa" a respeito de alguma possibilidade de conter o país sem a ação militar.

No livro, Tenet afirma que a CIA alertou Bush sete meses antes da invasão do Iraque de que os EUA poderiam enfrentar conseqüências negativas se optassem pela invasão. Segundo ele, analistas da agência escreveram texto de alerta em agosto de 2002 e o inseriram no relatório distribuído em reunião de Bush com o time de segurança nacional na residência de campo do presidente, em Camp David. O texto previa aumento do terrorismo global contra os EUA e aumento da antipatia islâmica ao país. Alertava ainda para maior instabilidade no Oriente Médio e grandes perturbações no suprimento de petróleo mundial.

Bush e sua turma de neoconservadores fizeram tudo para invadir o Iraque escudados em pretextos. Desde o rígido controle sobre a mídia, ao cerceamento das liberdades individuais, passando por atos arbitrários como o perdão concedido a Lewis "Scooter" Libby (condenado a 30 meses de prisão por ter revelado à imprensa que Valerie Plame era agente da CIA e atingir o marido dela, Joseph Wilson IV, diplomata encarregado de ir a Niger para provar que o Iraque tinha comprado material radioativo destinado a produção de armamento nuclear e voltou com relatório negando isso).

Desrespeitaram a ONU, ignoraram os argumentos da comissão chefiada por Hans Blix e Mohamed El-Baradei, que requeria mais tempo para investigar sobre as tais armas de destruição em massa, atropelaram todos os esforços a argumentos contrários à invasão, até mesmo da própria CIA, que garantia não haver indícios de ligações entre a Al Qaida e o governo de Saddam Hussein. O resultado está aí. Será que o mundo se contenta com essa pálida admissão de culpa?

É mais provável que, num teste, a quase totalidade das pessoas crave a opção E.

mari disse...

Mas muito antes do Tenet a comissão que investigou o 9/11 disse isso tudo, e mais: mandou informes sobre os cursos de piloto que os alqaidistas estava fazendo; mandaram relatório sobre os encontros deles antes de viajarem aos EUA! Tudo, tudinho!

Foi justamente em cima dessa entrevista do Bush que o Karl Rove comentou essa canalhice aí do post

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