quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Zilda, a sanitarista

Eis a mesa com a participação da Zilda (de pé): a foto é de Aristides Dutra

Zilda Arns era uma mulher especial. Pediatra, não foi para o consultório: mergulhou na saúde pública. Fundadora da Pastoral da Criança, cheia de trabalho, teve 5 filhos. Prestigiada internacionalmente, não deitou na fama: no terremoto, estava no Haiti aos 73 anos! Um espanto. Não quero dizer que era uma santa, só que era uma sanitarist. A tal ponto que na 12ª Conferência Nacional de Saúde (Brasília, 2003), pressionada, disse coisas para mim definitivas. Por acaso, fui eu que cobri esse debate e escrevi:
  • “Informar é muito importante, minha gente, quem não se comunica se trumbica”, resumiu Zilda Arns, que fazia perguntas à plateia como num programa de auditório. “O principal é querer fazer, e depois informar”. Ela elogiou o cartão do SUS – “Todo mundo está feliz com ele no Paraná” –, a criação da Ouvidoria do SUS – “Coisa nova, muito boa” — e lembrou que não existe um sistema como o SUS no mundo. “Todos devem levar para casa o dever de difundir a saúde”, recomendou. “É preciso informar sobre as coisas boas, senão os jornais só falam da mulher que pariu na pia.”
Que crítica da mídia, hein??? Pois ela foi além. Depois de sua fala, líderes de ONGs que defendem a prevenção em HIV/Aids mandaram recados contundentes, e muito justificados, diga-se, à CNBB pelas campanhas abomináveis contra o uso da camisinha.
  • Zilda Arns mostrou por que conquista respeito até entre ateus – e não apenas porque de seu currículo constam 1,7 milhão de crianças atendidas pela pastoral que dirige. “Verdade é verdade”, disse, quando retomou a palavra. “A vida é o que mais vale.” Os delegados talvez não soubessem, mas Zilda Arns, que prometeu levar o recado à CNBB, é voz dissonante entre os católicos nesta questão. “Eu prefiro seguir o caminho da Igreja, mas a consciência do casal, que deve ser bem-informado, é a suprema lei”, defende sempre.
Eu gostava dessa sanitarista porreta, e lamento demais a morte dela. Sem ela, a igreja católica no Brasil vai regredir ainda mais.

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...