Bem, nada como a passagem do tempo para que a informação prevaleça.
1) O Viva Rio afirma que na área de Belair, que fica no centro de Port-au-Prince, perto do palácio do governo, as pessoas estão calmas, não há tumulto, ao contrário do que indicam a CNN e a Globo (ô raça...). A informação baseada em sentimentalismo e sensacionalismo é invariavelmente capenga, pois precisa de uma "ajudinha" do exagero e do escândalo, ou o enfoque não se sustenta -- como se a realidade não bastasse, não fosse suficientemente aterradora, eles pioram tudo falando de saques e tiroteios.
2) Moacyr Duarte, especialista em acidentes e controle de emergências da UFRJ, foi um banho de bom senso na Globonews, no debate da edição das 10 do Em cima da hora, comandado pelos "fronteiriços" (ô raça... o desastre só não é completo porque de vez em quando eles chamam algum especialista bom mesmo e os pingos são postos em cima dos is). Em relação aos saques ele disse que não se trata de bandidagem, mas de um tal efeito-náufrago: você pode ser uma freirinha bondosa, mas vai se agarrar ao barco já lotado para tentar sobreviver. É da natureza humana, e não da"natureza bandida" do haitiano. Gostei de ouvir isso, não suportava mais ver as cenas de gente brigando por uma garrafinha de água sendo descritas como saques, violência etc.
3) Hoje confirmei: o repórter da CNN deu até o nome do hotel que contava com "dúzias" de bombeiros "americanos, chilenos e franceses" buscando "supostos estrangeiros": era o Hotel Montana.
Obs. O nome do repórter é Ivan Watson, que acaba de mostrar imagens do tal Hotel Montana: muita gente, macacos hidráulicos etc....
4) Em defesa da Minustah: se você fosse da ONU no Haiti, tivesse 150 desaparecidos no prédio central e nos secundários e num hotel, o Christophe, todos destruídos pelo terremoto, e já contasse com 60 mortos, onde você estaria trabalhando? Na ajuda à população ou tentando resgatar os seus? Eu não vou fingir: estaria no hotel e nos prédios. O Haiti não tem comando estruturado. Esse comando quem tinha era a força da ONU, que praticamente desapareceu, daí o caos desembestado, sem comando algum na cidade. Então, modus in rebus: o hotel, por exemplo, tinha muito estrangeiro mesmo, mas não era só turista, era gente da ONU. Só não entendo por que essas imagens não foram mostradas.
5) O Nelson Jobim, metido em sua farda de camuflagem (que patético...), disse uma simples verdade: "Ainda estamos procurando nossos 4 desaparecidos". Poxa, morreu brasileiro pra caramba, não é justo tentar achar os corpos que faltam?
6) É essencial mostrar o desespero e o caos das ruas para enfatizar a necessidade absurda de ajuda, mas algo já estava sendo feito e ninguém mostrava, salvo, por exemplo, umas poucas imagens que acompanhavam a passagem do Jobim pelas instalações não afetadas do Brasil: um hospitalzinho para tratar os soldados brasileiros estava atendendo 60 civis (e contando), espalhados em macas pelo chão etc.
7) CNN e Globo enfiaram o nariz na intimidade dos haitianos de uma forma imperdoável. Nenhum respeito à privacidade: simplesmente empurravam suas câmeras em casas, tendas e macas, sempre em tom sensacionalista mesclado de sentimentalismo. Para que isso? Esses monstros não têm um manual de conduta, um guia ético para cobertura de catástrofes? Senti asco. Não olhava de jeito nenhum essas imagens. Mudava de canal. Asqueroso.
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