sábado, 23 de outubro de 2010

O esgoto na última espirrada

O esgoto, em desespero, apena pra oooooutro grampo, depois que o atentado da Rua Toneleros, ops, da bolinha de papel ridicularizou Seu Zé Trololó Coroné do Grotão (o homem distribui comida em troca de voto e isso nem é mencionado pelo PIG, hahaha, é muito desapego ao jornalismo, PQP). A tucanada, ferradona nas pesquisas, já se assanha toda com a possibilidade de tirar mais de 15 milhões de votos da Dilma em uma semana.

Se eu fosse a Dilma confirmaria. Eu diria assim: "Mas claro que se justificava minha preocupação com dossiês, o Marcelo Itagiba e seu grupo de espiões estavam levantando dados da vida do Aécio e da minha! Tiraram o Aécio do jogo apelando até pro 'Pó pará, governador?'. Quem não tem proposta e projeto faz isso mesmo, cai no submundo. Mas depois, pensei, tenho projeto, minha vida é limpa, nada tenho a esconder, não é agora que vou me sujar. Não quero mais saber de dossiê nenhum. Dei até murro na mesa quando alguém disse que eu precisava me proteger. Quero não, deixa eles sozinhos no submundo".

Pronto. Não seria simples? Claro que é o parágrafo todo é pura imaginação minha, mas parte não: lembro de ter lido em algum lugar que a história do murro na mesa aconteceu mesmo quando alguém falou em dossiê com ela. Também é claro que, hipócrita como é, o PIG aproveitaria pra dar uma de santa-do-pau-oco-trololó-das-mil-caras-escandalizadas, mas a gente responderia à altura. Hoje a hashtag #globomente ficou o dia inteiro em primeiro lugar no Brasil e entre os 10 tópicos mais tuitados DO MUNDO, sabem lá o que é isso? É prejuízo pra essa TV ordinária, amigos.

Para que não esqueçam, reproduzo o Pó Pará, uma das peças mais moralmente horripilantes da política brasileira. E fiquem atentos porque o livro do Amaury, se é que sobra alguma vergonha na cara do PIG, vai abalar esta República.

Pó pará, governador?

Mauro Chaves, O Estado de S.Paulo, 28 de fevereiro de 2009 | 0h00

Em conversa com o presidente Lula no dia 6 de fevereiro, uma sexta-feira, o governador Aécio Neves expôs-lhe a estratégia que iria adotar com o PSDB, com vista a obter a indicação de sua candidatura a presidente da República. Essa estratégia consistia num ultimato para que a cúpula tucana definisse a realização de prévias eleitorais presidenciais impreterivelmente até o dia 30 de março - "nem um dia a mais". Era muito estranho, primeiro, que um candidato a candidato comunicasse sua estratégia eleitoral ao adversário político antes de fazê-lo a seus correligionários. Mais estranho ainda era o fato de uma proposta de procedimento jamais adotada por um partido desde sua fundação, há 20 anos - o que exigiria, no mínimo, uma ampla discussão partidária interna -, fosse introduzida por meio de um ultimato, uma "exigência" a ser cumprida em um mês e meio, sob pena de... De quê, mesmo?

O que Aécio fará se o PSDB não adotar as prévias presidenciais até 30 de março? Não foi dito pelo governador mineiro (certamente para não assinar oficialmente um termo de chantagem política), mas foi barulhentamente insinuado: em caso da não-aprovação das prévias, Aécio voaria para ser presidenciável do PMDB. É claro que para o presidente Lula e sua ungida presidenciável, a neomeiga mãe do PAC, não haveria melhor oportunidade de cindir as forças oposicionistas, deixando cada uma em um dos dois maiores colégios eleitorais do País. E é claro que para o PMDB, com tantos milhões de votos no País, mas sem ter quem os receba, como candidato a presidente da República, a adoção de Aécio como correligionário/candidato poderia significar um upgrade fisiológico capaz de lhe propiciar um não programado salto na conquista do poder maior - já que os menores acabou de conquistar.

Pela pesquisa nacional do Instituto Datafolha, os presidenciáveis tucanos têm os seguintes índices: José Serra, 41% (disparado na frente), e Aécio Neves, 17% (atrás de Ciro Gomes, com 25%, e de Heloisa Helena, com 19%). Por que, então, o governador de Minas se julga capaz de reverter espetacularmente esses índices, fazendo sua candidatura presidencial subir feito um foguete e a de seu colega e correligionário paulista despencar feito um viaduto? Que informações essenciais haveria, para se transmitirem aos cerca de 1 milhão e pouco de militantes tucanos - supondo-se que estes fossem os eleitores das "exigidas" prévias, que ninguém tem ideia de como devam ser -, para que pudesse ocorrer uma formidável inversão de avaliação eleitoral, que desse vitória a Aécio sobre Serra (supondo que o governador mineiro pretenda, de fato, vencê-las)?

Vejamos o modus faciendi de preparação das prévias, sugerido (ou "exigido"?) pelo governador mineiro: ele e Serra sairiam pelo Brasil afora apresentando suas "propostas" de governo, suas soluções para a crise econômica, as críticas cabíveis ao governo federal e coisas do tipo. Seriam diferentes ou semelhantes tais propostas, soluções e críticas? Se semelhantes, apresentadas em conjunto nos mesmos palanques "prévios", para obter o voto do eleitor "prévio" cada um dos concorrentes tucanos teria de tentar mostrar alguma vantagem diferencial. Talvez Aécio apostasse em sua condição de mais moço, com bastante cabelo e imagem de "boa pinta", só restando a Serra falar de sua maior experiência política, administrativa e seu preparo geral, em termos de conhecimento, cultura e traquejo internacional. Mas se falassem a mesma coisa, harmonizados e só com vozes diferentes, os dois correriam o risco de em algum lugar ermo do interior ser confundidos com dupla sertaneja - quem sabe Zé Serra e Ah é, sô.

Agora, se os discursos forem diferentes, em palanques "prévios" diferentes, haverá uma disputa de acirramento imprevisível. E no Brasil não temos a prática norte-americana das primárias - que uniu Obama e Hillary depois de se terem escalpelado. Por mais que disfarcem e até simulem alianças, aqui os concorrentes, após as eleições, sempre se tornam cordiais inimigos figadais. E aí as semelhanças políticas estão na razão direta das diferenças pessoais. Mas não há dúvida de que sob o ponto de vista político-administrativo Serra e Aécio são semelhantes, porque comandam administrações competentes.

Ressalvem-se apenas as profundas diferenças de cobrança de opinião pública entre Minas e São Paulo. Quem já leu os jornais mineiros fica impressionado com a absoluta falta de crítica em relação a tudo o que se relacione, direta ou indiretamente, ao governo ou ao governador.

O caso do "mensalão tucano" só foi publicado pelos jornais de Minas depois que a imprensa do País inteiro já tinha dele tratado - e que o governador se pronunciou a respeito. É que em Minas imprensa e governo são irmãos xifópagos. Em São Paulo, ao contrário, não só Serra como todos os governos e governadores anteriores sempre foram cobrados com força, cabresto curto, especialmente pelos dois jornais mais importantes. Neste aspecto a democracia em São Paulo é mais direta que a mineira (assim como a de Montoro era mais direta que a de Tancredo). Fora isso, os governadores dos dois Estados são, com justiça, bem avaliados por suas respectivas populações.

O problema tucano, na sucessão presidencial, é que na política cabocla as ambições pessoais têm razões que a razão da fidelidade política desconhece. Agora, quando a isso se junta o sebastianismo - a volta do rei que nunca foi -, haja pressa em restaurar o trono de São João Del Rey... Só que Aécio devia refletir sobre o que disse seu grande conterrâneo João Guimarães Rosa: "Deus é paciência. O diabo é o contrário."

E hoje talvez ele advertisse: Pó pará, governador?

Mauro Chaves é jornalista, advogado, escritor,administrador de empresas e pintor.

2 comentários:

Cloaca News disse...

Dona Marinilda: que alegria vê-la seguindo o Cloaca News. Você nem desconfia de que nos conhecemos - pelo menos à distância. Até já falamos por telefone, certa vez. Fui leitor voraz do saudoso Marinildadas. Fui - e continuo - seu fã. Escreva para o e-mail que aparece na página do blog e eu revelo minha identidade civil. Beijos!

mari disse...

O Cloaca é uma das minhas bíblias, companheiro! Já mandei o email, quem seá??????

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