Blog da Dilma [foi uma luta conseguir o texto, a página atualiza automaticamente], segunda-feira, 7 de junho de 2010
Pó pará, governador? (Aécio Neves) Os dossiês escancarados da Folha de S. Paulo
Em 4 de março de 2009, a Folha publicou – numa seqüência de exemplares da mesma artilharia pesada – um artigo criticando de forma agressiva a pressão do governador mineiro Aécio Neves pela realização de prévias democráticas no PSDB para a escolha do postulante à Presidência da República.
Àquela altura, segundo a sempre oportuna prontidão do Datafolha, Serra teria 45% das intenções de voto, contra apenas 17% de Aécio Neves que mal disfarçava o propósito de implodir a blindagem em torno do rival paulista levando a disputa para fora do jogo de cartas marcadas arbitrado pela endogamia entre a cúpula tucana e a mídia do Sudeste. Os xiliques de Serra e a agressividade dos recados emitidos pela Folha demonstravam que nem um, nem outro, confiavam de fato nos confortáveis índices oferecidos à opinião pública interna e externa pelo instituto de pesquisas que ancora manchetes emergenciais do jornal da família Frias. É nessa linha de tensão que surge o artigo cujo título trazia uma insinuação cifrada de represália sem limite contra o mineiro, caso insistisse em se colocar na disputa contra o tucano paulista: “Pó pará, governador?” era a chamada enigmática para alguns, mas inteligível para os círculos que já ouviram insinuações sobre o uso de drogas aspiráveis pelo governador de Minas Gerais.
A sombra da represália, na forma de munição ainda mais pesada, ficava explícita no parágrafo final do artigo-recado. Depois de denunciar o controle do mineiro sobre a imprensa do Estado ["em Minas imprensa e governo são irmãos xifópagos"], o texto concluía com uma ameaça nada velada: ‘Aécio devia refletir sobre o que disse seu grande conterrâneo João Guimarães Rosa: "Deus é paciência. O diabo é o contrário. E hoje talvez ele advertisse: 'Pó pará, governador?'".
É desse campo minado por uma luta que dificilmente fará de Aécio um cabo eleitoral mais que formal de José Serra, que explodiu o resultado de anos de trabalho de um dos mais premiados jornalistas investigativos do país. A coleção de dados e cifras envolvendo a família, os amigos, assessores de confiança de José Serra, suas ligações societárias e eleitorais com a família de Daniel Dantas, o envolvimento do conjunto com privatizações e movimentos milionários de dólares dentro e fora do país em empresas de fachada – esse latejante paiol de nitroglicerina pura forma hoje um livro sucinto de 14 capítulos. A edição e possível veiculação do petardo depois da Copa do Mundo deixa o insone confesso José Serra cada vez mais distante de uma noite de sono dos justos. Pior que isso: torna mais improvável ainda que ela ocorra um dia na cama do Palácio do Planalto.
Bem, achei o artigo mencionado no Estadão, com data de 28 de fevereiro, e não na Folha de 4 de março. Terá a Folha reproduzido? Fui verificar e não encontrei. Eis o texto:
Pó pará, governador?
Mauro Chaves, O Estado de S.Paulo, 28 de fevereiro de 2009 | 0h00
Em conversa com o presidente Lula no dia 6 de fevereiro, uma sexta-feira, o governador Aécio Neves expôs-lhe a estratégia que iria adotar com o PSDB, com vista a obter a indicação de sua candidatura a presidente da República. Essa estratégia consistia num ultimato para que a cúpula tucana definisse a realização de prévias eleitorais presidenciais impreterivelmente até o dia 30 de março - "nem um dia a mais". Era muito estranho, primeiro, que um candidato a candidato comunicasse sua estratégia eleitoral ao adversário político antes de fazê-lo a seus correligionários. Mais estranho ainda era o fato de uma proposta de procedimento jamais adotada por um partido desde sua fundação, há 20 anos - o que exigiria, no mínimo, uma ampla discussão partidária interna -, fosse introduzida por meio de um ultimato, uma "exigência" a ser cumprida em um mês e meio, sob pena de... De quê, mesmo?
O que Aécio fará se o PSDB não adotar as prévias presidenciais até 30 de março? Não foi dito pelo governador mineiro (certamente para não assinar oficialmente um termo de chantagem política), mas foi barulhentamente insinuado: em caso da não-aprovação das prévias, Aécio voaria para ser presidenciável do PMDB. É claro que para o presidente Lula e sua ungida presidenciável, a neomeiga mãe do PAC, não haveria melhor oportunidade de cindir as forças oposicionistas, deixando cada uma em um dos dois maiores colégios eleitorais do País. E é claro que para o PMDB, com tantos milhões de votos no País, mas sem ter quem os receba, como candidato a presidente da República, a adoção de Aécio como correligionário/candidato poderia significar um upgrade fisiológico capaz de lhe propiciar um não programado salto na conquista do poder maior - já que os menores acabou de conquistar.
Pela pesquisa nacional do Instituto Datafolha, os presidenciáveis tucanos têm os seguintes índices: José Serra, 41% (disparado na frente), e Aécio Neves, 17% (atrás de Ciro Gomes, com 25%, e de Heloisa Helena, com 19%). Por que, então, o governador de Minas se julga capaz de reverter espetacularmente esses índices, fazendo sua candidatura presidencial subir feito um foguete e a de seu colega e correligionário paulista despencar feito um viaduto? Que informações essenciais haveria, para se transmitirem aos cerca de 1 milhão e pouco de militantes tucanos - supondo-se que estes fossem os eleitores das "exigidas" prévias, que ninguém tem ideia de como devam ser -, para que pudesse ocorrer uma formidável inversão de avaliação eleitoral, que desse vitória a Aécio sobre Serra (supondo que o governador mineiro pretenda, de fato, vencê-las)?
Vejamos o modus faciendi de preparação das prévias, sugerido (ou "exigido"?) pelo governador mineiro: ele e Serra sairiam pelo Brasil afora apresentando suas "propostas" de governo, suas soluções para a crise econômica, as críticas cabíveis ao governo federal e coisas do tipo. Seriam diferentes ou semelhantes tais propostas, soluções e críticas? Se semelhantes, apresentadas em conjunto nos mesmos palanques "prévios", para obter o voto do eleitor "prévio" cada um dos concorrentes tucanos teria de tentar mostrar alguma vantagem diferencial. Talvez Aécio apostasse em sua condição de mais moço, com bastante cabelo e imagem de "boa pinta", só restando a Serra falar de sua maior experiência política, administrativa e seu preparo geral, em termos de conhecimento, cultura e traquejo internacional. Mas se falassem a mesma coisa, harmonizados e só com vozes diferentes, os dois correriam o risco de em algum lugar ermo do interior ser confundidos com dupla sertaneja - quem sabe Zé Serra e Ah é, sô.
Agora, se os discursos forem diferentes, em palanques "prévios" diferentes, haverá uma disputa de acirramento imprevisível. E no Brasil não temos a prática norte-americana das primárias - que uniu Obama e Hillary depois de se terem escalpelado. Por mais que disfarcem e até simulem alianças, aqui os concorrentes, após as eleições, sempre se tornam cordiais inimigos figadais. E aí as semelhanças políticas estão na razão direta das diferenças pessoais. Mas não há dúvida de que sob o ponto de vista político-administrativo Serra e Aécio são semelhantes, porque comandam administrações competentes.
Ressalvem-se apenas as profundas diferenças de cobrança de opinião pública entre Minas e São Paulo. Quem já leu os jornais mineiros fica impressionado com a absoluta falta de crítica em relação a tudo o que se relacione, direta ou indiretamente, ao governo ou ao governador.
O caso do "mensalão tucano" só foi publicado pelos jornais de Minas depois que a imprensa do País inteiro já tinha dele tratado - e que o governador se pronunciou a respeito. É que em Minas imprensa e governo são irmãos xifópagos. Em São Paulo, ao contrário, não só Serra como todos os governos e governadores anteriores sempre foram cobrados com força, cabresto curto, especialmente pelos dois jornais mais importantes. Neste aspecto a democracia em São Paulo é mais direta que a mineira (assim como a de Montoro era mais direta que a de Tancredo). Fora isso, os governadores dos dois Estados são, com justiça, bem avaliados por suas respectivas populações.
O problema tucano, na sucessão presidencial, é que na política cabocla as ambições pessoais têm razões que a razão da fidelidade política desconhece. Agora, quando a isso se junta o sebastianismo - a volta do rei que nunca foi -, haja pressa em restaurar o trono de São João Del Rey... Só que Aécio devia refletir sobre o que disse seu grande conterrâneo João Guimarães Rosa: "Deus é paciência. O diabo é o contrário."
E hoje talvez ele advertisse: Pó pará, governador?
Mauro Chaves é jornalista, advogado, escritor,administrador de empresas e pintor.
2 comentários:
Estou preocupado. O glonline festejou hoje à tarde uma pesquisa interna do PT que teria detectado perda de 10% nos formadores de opinião. Vai que a gente acorda amanhã de manhã e 32 milhões de eleitores decidiram mudar de candidato só porque é 7 de setembro?
É, mas o Nassif já desmentiu (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/tracking-do-pt-nao-mostra-recuperacao-de-serra). O pasquim tá desesperado.
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