domingo, 30 de janeiro de 2011

A página gigante da história do Egito

Khaled Desouki, AFP/Getty Images/The Daily Beast
Como se sabe, quanto mais se treina mais se tem sorte. Era o que repetia Maurício Dias, meu querido chefe na Política do JB. Mas certos seres, porque treinam muito mesmo, são bem mais premiados. Robert Fisk estava, como sempre, no lugar certo na hora certa, e descreve aqui como ninguém, estrangeiro ou egípcio, aquilo que vimos pela CNN ou pela Jazeera. Que coisa este homem! Somos apresentados aos battagi, a brutal polícia à paisana de Mubarak, "linha de frente do Estado egípcio". Para completar, o cidadão ainda encontra num restaurante o grande escritor egípcio Ibrahim Abdul Meguid, em pessoa, e eufórico! "Foi como dar de cara com Tolstoi, almoçando em plena revolução russa."

Eu te amo, Robert Fisk!

***

A multidão contra o ditador

Robert Fisk, The Independent, UK, 29/1/2011; tradução: @VilaVudu

Pode ser o fim. Com certeza é o começo do fim. Em todo o Egito, dezenas de milhares de árabes enfrentaram gás lacrimogêneo, canhões de água, granadas e tiroteio para exigir o fim da ditadura de Hosni Mubarak depois de mais de 30 anos.

Enquanto Cairo mergulha em nuvens de gás lacrimogêneo das milhares de granadas lançadas contra multidões compactas, era como se a ditadura de Mubarak realmente andasse rumo ao fim. Ninguém, dos que estávamos ontem nas ruas do Cairo, tínhamos nem ideia de por onde andaria Mubarak – que mais tarde apareceria na televisão, para demitir todos os seus ministros. Nem encontrei alguém preocupado com Mubarak.

Eram dezenas de milhares, valentes, a maioria pacíficos, mas a violência chocante dos battagi – em árabe, a palavra significa literalmente “bandidos” – uniformizados sem uniforme das milícias de Mubarak, que espancaram, agrediram e feriram manifestantes, enquanto os guardas apenas assistiam e nada fizeram, foi uma desgraça. Esses homens, quase todos dependentes de drogas e ex-policiais, eram ontem a linha de frente do Estado egípcio. Os verdadeiros representantes de Hosni Mubarak.

Num certo momento, havia uma cortina de gás lacrimogêneo por cima das águas do Nilo, enquanto as milícias antitumultos e os manifestantes combatiam sobre as grandes pontes sobre o rio. Incrível. A multidão levantou-se e não mais aceitará a violência, a brutalidade, as prisões, como se essa fosse a parte que lhe coubesse na maior nação árabe do planeta. Os próprios policiais pareciam saber que estavam sendo derrotados. “E o que podemos fazer?” – perguntou-nos um dos guardas das milícias antitumulto. “Cumprimos ordens. Pensam que queremos isso? Esse país está despencando ladeira abaixo.” O governo impôs um toque de recolher noite passada. A multidão ajoelhou-se para rezar, à frente da polícia.

Como se descreve um dia que pode vir a ser página gigante da história do Egito? Os jornalistas devem abandonar as análises e apenas narrar o que aconteceu da manhã à noite, numa das cidades mais antigas do mundo. Então, aí está a história como a anotei, garatujada no meio da multidão que não se rendeu a milhares de policiais uniformizados da cabeça aos pés e e milicianos sem uniforme.

Começou na mesquita Istikama na Praça Giza: um sombrio conjunto de apartamentos de blocos de concreto, e uma fileira de policias especializados em controle de tumultos que se estendia até o Nilo. Todos sabíamos que Mohamed ElBaradei ali estaria para as orações do meio dia e, de início, parecia que não haveria muita gente. Os policiais fumavam. Se fosse o fim do reinado de Mubarak, aquele começo do fim pouco impressionava.

Mas então, logo que as últimas orações terminaram, uma multidão de fiéis apareceu na rua, andando em direção aos policiais. “Mubarak, Mubarak”, gritavam, “a Arábia Saudita o espera”. Foi quando os canhões de água foram virados na direção da multidão – a polícia estava organizada para atacar os manifestantes, mesmo não sendo atacada. A água atingiu a multidão e em seguida os canhões foram apontados diretamente contra ElBaradei, que retrocedeu, encharcado.

ElBaradei desembarcara de Viena poucas horas antes, e poucos egípcios creem que chegue a governar o Egito – diz que só veio para ajudar como negociador –, mas foi atacado com brutalidade, uma desgraça. O político egípcio mais conhecido e respeitado, Prêmio Nobel, trabalhou como principal inspetor da Agência Nuclear da ONU, ali, encharcado como gato de rua. Creio que, para Mubarak, ElBaradei não passaria de mais um criador de confusão, com sua “agenda oculta” – essa, precisamente, é a linguagem que o governo egípcio fala hoje.

Aí, começaram as granadas de gás lacrimogêneo. Alguns milhares delas, mas algo aconteceu, enquanto eu caminhava ao lado dos lança-granadas. Dos blocos de apartamentos e das ruas à volta, de todas as ruas e ruelas, centenas, depois de milhares de pessoas começaram a aparecer, todas andando em direção à Praça Tahrir. Era o movimento que a polícia queria impedir. Milhares de cidadãos em manifestação no coração da cidade do Cairo daria a impressão de que o governo já caíra. Já haviam cortado a internet – o que isolou o Egito, do resto do mundo – e todos os sinais de telefonia celular estavam mudos. Não fez diferença.

“Queremos o fim do regime”, gritavam as ruas. Talvez não tenha sido o mais memorável brado revolucionário, mas gritaram e gritaram e repetiram, até derrotar a chuva de granadas de gás lacrimogêneo. Vinham de todos os lados da cidade do Cairo, chegavam sem parar, jovens de classe média de Gazira, os pobres das favelas de Beaulak al-Daqrour, todos marchando pelas pontes sobre o Nilo, como um exército. Acho que sim, são um exército.

A chuva de granadas de gás continuava sobre eles. Tossiam e esfregavam os olhos e continuavam andando. Muitos cobriram a cabeça e a boca com casacos e camisetas, passando em fila pela frente de uma loja de sucos, onde o dono esguichava limonada diretamente na boca dos passantes. Suco de limão – antídoto contra os efeitos do gás lacrimogêneo – escorria pela calçada e descia pelo esgoto.

Foi no Cairo, claro, mas protestos idênticos aconteceram por todo o Egito, como em Suez, onde já há 13 egípcios mortos.

As manifestações não começaram só nas mesquitas, mas também nas igrejas coptas. “Sou cristão, mas antes sou egípcio” – disse-me um homem, Mina. “Quero que Mubarak se vá!” E foi quando apareceram os primeiros bataggi sem uniforme, abrindo caminho até a frente das fileiras da polícia uniformizada, para atacar os manifestantes. Estavam armados com cassetetes de metal – onde conseguiram? – e barras de ferro, e poderão ser julgados e condenados por agressão grave e assassinato, se o regime de Mubarak cair. São pervertidos. Vi um homem chicotear um jovem pelas costas, com um longo cabo amarelo. O rapaz gritou de dor. Por toda a cidade, os policiais uniformizados andam em pelotões, o sol refletindo no visor dos capacetes. A multidão já deveria ter sido intimidada, àquela altura, mas a polícia parecia feia, como pássaros encapuzados. E os manifestantes alcançaram a calçada da margem leste do Nilo.

Peter MacDiarmid/Getty Images/Stratfor
Alguns turistas foram colhidos de surpresa no meio do espetáculo – vi três senhoras de meia idade, numa das pontes do Nilo (os hotéis, claro, não informaram os hóspedes sobre o que estava acontecendo –, mas a polícia decidiu que fecharia a extremidade leste do viaduto. Dividiram-se outra vez, para deixar passar as milícias não uniformizadas, e esses brutamontes atacaram a primeira fileira dos manifestantes. E foi quando choveu a maior quantidade de granadas de gás, centenas de granadas, em vários pontos, contra a multidão que andava sem parar por todas as grandes vias, em direção à cidade. Os olhos ardem, e tosse-se horrivelmente, até perder o fôlego. Alguns homens vomitavam nas soleiras das portas fechadas das lojas.

O fogo começou, ao que se sabe, noite passada, na sede do NDP, Partido Democrático Nacional, partido de Mubarak. O governo impôs um toque de recolher, e há relatos de tropas na cidade, sinal grave de que a polícia pode ter perdido o controle dos acontecimentos. Nos abrigamos no velho Café Riche, perto da Praça Telaat Harb, restaurante e bar minúsculo, com garçons vestidos de azul; e ali, tomando café, estava o grande escritor egípcio Ibrahim Abdul Meguid, bem ali à nossa frente. Foi como dar de cara com Tolstoi, almoçando em plena revolução russa. “Mubarak está sem reação!” – festejou ele. “É como se nada estivesse acontecendo. Mas vai, agora vai. O povo fará acontecer!” Sentamos, ainda tossindo e chorando por causa do gás. Foi desses instantes memoráveis, que acontecem mais em filmes que na vida real.

E havia um velho na calçada, cobrindo os olhos com a mão. Coronel da reserva Weaam Salim do exército do Egito, que saiu para a rua com todas as suas medalhas da guerra de 1967 contra Israel – que o Egito perdeu – e da guerra de 1973 que, para o coronel, o Egito venceu. “Estou deixando o piquete dos soldados veteranos” – disse-me ele. “Vou-me juntar aos manifestantes”. E o exército? Não se viram soldados do exército durante todo o dia. Os coronéis e brigadeiros mantêm-se em silêncio. Estarão à espera da lei marcial de Mubarak?

As multidões não obedeceram ao toque de recolher. Em Suez, blindados da polícia foram incendiados. Bem à frente do meu hotel, tentaram jogar no rio Nilo um blindado da polícia. Não consegui voltar à parte ocidental do Cairo pelas pontes. As granadas de gás ainda empesteiam as margens do Nilo. Mas um policial ficou com pena de nós – emoção absolutamente inexistente, devo dizer, ontem, entre os policiais – e nos guiou até a margem do rio. E ali estava uma velha lancha egípcia a motor, de levar turistas, com flores plásticas e proprietário disponível. Voltamos em grande estilo, bebendo Pepsi. Cruzamos com uma lancha amarela, super-rápida, da qual dois homens faziam sinais de vitória para a multidão sobre as pontes. Uma jovem, sentada na parte de trás da lancha, carregava uma imensa bandeira: a bandeira do Egito.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Mubarak, ultraje a milhões de egípcios


Enquanto os aliados observam...

Egito: o dia do acerto de contas

Robert Fisk: The Independent, UK, 28/1/2011, tradução: @VilaVudu; fotos: Al Jazeera

Dia de orações ou dia de ira? Todo o Egito está à espera do sabbath muçulmano hoje – para nem falar dos assustados aliados do Egito –, enquanto o envelhecido presidente do país agarra-se ao poder depois de noites de violência que já fazem os EUA duvidarem da estabilidade do regime de Mubarak.

Até agora, há cinco mortos e mais de 1.000 presos, a polícia bateu em mulheres e, pela primeira vez uma das sedes do Partido Nacional Democrático reinante foi incendiada. Aqui, os boatos são perigosos como granadas de gás lacrimogêneo. Um diário do Cairo publicou que um dos principais conselheiros do presidente Hosni Mubarak fugiu para Londres com 97 malas de dinheiro; outros falam de um presidente enfurecido, que grita com os comandantes da polícia, exigindo mais força na repressão das manifestações.

Mohamed ElBaradei, líder da oposição, Prêmio Nobel e ex-funcionário da ONU retornou ao Egito ontem à noite, mas ninguém acredita – exceto talvez os norte-americanos – que venha a converter-se em ímã que dê foco aos movimentos de protesto que se alastram por todo o país.

Já aparecem sinais de que muitos, cansados do governo corrupto e antidemocrático de Mubarak, tentam persuadir os policiais que patrulham as ruas do Cairo a unir-se a eles. “Irmãos! Irmãos! Quanto eles pagam a vocês?” um grupo de manifestantes pôs-se a gritar para os policiais no Cairo. Mas ninguém negocia coisa alguma – não há o que negociar, exceto a partida de Mubarak, e o governo egípcio nada diz e nada faz, mais ou menos exatamente como nos últimos trinta anos.

Há quem fale de revolução, mas não há ninguém para ocupar os lugares dos homens de Mubarak – jamais houve sequer um vice-presidente – e um jornalista egípcio disse-me ontem que conversou com amigos de Mubarak, preocupados com ele, presidente, isolado, solitário. Mubarak está com 82 anos e deu sinais de que se candidatará novamente à presidência – o que é ultraje para milhões de egípcios.

A dura verdade, porém, é que, exceto pela força policial brutal e um exército escandalosamente dócil – o qual, aliás, não apoia a indicação de Gamal, filho de Mubarak – o governo está impotente. Essa é revolução pelo Twitter e revolução pelo Facebook, e a tecnologia, já há muito, derrubou as regras da censura.

Os homens de Mubarak parecem ter perdido toda a noção de iniciativa. Os jornais do partido governista vêm carregados de falsas ilusões autoimpingidas, empurrando as vastas manifestações de rua para os rodapés, como se bastasse a diagramação para esvaziar as ruas – e como se, de tanto esconder os fatos, conseguissem convencer-se de que as manifestações não existiram.

Mas ninguém precisa dos jornais, para ver o que não deu certo. A sujeira das ruas e das favelas, os esgotos a céu aberto e a corrupção de todos os funcionários do estado, as prisões sobrecarregadas, as eleições risíveis, o vasto, esclerosado edifício do poder, tudo isso, afinal, arrastou ou egípcios para as ruas das cidades.

Amr Moussa, presidente da Liga Árabe, observou ponto interessante, na recente reunião de cúpula dos líderes árabes no resort de Sharm el-Sheikh, no Egito. “A Tunísia não está longe de nós”, disse ele. “Os árabes estão quebrados”. Mas... será que estão? Um meu velho amigo contou-me história assustadora sobre um egípcio pobre, que lhe disse que não tinha interesse algum em arrancar os líderes corruptos das fortalezas superprotegidas onde vivem no deserto. “Hoje, pelo menos, sabemos onde eles moram” – disse o homem. O Egito tem hoje mais de 80 milhões de habitantes, 30% dos quais com menos de 20 anos. E perderam o medo.

Nas manifestações, observa-se uma espécie de nacionalismo egípcio – mais do que algum islamismo. 25 de janeiro é Dia Nacional da Polícia – dia em que se homenageia a força policial que morreu em combate contra o exército britânico em Ishmaelia – e o governo não poupou discursos, para dizer à multidão que estariam traindo os próprios mártires. A multidão gritou “Não. Os policiais que morreram em Ishmaelia eram valentes, nada a ver com os policiais de hoje.”

Mas o governo não é completamente cego. Há uma espécie de inteligência na gradual liberação da imprensa e das televisões, nessa pseudodemocracia em cacos. Os egípcios ganharam uma lufada de ar fresco, o suficiente para respirarem, para que se acalmem e calem-se, e voltem à docilidade de sempre, nessa terra de pastores. Pastores e agricultores não fazem revoluções, mas quando são amontoados aos milhões nas grandes cidades, nas favelas, nas casas e nas universidades em ruínas, que lhes dão diplomas, mas não dão trabalho, alguma coisa pode ter acontecido.

“Os tunisianos ensinaram aos egípcios o que é poder orgulhar-se do que se faz” – disse-me ontem outro jornalista egípcio”. “São inspiração para nós, mas o regime egípcio é mais esperto que o de Ben Ali na Tunísia. Lá foi preservada uma semente de oposição, ao não meterem na cadeia a Fraternidade Muçulmana, mas, ao mesmo tempo, dizerem aos EUA que o grande inimigo seria o Islã, e que Mubarak ali estava para proteger os EUA do “terror” – mensagem que os EUA sempre gostam de ouvir já há dez anos”.



Há vários indícios de que o poder no Cairo percebeu que algo estaria para acontecer. Ouvi de vários egípcios que dia 24 de janeiro já havia soldados arrancando cartazes de Gamal Mubarak dos muros das favelas – para evitar mais provocações. Mas o alto número de prisões, a violência policial – que espancou homens e mulheres pelas ruas – e o virtual colapso da Bolsa de Valores no Cairo mais sugerem pânico, que astúcia política.

Um dos problemas foi criado pelo próprio regime; foram sistematicamente afastados do poder todos que tivessem algum carisma, mandados para o interior, castrando politicamente qualquer possível oposição verdadeira, muitos, diretamente para a prisão. Hoje, EUA e União Europeia dizem ao regime que ouçam o povo – mas que povo? Onde estão as vozes de liderança?

O levante no Egito não é – embora possa vir a converter-se em – levante islâmico, mas, além do grito em massa de milhões de egípcios que despertam de décadas de humilhação e fracassos, só se ouve nas manifestações o discurso de rotina da Fraternidade Muçulmana.

Quanto aos EUA, a única coisa que parecem capazes de oferecer a Mubarak é uma sugestão de reformas – conversa que os egípcios ouvem há muito tempo. Não é a primeira vez que a violência toma conta das ruas do Cairo, é claro. Em 1977, ouve manifestações imensas de gente que pedia comida – eu estava no Cairo, e vi multidões famintas, de mortos de fome –, mas o governo de Sadat conseguiu controlar a revolta mediante preços mais baixos e muitas prisões e tortura. Também houve motins nas forças policiais – um deles reprimido a ferro e fogo pelo próprio Mubarak. Mas, agora, está acontecendo algo de diferente.

Interessante de observar, não há nenhuma animosidade contra estrangeiros. Várias vezes aconteceu de a multidão proteger jornalistas e – apesar do vergonhoso apoio que os EUA garantem aos ditadores no Oriente Médio – nenhuma bandeira dos EUA foi queimada. Já se vê que há aí alguma novidade. Talvez a multidão que amadurece – e descobre que vive sob um governo que é, ao mesmo tempo, senil e imaturo.

Ontem à noite as autoridades egípcias cortaram todos os serviços de internet e de transmissão de texto por celulares, na tentativa de impedir que os manifestantes se organizassem através de redes sociais. A medida foi tomada no mesmo momento em que uma unidade policial de elite, de forças antiterrorismo, recebeu ordem para tomar posição em pontos estratégicos em toda a capital, preparando-se para o que se estima que sejam as maiores manifestações até agora, previstas para hoje.

Dentre os pontos estratégicos selecionados pelas forças antiterrorismo está a Praça Tahrir, cenário das maiores manifestações até agora. Facebook, Twitter, YouTube e outros sites de contato social tiveram papel vital nos protestos no Egito, exatamente como na Tunísia, para manter os manifestantes em contato e planejar a movimentação dos grupos.

Será que o Mubarak cai? Por favor, por favor!


Mama Qarat, página de opositores egípcios no Facebook, postou à noite esta foto dos protestos na Praça Tahrir (via The Atlantic e @_WITCHBLADE_).

Mubarak mostra a cara que finge esconder dos Estados Unidos, o grande irmão que finge não ver e sustenta essa ditadura "democrática". Internet detonada. Mas olha só: moradores do Cairo removeram a senha de seus roteadores wi-fi para que os manifestantes possam se comunicar com o mundo (via perfeitamenteinutil). "O Egito se tunisifica, Mubarak se benalisa. C’est du Djeddah vu!" (Ayari Yassine, @yassayari, via The Political Notebook).

Tudo isso é consequência dos Palestine Papers! (Saiba o que são os Documentos da Palestina; Robert Fisk escreve a respeito!) Ah, gente, nessas horas eu até rezo, viu?

Viva Wikileaks!

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Poupem a Região Serrana de fantasias

Para presidenta Dilma, Centro de Operações do Rio revoluciona a gestão de cidades

Durante sua passagem pelo Rio de Janeiro, nesta quinta-feira (27/1), a presidenta Dilma Rousseff conheceu o Centro de Operações da Prefeitura do Rio, que atua na prevenção de catástrofes e situações de emergências, e definiu o projeto como “o futuro” e uma revolução na gestão urbana. Na opinião da presidenta, com a inauguração do Centro, ocorrida no dia 31 de dezembro de 2010, o Rio deu “um passo à frente do Brasil em matéria de integração de informações de gestão do espaço urbano”, informou o Blog do Planalto.
Não consegui entender. É ironia? Como assim, "atua"? Por que glorificar essa boniteza toda quando é só boniteza? O sistema de Previsão de Meteorologia de Alta Resolução (Pmar) -- [link para matéria acrítica em 19/1 do Globosta, este pasquim sem espítito crítico algum pro que realmente interessa!] -- VIU dois dias antes a formação do temporal na serra em 12/1 e não alardeou porque não afetaria a cidade do Rio! Não achei a notícia com essa informação, mas acharei! Na época, Marco (@_marel) falou demais disso. Os caras não têm site, não têm nem Twitter! E ainda usam a sigla da Prefeitura de Angra, só pra confundir bem...


Ah, tenha a santa paciência! Provavelmente chegaremos aqui na Região Serrana a mais de 1.000 mortos (estamos com 840, fora os 540 desaparecidos registrados por parentes no Ministério Público!) e jogam na nossa cara elogios a um sistema que não atua coisa nenhuma e não prestou para coisa alguma? Me poupem!

Penso no escravo, e você?

Austen, um porre: os Oscars
mais medíocres da história

Remissão

Luis Fernando Verissimo, O Estado de S.Paulo, 27/1 (via @midiarte)

Uma única catedral gótica ou uma única cantata de Bach redimem a religião de todos os seus males. Ou não. Você pode atribuir a beleza da igreja e da música à devoção religiosa e perdoar as barbaridades que a mesma devoção inspirou através da história, ou concluir que uma coisa não determinou a outra - Bach seria Bach mesmo sem a devoção - e apenas se admirar que tenham sido simultâneas. Escolha: a arte religiosa se nutriu da violenta história do cristianismo ou floresceu apesar dos seus conflitos, para compensar a violência? Pode-se até imaginar uma tabela de remissões. Quantos anos de obscurantismo e fanatismo da Igreja são absolvidos pela Pietá do Michelangelo, por exemplo? Só o Réquiem do Mozart basta para desculpar a Inquisição?

Tudo depende do olhar. Há quem olhe as pirâmides do Egito e veja um fenômeno arquitetônico e um triunfo do empreendimento humano. Outros só veem o sofrimento dos escravos pela maior glória de senhores insensíveis. Há quem olhe a fachada de uma catedral antiga e sinta seu espírito se enlevar, há quem veja na sua imponência apenas uma declaração de poder. No seu livro Cultura e Imperialismo, o crítico Edward Said escreveu sobre a relação, às vezes inconsciente, do romance europeu com o colonialismo a partir do século 19. Seu exemplo mais comentado é um estudo sobre Mansfield Park, de Jane Austen, em que ele ressalta a importância para a vida na mansão descrita pela autora, que dá título ao livro, de uma plantação no Caribe. Em nenhum momento do livro de Austen é sugerido que a família seja cúmplice do imperialismo, e muito menos que seu estilo de vida dependa de escravos, mas a tese de Said é que em boa parte da literatura feita na Europa na época - inclusive singelas histórias de donzelas pastorais vivendo o drama de arranjar marido - esta interdependência está implícita. Depende do olhar de quem a lê.

Como no caso de catedrais e cantatas, a literatura produzida na Inglaterra e na França principalmente (e Portugal e Espanha, já que estamos falando de colonizadores) redime ou não redime o crime, neste caso da conquista imperial. Vendo uma mansão inglesa em meio a um idílico parque de grama perfeita, você pensa em Jane Austen ou pensa nos escravos?

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Ministros e ministérios tuiteiros

O ótimo trabalho é do blogueiro Nino Carvalho (via @luisnassif e outros). Os comentário são perfeitos: o Twiter do @MEC_Comunicacao é mesmo péssimo, enquanto o do @minsaude, bem dinâmico, até responde pergunta de tuiteiro (combina com o @padilhando!).

Clique na imagem para ir à lista com links reais.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Fotos (chocantes) da tragédia. No Boston Globe

Homem carregado pelas águas é socorrido no Caleme, Teresópolis
(Vanderlei Almeida, AFP/Getty Images, 12/1) 

Nova Friburgo sob a lama
(Felipe Dana, AP, 17/1)

Veja as demais (muito, muito chocantes) no Boston Globe. (via TeiaLivre)

The blue marble, outra visão estonteante

Nasa

Linda, linda homenagem a nossa Blue Marble

Terra

(Só assim, puro, total, o título deste texto incrível do Zeca Oliveira, o @ZKOliva, no TeiaLivre.)


Quando eu me encontrava preso

Na cela de uma cadeia

Foi que vi pela primeira vez

As tais fotografias

Em que apareces inteira

Porém lá não estavas nua

E sim coberta de nuvens...

Terra! Terra!

A tecnologia digital limpou as nuvens Caetânicas e permitiu-nos apreciar as feições de superfície deste maravilhoso planeta como nunca. Cem bilhões de seres humanos por aqui passaram antes que esse privilégio fosse a nós concedido pela relação simbiótica da ciência e da técnica.

Magnífica em sua plenitude e emoldurada por uma gélida Antártica, a Cordilheira dos Andes denuncia os esforços crustais que ergueram os sepulcros de répteis gigantescos para o substrato do lago mais alto do mundo.

O traço alvo das montanhas geladas sublinha a barreira intransponível para a umidade oceânica que divide o fecundo ambiente onde florescem as uvas chilenas, do inóspito, mas não menos belo, deserto patagônico argentino.

A Bacia do Amazonas fulgura num espontâneo sorriso verde, rasgado. O imenso rio que lhe dá nome nem parece mais o mesmo que anteontem desaguava no Oceano Pacífico; com seu curso invertido pelas forças colossais do interior da Terra, hoje exibe a franja dourada do delta na costa do pacífico Atlântico.

Quase posso ver a mais rica fauna de peixes pulmonados do planeta em plena floresta, alguns à espreita de pássaros e à cata de frutos! Foi o mar pré-histórico que se retirou aos poucos, deixando atrás de si dunas promissoras de florestas e ancestrais saudosos da imensidão oceânica, combatendo pela sobrevivência futura de seus parentes fluviais e lacustres.

Em azul claro, ao topo, a plataforma do Caribe, testemunho de seres cujos ancestrais perdidos no tempo profundo tornaram a vida possível para nós. Defronte ao Equador, as Galápagos, inspiração para uma das maiores realizações do intelecto humano. E no canto superior, à direita, um pedacinho de África que, outrora ligado à nossa margem equatorial, fica quatro centímetros mais distante a cada ano.

Vejo e imagino tudo isso pelo privilégio de um olho mecânico que, tal qual teorema feito aparato útil, esquadrinha cotidianamente as intimidades desta imensa bola azul. Ela, que talvez abrigue solitária, a mais complexa forma de organização jamais atingida pela matéria neste incomensurável Universo.

"E gente é outra alegria diferente das estrelas".

A letra de Terra (Caetano)

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Turista, não deixe Teresópolis falir

Os turistas debandaram de Teresópolis assim que souberam da enxurrada. Ao contrário de Nova Friburgo, que teve a zona urbana devastada, o Centro de Teresópolis não foi afetado, assim como as principais áreas turísticas. Ao contrário de Nova Friburgo, a estrada Rio-Teresópolis está interrompida apenas para as obras da terceira pista, no sistema Pare-Siga, ao qual já estamos (mais do que) acostumados: é uma obra necessária, que logo tornará a viagem mais rápida e segura.

Temos bairros arrasados, 300 mortos (até 20/1), sim, é verdade. Mas também temos muita ajuda, assim como Nova Friburgo -- que precisará de determinação, coragem e dinheiro para recomeçar quase que do zero. Imensa solidariedade aos nossos vizinhos do norte!

Teresópolis, contudo, está ameaçada de duplo castigo. O medo paralisou 80% da nossa atividade econômica, segundo disse o secretário de Turismo na TV O Diário de Teresópolis. A cidade vive de turismo e agricultura – esta, arrasada em 90%; hortaliças, então, em 93%, com previsão de retomada apenas em 2 anos, porque o solo fértil foi lavado pela enxurrada. Então, para nossa sobrevivência, o turismo será fundamental.

Turistas, não deixem Teresópolis falir! Veranistas, voltem à cidade! Neste fim de semana, pegue a estrada e venha nos visitar: a Feirinha do Alto estará aberta e também o Terê-tour, os restaurantes, os shoppings.

Salve Terê!

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Flash da tragédia na Região Serrana

Eu diria que estou corroído por dentro e moído por fora!!
Frase de Alfredo Rebello, o @A_Rebello do Twitter, sumido da rede há dias: é da defesa Civil de Guapimirim, no pé da Serra de Terê, cidade que, como nada sofreu, está ajudando as comunidades vizinhas!
Como trabalho na Defesa Civil de Guapimirim, fiz de tudo um pouco. Fui a Teresópolis três dias, caminhão pipa, resgate, donativos 
Abastecemos a DP, o Ginásio Pedrão, levamos água potável à def civil e ao quartel dos bombeiros... resgatamos um corpo... 
e além de tudo isso, estamos em alerta aqui em Guapi... vistorias, cadastro de moradores, etc
e ainda não consegui ver minhas filhas :-(  
 Muita tristeza, muita dor, mas meu coração está em paz!! Só espero que isso não aconteca mais!!!!!!
Obrigada a Guapi e ao @A_Rebello!!!!

sábado, 15 de janeiro de 2011

Como rola uma barreira

Queda de barreiras sobre as casas da Rua Cristina Ziede, no Centro de Friburgo. Foi filmada por moradores e depois passou na Globonews. Divulgado pelo tuiteiro @bdugin, friburguense morador do Rio que está desenvolvendo um trabalho espetacular de informação sobre a tragédia em Friburgo: ele faz twitcams todos os dias, horas a fio, quando fala por rádio com amigos em Friburgo, dando notícias sobre o caos nos bairros. Os estadão fez matéria sobre o trabalho dele.

Se você não tem conta no Twitter (onde "morei" nesses 3 últimos dias, postando as informações ao meu alcance sobre a tragédia), acompanhe os tuiteiros pelo portal colaborativo TeiaLivre, que criou uma coluna que "passa" as mensagens que contêm a tag "#ChuvasRJ"

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O público embrenhado no privado

Publiquei ontem outra coluneta SUS na Teia no Teia Livre -- portal colaborativo ainda em fase de testes, mas cada vez melhor, confira só! --, desta vez sobre fundações estatais de direito privado na saúde pública. À noite, já com a cabeça no travesseiro, fiquei pensando na anticonclusão do texto. Fundação estatal? Sim, não, muito pelo contrário, mais ou menos... afinal, o quê? Não soube concluir: para uns, as fundações melhorariam o problema de gestão. Para outros, o SUS precisa é de mais dinheiro, para ser então completado e funcionar como preveem a Constituição e a Lei 8.080. E me deu um estalo: não importa!

Na verdade, a questão principal foi pincelada no fim do texto: o problema do SUS é que estamos cada vez mais nos distanciando do SUS. Por isso vou reproduzir aqui um texto imenso que a Radis publicou em janeiro de 2010, por acaso, a última matéria que editei. Trata-se da fala no 9º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva (out-nov/2009, em Pernambuco) do ativista Mário Scheffer (na foto), um jornalista-cidadão que pensa o SUS como poucos. O título: "O público está privado". Abaixo, a matéria, que é do Bruno Dominguez. A melhor matéria jamais escrita sobre o SUS. Se o debate sobre o sistema não enveredar logo por este caminho não chegará a parte alguma.
***

fotos: Aristides Dutra
“Todos aqui defendemos com veemência e com convicção o sistema público de saúde, mas também imagino que boa parte, quando precisa de um atendimento médico, recorre ao setor privado”. A referência não tinha intenção de provocar constrangimentos, esclareceu, mas de mostrar que a mesa navegaria por águas difíceis, sem saber ao certo onde atracar. “O risco do naufrágio está posto”. Para Scheffer, a discussão sobre o tema tem sido estéril, “para não dizer esterilizada”.

O debate foi se tornando plebiscitário, disse, como no caso das fundações estatais, ou asséptico, pelo baixo nível de formulação da interface entre SUS e planos privados e na pouca atenção dispensada à agenda do complexo industrial da saúde. “Isso tem que ser encarado como problema da saúde coletiva”, defendeu.

A discussão não é mesmo fácil, ressalvou, razão pela qual tem sido mais animada do que esclarecida. “Os termos público e privado são comumente colocados lado a lado para ilustrar oposições: governo e mercado, o todo e a parte, o aberto e o fechado”. O privado seria necessariamente egoísta e destinado aos ricos; o público, excessivamente generoso e dirigido aos pobres. Mas os limites nem sempre são claros: a presença permanente do privado no sistema levou a mudanças tanto na forma de pagar os serviços quanto na de gerir e fornecer assistência. Os sistemas universais de saúde pelo mundo, comparou, contam com proporção elevada de gastos públicos, em torno de 70%; no Brasil, cerca de 60% são do setor privado. “Temos um sistema universal e uma estrutura de gastos liberal”.

Scheffer afirmou que ganha terreno a tese de que o direito universal à saúde é inviável: “A frase da hora é que o tudo para todos é impossível”. Mas todos seguem se mostrando a favor do SUS, inclusive empresários. “É uma unanimidade artificial”. Os sanitaristas estão pouco mobilizados diante das mudanças que vêm sendo impostas. “Até mesmo segmentos autodeclarados progressistas estão resignados; ou, no poder, à frente das aproximações com o privado.”

A influência vai além da subtração de recursos. O SUS tem convênios com serviços privados para compartilhamento de instalações e equipamentos. Destina recursos públicos à demanda e à oferta tanto de serviços privados quanto de planos. Permite o duplo vínculo, deixando livre o trânsito de profissionais de saúde e pacientes. Mais: cargos de confiança e de gestão têm sido ocupados por pessoas que, além de não integrarem as carreiras do serviço público, têm ligação direta com o privado. Novos marcos legais, municipais e estaduais, autorizam a gestão de hospitais por entidades privadas — OSs, fundações, filantrópicos. E o complexo industrial da saúde é dependente, dada a baixa capacidade nacional.

“Além das iniquidades, os custos administrativos e assistenciais dos sistemas baseados em múltiplas organizações de compra de serviços são elevados e terminam por restringir o acesso e comprometer a qualidade da atenção”. O sanitarista criticou a atuação da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS ), que acaba de ser “totalmente capturada por grupos de interesse” — dois representantes de planos privados foram nomeados para a diretoria, agora composta majoritariamente por pessoas vindas do mercado. “Essa é uma decisão de governo, várias forças atuam nessas indicações, mas é triste pensar que um sanitarista foi conivente com a entrega da ANS aos interesses do mercado”.

A rede privada de saúde é desproporcional quando comparada à fatia da população coberta por planos e seguros, cerca de 25%. Da rede instalada, são privados cerca de 60% dos hospitais, 90% das unidades de diagnóstico e terapia, serviços que concentram 54% dos postos de trabalho de médicos, 32% dos de enfermeiros e 40% dos de auxiliares de enfermagem.

Recentemente, os planos e seguros privados têm sido questionados pelo mundo, como no debate sobre a reforma da saúde nos EUA: “A reforma do Obama faz uma pergunta até singela: onde está a eficácia do privado, quando ele gera instituições (no caso, as seguradoras) que se preocupam mais com os lucros do que com o bem-estar da clientela?” Na opinião do sanitarista, os planos privados jamais assegurarão a integralidade da atenção, pois são organizados para atender demandas espontâneas e limitados pelos contratos.

Deve-se rechaçar a visão de que há dois sistemas não-relacionados e distintos no Brasil, conclamou: o SUS, o “sistema dos pobres”, e os planos e seguros de saúde, para trabalhadores formais e classe média. Os planos lucram com a exclusão de procedimentos de alta complexidade e alto custo assumidos pelo SUS, com o dinheiro público destinado ao financiamento de planos para o funcionalismo, com a fila dupla dos hospitais universitários, com a isenção de impostos, com os recursos do Tesouro empregados na ANS, com a formação de fundos e créditos para planos de saúde. E ainda com os subsídios indiretos, como a dedução no Imposto de Renda dos gastos com assistência suplementar.

“Na prática, devido ao apoio tácito do público ao privado, essas regras segmentam o sistema de saúde, que é um só: desigual e concentrado”, opinou. Para ele, é irônico que justamente a inscrição da saúde como bem de relevância pública, na Constituição de 1988, seja usada por instituições privadas para se valerem de políticas públicas de investimento, crédito e proteção fiscal. Ao acionar esses benefícios, o privado se opõe à regulação do Estado e não permite a extensão dos princípios e diretrizes do SUS a suas atividades.


Nhónhónhó bom é em casa

Rafael Andrade/Folhapress
Estava quase indo dormir quando resolvi dar uma olhada na Folha. Entre as porcariadas tucano-PIGuentas de sempre -- "São Paulo alagada", "Dilma rejeita ampliar espaço do PMDB no núcleo do governo -- achei essa: Acaba show de Amy Winehouse no Rio; público reclama da duração". Parece que a moça, por sinal, ótima, cantou só 15 músicas (contra 17 em Floripa) e o povo achou o espetáculo curto demais.

Embora os ídolos "do meu tempo", por mais bêbados e drogados, raramente esquecessem as letras das músicas (será mesmo? velhotes cismam que o passado era dourado), como a Amy faz, prefiro mil vezes uma Amy cantando nhónhónhó (é o que ela emite quando esquece a letra) e pouquinho do que uma I*ve*te San*ga*lo em show de 3 horas com a íntegra daquele lixo todo dela na ponta da língua. Além do mais, fã da Amy não tem que reclamar de P nenhuma, sabe o que está comprando. Bem faço eu que baixo as músicas dela e fico ouvindo aqui em casa. A-do-ro aquele nhónhónhó e não reclamo.

Mas o melhor da matéria da Folha era a seguinte frase:
Celebridades, como Gabriela Duarte, Paola Oliveira e Fernanda Lima assistiram à apresentação.
¿¿¿¿ Who ????

Nunca ouvi falar. As celebridades do meu tempo, garanto a vocês, eram bem mais célebres. 

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Abaixo a ritalina e a escola burra!

"Bebam" este vídeo. Para variar, indicação do Marco Aurélio (o meu filho, não o ministro). Ia traduzir (uma coisa simples, agora que descobri este site), mas um companheiro do blog Saúde com Dilma avisou que já traduziram! O dono desta voz espetacular e desta dicção maravilhosa é Sir Ken Robinson, premiado especialista britânico em educação da RSA, Royal Society for the encouragement of Arts, sociedade real de incentivo às artes que tem como slogan "Iluminismo do século 21"! Eles têm várias animações como esta, todas encantadoras, já vistas por mais de 15 milhões de pessoas! Na noite de domingo o vídeo abaixo já estava no acesso nº 2.355.210, acreditam?

No site deles lê-se: "À luz dos novos desafios e oportunidades para a raça humana, a RSA pretende desenvolver e promover novas formas de pensar sobre a realização humana e o progresso social. Fazemos isso oferecendo uma plataforma de ideias e debatesum programa de pesquisa e desenvolvimento inovador e as atividades de nossa irmandade de 27 mil integrantes. Ao combinar liderança, engajamento social e poderosas formas de colaboração, a RSA pode dar contribuição vital e única à capacidade cívica". Bom, hein? Os caras falam o tempo todo de justiça e progresso social. Se temos de copiar alguma coisa dos gringos é isso!


Aproveitem! (Para ver no Youtube clique 2 vezes; para que a legenda apareça clique no quadradinho "CC".)

domingo, 9 de janeiro de 2011

Uma surpresa na placa do Rolls


Que surpresa tive hoje ao entrar no Diário Gauche! O blogueiro usou a foto inteira (de Celso Júnior/AE) como cabeçalho. Não conhecia essa imagem, senão lhe teria dado lugar de honra no dia da posse. Abaixo, a foto inteira. Não é um espetáculo? Parabéns ao Celso pela ideia e o clique certeiro. Ele entende de simbolismos...

sábado, 8 de janeiro de 2011

Esses romanos são uns neuróticos!

Fico matutando: há uns 200 italianos acusados de crimes políticos foragidos da Justiça, alvos de intermináveis processos judiciais em tribunais estrangeiros. Unzinho apenas foi extraditado (em 2002), Paolo Persichetti. Por que cargas d’água Roma, com sua tradição milenar de terrorismo de Estado contra egípcios, judeus, cristãos, mouros, cartagineses, bretões, gauleses, godos, visigodos, ostrogodos – continue aí, nem me lembro quantos povos mais a Roma Antiga esmagou com práticas imperialistas, escravagistas E terroristas –, é tão obcecada com Cesare Battisti? Roma tirou cidades inteiras do mapa chacinando seus habitantes, “julgando” e condenando milhares à execução sumária. O terror é romano, e não francês... Nem menciono os crimes del Duce, que o terror fascista é por demais recente e conhecido. 

Pois Battisti foi condenado pela morte (suposta morte, aqui até vale esse adjetivo covarde) de quatro pessoas, inclusive um agente da polícia política italiana (em julgamento repleto de vícios, afirma-se), certo. Mas foram assassinatos po-lí-ti-cos, cometidos em nome de uma organização po-lí-ti-ca (o PAC). É natural que receba asilo po-lí-ti-co – ele afirma ser inocente e declara que abandonou o terrorismo político depois do assassinato de Aldo Moro pelas Brigadas Vermelhas, em 1978. A França se recusou por anos a fio a extraditar Battisti, segundo sua Doutrina Mitterand, e nem por isso os dois países romperam relações.

A Itália deixou Battisti fugir da cadeia em 1981 e continua em desespero 30 anos depois... Esses romanos são mesmo uns neuróticos, já dizia Obelix! Esqueçam o cara, perderam e pronto. Que tal investigar os crimes del Signore Berlusconi? São muito mais graves, não são não? E se nosso STF parar de afrontar a Constituição, viu, ministro Peluso?, ele em breve poderá voltar a publicar seus livros. Quem sabe retome sua antiga revista, a Via Libre. Ou fique de pernas pro ar, sei lá. Porque o Brasil é ir-re-du-tí-vel na não-extradição, que nem aquela aldeia gaulesa lá em cima! Viu, ministro Peluso?

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Era só o que faltava!


Ministro repreendido por Dilma foi de brigada que lutou no Araguaia

Roberto Schmidt/AFP (FSP)
O general de Exército José Elito Carvalho Siqueira, 64, novo ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), graduou-se na mesma época e na mesma brigada de paraquedistas que combateu a Guerrilha do Araguaia (1972-1975).

Nomeado para o primeiro escalão de um governo que se diz disposto a construir narrativa oficial sobre as mortes e desaparecimentos na ditadura, Elito assumiu o cargo na segunda-feira se posicionando contra a criação da Comissão da Verdade e dizendo que os desaparecidos são um "fato histórico" do qual "nós não temos que nos envergonhar ou vangloriar".

A declaração deu origem a um pedido de explicações da presidente e ex-guerrilheira Dilma Rousseff e criou mal-estar no governo. Dilma aceitou a alegação de que ele teria sido mal interpretado.
Procurado pela Folha, Elito não esclareceu se atuou ou não no combate à guerrilha.

Continua aqui. (via @safiratt)

***
A matéria saiu na sexta, Joselito só desmentiu no sábado. Custava esperar pra publicar? Mas publica sem ouvir a fonte. O desmentido sempre tem pouco ou nenhum impacto. Folha se distancia cada vez mais do jornalismo.

A favor da política da pelada

O querido Luis Nassif, que tem um blog maravilhoso para que se ouçam muitas vozes, tem dado voz a uma turma rouca, obsoleta, que se recusa a avançar com o conjunto da sociedade. Aí Marco Aurélio (o meu filho, não o ministro do STF) postou o seguinte:

***
Caro Nassif,
Aqui no seu blog, que é, sem dúvida, um espaço referência de democracia na internet brasileira, aprendi, dentre outras muitas coisas, a evitar as generalizações. Pois tenho identificado o uso recorrente desse recurso em relação ao que se convencionou chamar de "politicamente correto".
Politicamente correto é algo livre de conteúdo ofensivo, a minorias discriminadas, principalmente. Não há nada de errado nisso! 
Está-se incorrendo na confusão sistemática de "politicamente correto" com "moralismo". Quem acusa o politicamente correto de tornar o mundo mais chato nega-se a considerar a relação de troca em que você pode perder em humor (do tipo que depende de algum preconceito pra existir), mas ganha em harmonia social.
Em pelada, como não há juiz, só há uma forma de evitar confusão generalizada: pediu falta, é falta! Quem decide se houve a falta é quem a sofre. Pois tem que ser meio assim. Se alguém se sentiu ofendido a ponto de reclamar, é porque houve ofensa! Tem que levar em consideração a opinião do ofendido. Alguém vai se ofender sem razão? Pode ser, mas vai ser o ponto fora da curva. Igual na pelada.
"Ah, é chato", pode ser, mas mudar é chato. Ninguém gosta. Eu tô disposto a me chatear um pouco pra ver menos "mayaras petrusos" e "luiz carlos prates" no futuro. Porque eles estão diminuindo, e vão continuar a diminuir, se a gente se dispuser a mudar. Mesmo que seja "chato".
Marco Nascimento,
a favor da política da pelada

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

O discurso foi bom mesmo?

Fotos da posse: Marcello Casal Jr/ABr
O ministro @Paulo_Bernardo brincou no Twitter com os 140 zilhões de toques do discurso de @padilhando em sua posse no Ministério da Saúde. Exagerou. Alexandre Padilha falou apenas 53.952 caracteres - com espaços! :-) Um longo discurso, é verdade. Para alguns, muito bom; para outros, uma “montanha russa de altos e baixos”, como se vê no blog Saúde com Dilma. O jovem e simpático ministro tuiteiro deu alguns golpes em certos temas caros aos defensores do SUS e da Reforma Sanitária (talvez devesse ter lido um discurso formal nessa estreia: no improviso informal fala-se alguma coisa impensadamente).

Cheia de esperança com esse ministro infectologista e “suseiro” de formação, vou me atrever a “traduzir” alguns trechos para quem não conhece bem a saúde pública e comentar outros à luz de princípios e diretrizes do SUS, o nosso Sistema Único de Saúde, um dos mais importantes resultados da Constituição Federal de 1988. A mesma que definiu: “Saúde é direito de todos e dever do Estado”.

Por sinal, @padilhando trocou a foto do avatar. Agora usa uma da posse, em que a marca do SUS tem grande destaque!

Paralelamente, cumprimentos aos funcionários da assessoria de comunicação do Ministério da Saúde: trabalharam desde o fim da cerimônia de posse, depois das 19h, até tarde da noite para que fosse possível a publicação, às 23h16 do próprio dia 3, da íntegra do discurso. Tarefa hercúlea: só na análise levei três dias. Valeu!

Meus modestos comentários estão nos trechos em azul.

***

Boa tarde a todos, boa tarde a todas.

Já começou respeitando a língua do P.C. (linguagem politicamente correta)!
 
E pelo visto eles vão ter que se acostumar com o ministro twitteiro, que se utiliza das redes sociais, que acha que esse é um instrumento importante de comunicação, de escuta e diálogo com a sociedade.

Sou fã do ministro tuiteiro, mas vou ficar mais feliz se ele mantiver diálogo permanente com as conferências de saúde, o Conselho Nacional de Saúde, a “rede” em geral do controle social, que andou um tanto abandonada pelo ministro Temporão.

(...) Seria muito mais difícil assumir o Ministério da Saúde do Brasil, Temporão, se não fosse suceder esta geração de ministros que ao longo desses oito anos construíram um conjunto de avanços no SUS. Eu quero, em nome do Temporão, saudar aqui o nosso primeiro ministro do governo do presidente Lula, Humberto Costa, hoje senador da República pelo estado de Pernambuco. Daqui a pouco ele vai fazer a trajetória do Giovanni Berlinguer na Saúde, viu? Se preparem aí.

O italiano Giovanni Berlinguer, que muitos consideram o “pai da Reforma Sanitária brasileira”, é sanitarista, bioeticista, professor de Medicina Social. Hoje com 86 anos, foi eleito várias vezes deputado e senador pelo Partido Comunista Italiano e integra desde 2004 o Parlamento Europeu como representante dos Democratici di Sinistra (DS), os democratas de esquerda. Um de seus maiores feitos políticos, a aprovação em maio de 1978 da Lei do Aborto, da qual foi relator, chamou atenção da imprensa mundial “pela autoridade moral, competência e habilidade com que conduziu o processo” num país católico como a Itália, nas palavras do bioeticista Volnei Garrafa. Visitou o Brasil pela primeira vez em 1951 ainda como líder estudantil -- Carlos Lacerda logo propôs a expulsão deste perigoso “espião russo”. Nos anos da ditadura, “seus livros eram lidos às escondidas, passando cuidadosamente de mão em mão. Mais recentemente, no início dos anos 90, mudou-se com armas e bagagens do campo da Saúde Pública para a Bioética, sem deixar de manter os olhos voltados para as questões ideológicas, sanitárias e coletivas que nortearam toda sua longa vida pública”, diz Volnei.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Dilma passa pito no Joselito!



Hoje vou dormir em paz! Obrigada, Dilma!

***
Dilma repreende general do GSI por fala sobre ditadura

Leonencio Nossa, Estadão, 4/1/2011, 23:01

A presidente Dilma Rousseff repreendeu hoje o general José Elito de Carvalho Siqueira, ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), por dizer em entrevista, na segunda-feira, que não é motivo de vergonha para o País o desaparecimento de presos políticos durante a ditadura militar (1964-1985). Foi o primeiro 'puxão de orelha' de ministro do novo governo.

Escolhido para comandar os seguranças e arapongas do governo, José Elito pediu desculpas a Dilma pela declaração polêmica, segundo fontes do Planalto. Ao longo do dia, ele já tinha recebido recados de assessores de que Dilma não gostou do comentário sobre as vítimas do regime militar. Ao ser recebido à noite pela presidente, ele chegou a jogar a culpa na imprensa, afirmando que sua declaração foi 'mal interpretada'. A presidente aceitou a desculpa.

Torturada na época da ditadura, Dilma fez um discurso, no dia da posse, em que afirmou não ter ressentimentos e rancores. Antes mesmo de assumir, ela chamou os comandantes das Forças Armadas para dizer que não haveria 'revanchismo' e pedir que não houvesse por parte dos militares 'glorificação' do golpe de 31 de março de 1964, que derrubou o presidente João Goulart e implantou uma ditadura de 21 anos no País.

Desde a distensão política, no final dos anos 1970, famílias de adversários da ditadura e entidades de direitos humanos cobram do Estado brasileiro a localização dos restos mortais de 138 vítimas da repressão consideradas 'desaparecidas políticas'.

***
Dica de O Esquerdopata via @denisearcoverde

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Que venha logo essa Comissão da Verdade!

A entrevista é de outubro, foi publicada na Folha, a autora é a Cantanhêde, mas... nada é perfeito. As palavras do grande magistrado espanhol estão valendo mais do que nunca. (A dica é do Marco, o arquivo é do Nassif, a foto é do Guardian.)
*** 
"Para virar a página, é preciso lê-la", afirma juiz sobre anistia

Baltasar Garzón diz que criar Comissão da Verdade é questão de tempo no Brasil. "Há sempre resistência [à revisão da lei], mas os acontecimentos e as cortes internacionais dão o impulso", avalia

Eliane Cantanhêde, Folha, 14/10/2010

Famoso internacionalmente depois de pedir a prisão do ditador chileno Augusto Pinochet por violação de direitos humanos, o juiz Baltasar Garzón diz que a revisão da Lei da Anistia, a criação da "Comissão da Verdade" para investigar crimes da ditadura militar e a abertura dos arquivos de torturas e desaparecimentos são uma questão de tempo no Brasil. "A discussão sobre a Lei da Anistia é algo que está vivo na sociedade brasileira", disse Garzón, que completa 56 anos no dia 26. "Para virar a página, é preciso lê-la antes."

Após 16 anos de FHC e Lula, o Brasil não avançou no debate sobre a revisão da Lei da Anistia. Por quê?

Baltasar Garzón - As leis de anistia não têm mais sentido hoje em dia. Há um consenso de juristas e democratas de que não se pode aceitar anistia para crimes contra a humanidade ou de tortura. Isso é polêmico aqui, até porque houve decisão do Supremo Tribunal Federal, mas a Corte Interamericana de Direitos Humanos nos ajudará a compreender em novembro onde estão os limites e que interpretação se dá hoje à anistia. Como isso acontecerá no fim do governo, Lula estará mais livre para liderar a revisão da Lei da Anistia? Lula tem sido muito atuante na defesa dos direitos humanos, o que é um grande ativo do Brasil no âmbito internacional. Nisso se inclui toda a rede de proteção social para que a pobreza mingue e haja mais igualdade social. Quanto à Lei de Anistia, imagino que vai depender da interpretação da lei, interna e internacionalmente.

O futuro presidente poderá avançar na questão da anistia, já que os dois candidatos combateram a ditadura?

A sociedade e o Judiciário é que têm de dar impulso maior para que o Legislativo crie a Comissão da Verdade para pôr a primeira pedra numa reconciliação nacional verdadeira. Alguns vão tentar dizer que a discussão está fechada e não interessa reabri-la. Não é verdade, tanto que se continua cobrando, discutindo. A discussão sobre a Lei da Anistia é algo vivo na sociedade.

Por que o Brasil foi a única democracia da região que não reviu a Lei da Anistia?

Como na Espanha... Mas devemos lembrar que todos os países optaram originalmente também por não reformar nem anular essas leis.

Mas no Brasil essa resistência não está durando demais?

Poderia ir mais rápido, sim, mas, se analisamos a média dos países, estamos falando de 15, 20 anos para mudar. Como a lei do Brasil é de 1979, é agora que está se produzindo essa reflexão.

Como sr. vê o argumento de setores de que a Lei da Anistia já é uma reconciliação e que se deve virar a página?

Para virar a página, é preciso lê-la antes. Para encerrar um capítulo e passar a outro, é preciso tê-lo lido. Se não for assim, sentiremos a falta de não ter lido a história direito e não compreenderemos os capítulos seguintes. A verdade não dói e, se dói, nunca deve ser ocultada. Será sempre melhor conhecê-la.

"Pelada": esse filme eu queria ter feito

Acabo de assistir a um documentário interessantíssimo no Discovery: Pelada, de um casal de jogadores de futebol universitário louco por bola. Embora até bons -- ela achava que seria a melhor jogadora do mundo --, não conseguiram chegar ao nível profissional.

Contrariando a família, juntaram dinheiro, largaram tudo e saíram pelo mundo para filmar... pelada. Eles não queriam filmar o Barcelona ou o Chelsea, apenas peladas, gente jogando "em troca de nada, só por jogar".

O filme é de um bucolismo emocionante. A primeira parada deles é. claro, no Rio. Peladas na praia, na rua, no campinho furreco. E do Brasil partiram pra Bolívia, depois pra África, e daí à China -- onde filmaram uns moleques bons de malabarismo. "Se perdermos aqui, onde achávamos que seríamos bons, não ganharemos em lugar algum...", comentaram eles. Os comentários são deliciosos. Num campinho em Jerusalém onde árabes e judeus disputam suas peladas em meio a muita briga, a reflexão dela é de uma sinceridade dolorida: "Não tenho nada de inteligente a dizer sobre a força do futebol promovendo a paz, porque isso não vai acontecer aqui. Eles não jogam futebol, eles jogam uns contra os outros".

O trecho final é no Irã. Em toda parte eles pedem para entrar nas partidas, e quase sempre conseguem. E no Irã ela até participou de uma pelada de homens, vestida da cabeça aos pés. Jogou bem a danadinha, driblou, fez tabela, deu passe, peladeira boa, elogiada pelos iranianos. Felizes, estavam para ir embora quando souberam que foram "denunciados ao governo". Os funcionários perguntaram sobre o filme, sobre as peladas que viram pelo mundo, o papo ficou agradável e acabou tudo bem. Sim, às vezes o futebol promove a paz.

Ah, o casal é americano, Luke e Gwen. Por essa você não esperava, hein? Veja trailers aqui.

***
Só o futebol mesmo pra me distrair do desgosto que me deu a fala do general.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Um fato grave no novo governo

Se faltava a prova de que a ditadura é um cadáver insepulto que o Brasil não se atreve a enterrar ela veio hoje, claríssima, no discurso de posse do novo ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional -- um homem que trabalhará ao lado da presidenta Dilma, vítima de tortura sob o regime militar. Também trabalha perto dela a ministra-chefe da Secretaria de Direitos Humanos, que prometeu hoje na posse a criação (tão esperada) de uma comissão da verdade que dê fim ao cadáver. Como isso vai ficar? Quem indicou tal general a Dilma cometeu sério erro. Na minha humilde opinião, temos em pleno Palácio uma incompatibilidade grave de propósitos. Abaixo, a matéria do G1.

*** 

'Temos que pensar para frente', diz novo ministro do GSI

General José Elito Carvalho Siqueira assumiu o cargo nesta segunda (3). Ministra de Direitos Humanos pediu que Congresso implemente comissão

O general José Elito Carvalho Siqueira disse nesta segunda-feira (3), ao tomar posse como novo ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que não se deve ficar "vendo situações do passado", sobre a possibilidade de criação da Comissão da Verdade para investigar a violação de direitos humanos ocorrida durante o período da ditadura militar (1964-1985).

Na manhã desta segunda, a nova ministra da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Maria do Rosário, defendeu a criação da comissão com o argumento de que “é mais do que chegada a hora” do país prestar esclarecimentos. “Nós somos funcionários de Estado. O que o Estado determinar, cabe a nós, funcionários do Estado, cumprir. Vamos fazer com a maior das boas intenções, porque todos nós vamos agir em benefício da nação”, afirmou o general.

Ministro-chefe do GSI disse ainda que o dia 31 de março de 1964, deve ser tratado como fato histórico. “O que é o 31 de março de 1964? Golpe, movimento 'a' ou 'b', não. O movimento de 1964, hoje, já faz parte da história. Da mesma forma que um dia falamos do 11 de junho, da Batalha de Riachuelo, do 7 de setembro, proclamação da Independência do Brasil. Hoje, se nossos filhos e netos forem estudar em uma escola vai estar lá o 31 de março como um fato histórico. Temos que ver o 31 de março como um dado histórico para a nação, seja com prós e contras, mas com um dado histórico. Da mesma forma os desaparecidos”, afirmou.

O general José Elito Siqueira também falou que não há, inicialmente, intenção de fazer mudanças no comando da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). “Somo funcionários do Estado então a tendência na Abin e em toda a GSI não é de mexer. Vamos, em princípio, manter as estruturas para termos continuidade no trabalho, mas claro, sempre haverá em uma área outra alguma substituição, que é natural”, disse.

Matéria do G1 via @_marel

Difícil de acreditar, visse? Mas é.



Levanta, Serra!

O homem parece piada pronta...

Lula assediado, Dilma à vontade

Em São Bernardo, Lula desiste de comprar pão na padaria

Segundo amigos, ex-presidente voltou ao ver os jornalistas que o aguardavam em frente ao prédio

Tadinho do Lula! Já a Dilma, parece que se sentou sempre nesta cadeira, não?

Foto: Roberto Stuckert Filho/PR

Por sinal, este senhor é o petista Marco Maia, presidente da Câmara dos Deputados. Muito prazer.

Miliquice é brega! Abaixo a miliquice!


Foto: Itamaraty (@MREBRASIL)
Sabiam que tiraram o povão desse espaço central da Praça dos Três Poderes para que os canhões fossem disparados "com mais segurança" na posse da Dilma? Fiquei injuriada com isso. E pergunto: disparar canhão para quê? Somos um país civil, a ditadura (formal*) acabou há anos, a presidenta eleita não é da Forças Armadas, então para que cerimonial militarizado da posse? Hoje cedo rolou no Twitter um debate maneiro. Marco (o @) comentou que o capacete dos Dragões da Independência é a coisa mais brega da República. Respondi que tiro de canhão é brega, continência é brega, militarismo é brega. E por aí foi. (Se quiser ter uma ideia, o minidebate está aqui; só que precisa ler de baixo para cima.)

*Por mim, enquanto for permitido que uma turma da Aman se chame fascisticamente de Garrastazu Médici a ditadura existe informalmente, pelo menos na cabeça dos milicos. Isso precisa a-ca-bar!
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