quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Mais sobre Israel “rogue nation”

De bombas de fósforo a roubo de passaportes: há algum crime que Israel não cometa?!

Justin Raimondo, Anti War, 19/2/2010; tradução: Caia Fittipaldi

Quando o mundo afinal decidirá que Israel foi longe demais – e porá fim a tantos desmandos?

Quando Israel invadiu e começou a ocupar territórios palestinos, impondo ali um regime em tudo semelhante ao apartheid da velha África do Sul, o mundo fez que não viu nem ouviu. Afinal, Israel estaria lutando para sobreviver e, além disso, havia conversações de paz em andamento. O supliciamento diário dos palestinos talvez fosse só temporário, uma espécie de mal inevitável, talvez até necessário, porque tudo parecia ter alguma espécie de vago prazo de validade, com data marcada para terminar, quando, afinal, se assinaria um acordo de paz.

Quando já era evidente que a paz não passava de quimera, e que continuavam invasões e roubos de terra palestina para instalar assentamentos – de fato, sempre foram colônias exclusivas para judeus e ocupação patrocinada por Israel – e tornar irreversível a ocupação, o mundo outra vez fez que não via nem ouvia.
Afinal, todos sabiam que Netanyahu tinha de enfrentar eleitorado israelense cada vez mais direitista, e seu governo estava por um fio: ninguém esperava que o presidente Obama endurecesse com Telavive; assim, ninguém se surpreendeu quando deu em nada a tentativa, de Obama, de pôr fim à construção de colônias ilegais em terras palestinas. Pelo que se viu, nem Obama estranhou muito.

O bombardeamento e o continuado bloqueio de Gaza, os bárbaros ataques contra o Líbano e as repetidas violações de direitos humanos fartamente documentadas no Relatório Goldstone, tudo isso comprometeu consideravelmente a imagem de Israel, mesmo entre os seus mais obcecados apoiadores. Israel é hoje considerado “Estado terrorista”, “rogue nation”, nação bandida, pelo menos fora dos EUA. Uma das principais razões para essa mudança no modo como o mundo vê Israel tem a ver com as atividades do Mossad, o Instituto encarregado de ações no exterior e de parte significativa dos serviços de inteligência de Israel.

Com reputação de ser capaz de cometer qualquer tipo de crime, só superada pela da velha KGB, os serviços israelenses de inteligência são conhecidos pela crueldade e pelas táticas pouco ortodoxas. Houve tempo em que essa reputação valia como vantagem na guerra da propaganda: a ação dos espiões israelenses em Entebbe foi convertida em filme de sucesso. Mas, de serviço encarregado de resgatar reféns, o Mossad está hoje convertido em agência de assassinatos em solo estrangeiro, como se viu recentemente em Dubai, onde o Mossad assassinou Mahmoud al-Mabhouh, comandante militar do Hamás.




Não é propriamente novidade: o Mossad, há anos, converteu em seu esporte preferido o assassinato de adversários políticos em solo estrangeiro. De novidade, que provocou susto até entre os aliados de Israel, foi, isso sim, a arma escolhida dessa vez no arsenal do Mossad: o roubo de passaportes e identidades. Como noticiou The Telegraph:

“Ministros ingleses estão enfurecidos, ao saber que os espiões israelenses que assassinaram um líder do Hamás em Dubai usavam os passaportes de seis cidadãos britânicos, os quais, hoje, vivem em situação de grave risco, ameaçados de sofrer represálias. Israel, que não negou estar envolvida no assassinato, havia garantido que o Mossad não usaria passaportes britânicos como recurso de acobertamento em suas ações secretas.”

Os seis são cidadãos britânicos que vivem em Israel, onde o Mossad teve pleno acesso aos seus documentos: o Mossad apenas precisou recolher, clonar e enviar os passaportes aos agentes em Dubai. Em Dubai esses seis agentes reuniram-se a outros 12, com o que formaram perfeito batalhão de 18 – número suficiente para que a operação seja classificada como operação militar e, de fato, como miniinvasão de Dubai, o suficiente para enfurecer também as autoridades dos Emirados Árabes Unidos.

A Interpol divulgou fotografias de 11 (até agora) espiões identificados, e distribuiu boletim em que diz:
“A Interpol tem motivos para crer que os suspeitos associados a esse assassinato tenham roubado documentos de pessoas reais. Portanto, o boletim “Red Notices” especifica que os passaportes usados foram clonados para cometer o crime. A INTERPOL decidiu divulgar as fotos e os nomes obtidos mediante fraude, para impedir que os suspeitos de assassinato continuem a viajar livremente, usando os mesmos passaportes clonados” (24/2/2010, http://www.interpol.int/).

Se há instituição que corporifica essa abstração chamada “comunidade internacional”, é sem dúvida a Interpol, que coordena a captura de gangues de bandidos internacionais, traficantes, barões da droga, e, sim, assassinos do Mossad. Que a agência secreta israelense seja considerada como obstáculo à missão da Interpol – a ponto de ser preciso tomar medidas de divulgação, para “impedir que os suspeitos de assassinato possam continuar a viajar livremente” – diz muito sobre a gravidade do crime praticado pelo Mossad. Dessa vez, não há dúvidas de que Israel ultrapassou todos os limites do razoável.

Não chega a ser exatamente novidade, do lado dos israelenses: na Nova Zelândia, como muitos ainda lembram, havia há alguns anos em operação uma “fazenda” em que se produziam passaportes em larga escala. Os agentes do Mossad identificavam alguém incapacitado, ou que lhes parecesse pouco qualificado para viajar ao exterior e – sem que a vítima suspeitasse – requeriam passaportes em seu nome. Quando foram descobertos, os israelenses negaram tudo, mas a polícia já desmontara o esquema, e os espiões israelenses viraram foto de primeira página em vários noticiários em todo o mundo.

Por um triz a Nova Zelândia não rompeu relações diplomáticas com Israel; e os israelenses, embora jamais tenham admitido o que todos já sabiam, fizeram alguns movimentos de desculpas. O caso foi praticamente ignorado pela mídia ocidental fora da Nova Zelândia. Depois, o assunto caiu no esquecimento.

Agora, o mesmo problema volta às manchetes, embora em tom muito mais grave: nada tão distante do centro do mundo como a Nova Zelândia, mas, dessa vez, as poderosas Grã-Bretanha, França, Alemanha, Irlanda e possivelmente outras nações ocidentais cujo sistema de passaportes pode ter sido violado. O mais grave é que o Mossad, dessa vez, parece ter começado a inventar novos passaportes de israelenses que têm dupla cidadania. Segundo o jornal Ha'aretz: “Cinco israelenses que têm dupla cidadania, israelense e alemã, e cujos nomes constam dos passaportes apreendidos, alegaram não ter qualquer ligação com o assassinato em Dubai.”

Se os serviços de inteligência de Israel alcançam níveis tão extraordinários de invenção e reprodução (algumas traduções falam em clonagem) de passaportes e reproduzem passaportes de israelenses com dupla nacionalidade, o sistema de passaportes – peça essencialmente importante para garantir a segurança, sobretudo no transporte aéreo, em tempos de “guerra ao terror” – deixou de ser confiável e, no limite, perdeu completamente a utilidade.

Israel é nação de cidadãos de outras nacionalidades, criado a partir do deliberado trabalho de Israel para levar para lá judeus de todo o mundo; muitos israelenses têm dupla nacionalidade. Os EUA não têm estatísticas de seus cidadãos de dupla nacionalidade, mas o número de cidadãos americanos que também são cidadãos israelenses é considerável: todos vivem hoje sob a ameaça de ter suas identidades roubadas e clonadas para servirem aos propósitos de um exército de terroristas assassinos israelenses.

Só há um caminho para resolver esse problema crescente: extinguir o estatuto da dupla nacionalidade e exigir que os cidadãos americanos escolham. Sim. Há uma decisão da Suprema Corte que impede esse procedimento, mas nada que não se supere com emenda à Constituição. Num momento em que preservar a integridade do sistema internacional de passaportes seja condição necessária para evitar ataques terroristas em território dos EUA e contra americanos, qualquer trabalho extra vale bem a pena para tapar esse buraco na segurança nacional dos EUA.

A evidência de que Israel já ultrapassou todos os limites civilizados, em sua campanha internacional de assassinatos e intimidação, deve inspirar todas as nações civilizadas a unirem-se e protestar.
O governo de Dubai já requereu a prisão do diretor do Mossad, sob acusação de assassinato. Com um ministro de Negócios Exteriores que é o equivalente israelense de David Duke, mentor da Ku Klux Klan, déspota nada esclarecido e política exterior equivalente, é hora de espantá-los de volta para de onde nunca deveriam ter saído. O modo de fazê-lo é negar a Israel o apoio incondicional que tem recebido há décadas e trocar essas facilitações de relações “soft” por relações mais duras, se Israel quiser voltar a integrar a comunidade ocidental civilizada.

O mundo já não pode fingir que nada vê e nada ouve. Israel já comprometeu muito gravemente a segurança do transporte aéreo internacional em todo o planeta. Somos todos, hoje, possíveis reféns do Mossad.
É hora de os EUA e outros países ocidentais porem rédeas nesse Estado-fantoche, mas nem por isso menos Estado-bandido, antes que seja tarde demais e haja muitos outros assassinatos a lastimar, produzidos pelo Mossad israelense.

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