sábado, 4 de setembro de 2010

GPS dos porões

Abaixo, alguns textos que podem elucidar os lances sujos do jogo político atual, que se pode resumir como "bala de prata". Se está difícil usá-la contra Dilma, ela já abateu Aécio Neves no famoso episódio do "Pó pará, governador?", recado truculento que os paulistas mandaram ao mineiro. O texto abaixo é do Blog da Dilma de 7 de junho. Muito bem escrito, não é assinado, embora o site tenha trocentos editores. Um bom acompanhamento de alguns fatos está no blog Terra Goyazes, do excelente Alberto Bilac de Freitas Nobre (ele tem parceiros), autor da esclarecedora "Cronologia da bala de prata", que citei mais abaixo. O post "Quem com 'Caso Lunus' fere, com 'Ricardo Sérgio' será conferido" fala do livro Os porões da privataria (neste link, role a página para ler a estarrecedora introdução, imperdível; dá pra sacar de vez a ligação da grande mídia com o sistemão do tucanato -- do contrário aquilo seria manchete todo dia). De Amaury Ribeiro Jr., virou xodó do nosso amado PH Amorim. Sei que é muito link, mas não tem jeito, são os caminhos escuros e escusos do porão político.

Blog da Dilma [foi uma luta conseguir o texto, a página atualiza automaticamente], segunda-feira, 7 de junho de 2010

Pó pará, governador? (Aécio Neves) Os dossiês escancarados da Folha de S. Paulo
Em 4 de março de 2009, a Folha publicou – numa seqüência de exemplares da mesma artilharia pesada – um artigo criticando de forma agressiva a pressão do governador mineiro Aécio Neves pela realização de prévias democráticas no PSDB para a escolha do postulante à Presidência da República.

Àquela altura, segundo a sempre oportuna prontidão do Datafolha, Serra teria 45% das intenções de voto, contra apenas 17% de Aécio Neves que mal disfarçava o propósito de implodir a blindagem em torno do rival paulista levando a disputa para fora do jogo de cartas marcadas arbitrado pela endogamia entre a cúpula tucana e a mídia do Sudeste. Os xiliques de Serra e a agressividade dos recados emitidos pela Folha demonstravam que nem um, nem outro, confiavam de fato nos confortáveis índices oferecidos à opinião pública interna e externa pelo instituto de pesquisas que ancora manchetes emergenciais do jornal da família Frias. É nessa linha de tensão que surge o artigo cujo título trazia uma insinuação cifrada de represália sem limite contra o mineiro, caso insistisse em se colocar na disputa contra o tucano paulista: “Pó pará, governador?” era a chamada enigmática para alguns, mas inteligível para os círculos que já ouviram insinuações sobre o uso de drogas aspiráveis pelo governador de Minas Gerais.

A sombra da represália, na forma de munição ainda mais pesada, ficava explícita no parágrafo final do artigo-recado. Depois de denunciar o controle do mineiro sobre a imprensa do Estado ["em Minas imprensa e governo são irmãos xifópagos"], o texto concluía com uma ameaça nada velada: ‘Aécio devia refletir sobre o que disse seu grande conterrâneo João Guimarães Rosa: "Deus é paciência. O diabo é o contrário. E hoje talvez ele advertisse: 'Pó pará, governador?'".

É desse campo minado por uma luta que dificilmente fará de Aécio um cabo eleitoral mais que formal de José Serra, que explodiu o resultado de anos de trabalho de um dos mais premiados jornalistas investigativos do país. A coleção de dados e cifras envolvendo a família, os amigos, assessores de confiança de José Serra, suas ligações societárias e eleitorais com a família de Daniel Dantas, o envolvimento do conjunto com privatizações e movimentos milionários de dólares dentro e fora do país em empresas de fachada – esse latejante paiol de nitroglicerina pura forma hoje um livro sucinto de 14 capítulos. A edição e possível veiculação do petardo depois da Copa do Mundo deixa o insone confesso José Serra cada vez mais distante de uma noite de sono dos justos. Pior que isso: torna mais improvável ainda que ela ocorra um dia na cama do Palácio do Planalto.

Bem, achei o artigo mencionado no Estadão, com data de 28 de fevereiro, e não na Folha de 4 de março. Terá a Folha reproduzido? Fui verificar e não encontrei. Eis o texto:

Pó pará, governador?

Mauro Chaves, O Estado de S.Paulo, 28 de fevereiro de 2009 | 0h00

Em conversa com o presidente Lula no dia 6 de fevereiro, uma sexta-feira, o governador Aécio Neves expôs-lhe a estratégia que iria adotar com o PSDB, com vista a obter a indicação de sua candidatura a presidente da República. Essa estratégia consistia num ultimato para que a cúpula tucana definisse a realização de prévias eleitorais presidenciais impreterivelmente até o dia 30 de março - "nem um dia a mais". Era muito estranho, primeiro, que um candidato a candidato comunicasse sua estratégia eleitoral ao adversário político antes de fazê-lo a seus correligionários. Mais estranho ainda era o fato de uma proposta de procedimento jamais adotada por um partido desde sua fundação, há 20 anos - o que exigiria, no mínimo, uma ampla discussão partidária interna -, fosse introduzida por meio de um ultimato, uma "exigência" a ser cumprida em um mês e meio, sob pena de... De quê, mesmo?

O que Aécio fará se o PSDB não adotar as prévias presidenciais até 30 de março? Não foi dito pelo governador mineiro (certamente para não assinar oficialmente um termo de chantagem política), mas foi barulhentamente insinuado: em caso da não-aprovação das prévias, Aécio voaria para ser presidenciável do PMDB. É claro que para o presidente Lula e sua ungida presidenciável, a neomeiga mãe do PAC, não haveria melhor oportunidade de cindir as forças oposicionistas, deixando cada uma em um dos dois maiores colégios eleitorais do País. E é claro que para o PMDB, com tantos milhões de votos no País, mas sem ter quem os receba, como candidato a presidente da República, a adoção de Aécio como correligionário/candidato poderia significar um upgrade fisiológico capaz de lhe propiciar um não programado salto na conquista do poder maior - já que os menores acabou de conquistar.

Pela pesquisa nacional do Instituto Datafolha, os presidenciáveis tucanos têm os seguintes índices: José Serra, 41% (disparado na frente), e Aécio Neves, 17% (atrás de Ciro Gomes, com 25%, e de Heloisa Helena, com 19%). Por que, então, o governador de Minas se julga capaz de reverter espetacularmente esses índices, fazendo sua candidatura presidencial subir feito um foguete e a de seu colega e correligionário paulista despencar feito um viaduto? Que informações essenciais haveria, para se transmitirem aos cerca de 1 milhão e pouco de militantes tucanos - supondo-se que estes fossem os eleitores das "exigidas" prévias, que ninguém tem ideia de como devam ser -, para que pudesse ocorrer uma formidável inversão de avaliação eleitoral, que desse vitória a Aécio sobre Serra (supondo que o governador mineiro pretenda, de fato, vencê-las)?

Vejamos o modus faciendi de preparação das prévias, sugerido (ou "exigido"?) pelo governador mineiro: ele e Serra sairiam pelo Brasil afora apresentando suas "propostas" de governo, suas soluções para a crise econômica, as críticas cabíveis ao governo federal e coisas do tipo. Seriam diferentes ou semelhantes tais propostas, soluções e críticas? Se semelhantes, apresentadas em conjunto nos mesmos palanques "prévios", para obter o voto do eleitor "prévio" cada um dos concorrentes tucanos teria de tentar mostrar alguma vantagem diferencial. Talvez Aécio apostasse em sua condição de mais moço, com bastante cabelo e imagem de "boa pinta", só restando a Serra falar de sua maior experiência política, administrativa e seu preparo geral, em termos de conhecimento, cultura e traquejo internacional. Mas se falassem a mesma coisa, harmonizados e só com vozes diferentes, os dois correriam o risco de em algum lugar ermo do interior ser confundidos com dupla sertaneja - quem sabe Zé Serra e Ah é, sô.

Agora, se os discursos forem diferentes, em palanques "prévios" diferentes, haverá uma disputa de acirramento imprevisível. E no Brasil não temos a prática norte-americana das primárias - que uniu Obama e Hillary depois de se terem escalpelado. Por mais que disfarcem e até simulem alianças, aqui os concorrentes, após as eleições, sempre se tornam cordiais inimigos figadais. E aí as semelhanças políticas estão na razão direta das diferenças pessoais. Mas não há dúvida de que sob o ponto de vista político-administrativo Serra e Aécio são semelhantes, porque comandam administrações competentes.

Ressalvem-se apenas as profundas diferenças de cobrança de opinião pública entre Minas e São Paulo. Quem já leu os jornais mineiros fica impressionado com a absoluta falta de crítica em relação a tudo o que se relacione, direta ou indiretamente, ao governo ou ao governador.

O caso do "mensalão tucano" só foi publicado pelos jornais de Minas depois que a imprensa do País inteiro já tinha dele tratado - e que o governador se pronunciou a respeito. É que em Minas imprensa e governo são irmãos xifópagos. Em São Paulo, ao contrário, não só Serra como todos os governos e governadores anteriores sempre foram cobrados com força, cabresto curto, especialmente pelos dois jornais mais importantes. Neste aspecto a democracia em São Paulo é mais direta que a mineira (assim como a de Montoro era mais direta que a de Tancredo). Fora isso, os governadores dos dois Estados são, com justiça, bem avaliados por suas respectivas populações.

O problema tucano, na sucessão presidencial, é que na política cabocla as ambições pessoais têm razões que a razão da fidelidade política desconhece. Agora, quando a isso se junta o sebastianismo - a volta do rei que nunca foi -, haja pressa em restaurar o trono de São João Del Rey... Só que Aécio devia refletir sobre o que disse seu grande conterrâneo João Guimarães Rosa: "Deus é paciência. O diabo é o contrário."

E hoje talvez ele advertisse: Pó pará, governador?

Mauro Chaves é jornalista, advogado, escritor,administrador de empresas e pintor.

2 comentários:

Truda disse...

Estou preocupado. O glonline festejou hoje à tarde uma pesquisa interna do PT que teria detectado perda de 10% nos formadores de opinião. Vai que a gente acorda amanhã de manhã e 32 milhões de eleitores decidiram mudar de candidato só porque é 7 de setembro?

mari disse...

É, mas o Nassif já desmentiu (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/tracking-do-pt-nao-mostra-recuperacao-de-serra). O pasquim tá desesperado.

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