Comício de Obama em St. Louis |
Barack Obama vem aí. Os amigos lembram que em 2008 esta bloguinha encheu sacos amplos e gerais acompanhando obsessivamente a eleição dele (são muitos posts, procurem por McCain ou Obama, Palin ou Biden). Só não pude votar, o resto fiz. Afinal, tínhamos engolido todas as derrotas possíveis em 8 anos de Bush, da invasão do Iraque às medidas de restrição ao aborto. Obama venceu. A alegria durou pouco. Não curti muito o discurso da posse, depois exaltei a frase "We are a nation of Christians and Muslims, Jews and Hindus – and non-believers", menção inédita aos ateus; critiquei o primeiro Estado da União. A decepção veio devagar e sempre. Eu parecia aquela senhora negra que disse a ele num dos townhalls que ele promoveu: “Estou exausta de defender o senhor e profundamente desapontada” (veja o vídeo aqui).
Eu também fiquei. Tanto que parei de defender e agora só meto o pau. Pois bem, meu companheiro Len, do Ponto&Contraponto, publicou no Teia Livre o texto De joelhos, esperando Obama chegar. Apoiei totalmente. Fiquei inspirada e pensei em mostrar quem é o Obama da Casa Branca, apontando todos os feitos e desfeitas dele. Mas ia exigir um esforço de que esta senhora aposentada aqui não dispõe mais. Então decidi indicar dois filmaços que baixei e vi no domingo: Inside job, sobre a crise de 2008, e Fair game, sobre a via crúcis da espiã Valerie Plame Wilson no governo Bush.
Ambos tratam de episódios conhecidos. Tudo aquilo a gente já sabia, acompanhou em tempo real. Mas ambos mostram os cantos mais sórdidos de Nova York e Washington D.C. Imundos mesmo, gosmentos, repletos de insetos rastejantes que, é lamentável, dominam este planetinha bobinho. E a eles Obama se rendeu total, covarde e vergonhosamente. Como a postejada ficou enorme, vamos primeiro de Inside job.
Inside job – “o filme que custou mais de US$ 20 trilhões para ser feito” –, do diretor Charles Ferguson, é um trabalho infatigável (e às vezes fatigante, como brincou com as palavras este resenhista aqui) sobre a crise financeira dos Estados Unidos. Personagens abjetos desfilam diante de seus olhos apresentados pela voz quase sem emoção ou adjetivos de Matt Damon. Você fica horrorizado pelos fatos, pelo passado deles, pelo contexto histórico em que atuaram. E seu queixo cai: como esses insetos chegaram ao governo? Follow de money.
Nessa tarefa, o documentário se divide em cinco partes: “Como chegamos aqui” é a primeira, que mostra como as atividades financeiras foram pouco a pouco desregulamentadas, deixadas ao sabor da fome de lucro – graças a todos os presidentes a partir de Reagan; a segunda é “A bolha”, que conta como as transações de risco perderam contato com a realidade entre 2000 e 2007; a terceira, “A crise”, que explodiu em 2008, detalha como quebraram, um atrás do outro, Bear Stearns, Lehman Bros etc. A quarta, “Responsabilização”, trata dos homens que fabricaram a crise e continuam ricos e impunes: alguns estão no governo Obama, outros “ensinam” economia em escolas famosas e aparecem na mídia vendida vomitando suas mentiras; a última parte, “Onde estamos agora”, prova: sob Obama, nada mudou.
O filme conquistou um Oscar (Paul Krugman ficou feliz, eu fiquei feliz, todo mundo ficou feliz), mas quando ele termina você compreende não apenas o que são os malditos CDSs que derrubaram a economia americana e a de vários países, mas também como bancos e financeiras tomaram conta do planeta inteiro. A única conclusão possível é muito da desinfeliz, a mais pessimista possível: não há saída. Os insetos dominam congressos, assembléias, câmaras, ministérios, entidades de classe, tudo. Nada se faz sem eles. Entendi demais o Lula depois de ver esse filme: fez o que deu, e foi muito. Já Mr Obama, nada fez. Ele pode vir ao Brasil 20 vezes que eu não estarei nem aí.
7 comentários:
Mari,
que post espetacular..instigante...vou atualizar as besteiras que escrevi sobre o "camarada"Obama e porei no teia..
Arnobio
Excelente Mari,
A relação com os filmes foi perfeita. abração
Arnobio, também fui ver os meus de 2008! Descobri que votei no Gabeira no 1º turno, PQP... mas a intenção era detonar o Crivella!
Len, estou escrevendo a parte 2, mas que parto... como a política é mais complicada, vixe!
Só não se pode perder a esperança. Se a perdermos, vamos entrar em depressão profunda e morrer. Isto é sério.
Portanto, fico feliz que no Brasil tenhamos um governo que faz o que dá: come pelas beiradas.
Como o prato é muito grande, o centro vai demorar a esfriar, mas pelo menos temos alimento para a esperança e para a vida.
Abusei do simbolismo, mas vocês vão me entender.
eu entendi, Veruska, mas o problema é que to mesmo em depressao. nao acho que vá morrer, mas é uma daquelas fases em que vc olha pros lados e só vê desgraça: Líbia, Barein, SUS, cultura, Obama...
Curuzes, vou arrumar um pé de arruda!
Tirando a nossa má administração do planeta, nosso sistema poderíamos dizer que está entrando no outono (ou no inverno?).
As mudanças são inevitáveis e vamos ter mesmo mudanças difíceis para enfrentar.
Várias catástrofes que aconteceram a muitos e muitos e muitos anos estão em seu ponto de acontecer novamente. Então é preciso viver o melhor possível a nossa vida e cuidar de nós mesmos.
Cada pessoa, cada país vai ter que enfrentar seus problemas e ser responsável por suas ações.
Nada de depressão porque ela tira nossa energia e, o que é pior, danifica o nosso cérebro. Se com ele funcionando não é fácil, imaginem com ele demenciando.
Completando.
Temos que cuidar das crianças e dos adolescentes. Nada de demenciar e deixar este pepino para eles.
Se nós, que temos experiência de vida, não aguentarmos o tranco, quem o fará?
Temos que batalhar por uma educação de qualidade, por bons equipamentos sociais etc. Devemos isto às novas gerações, principalmente aqui no Brasil.
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