sábado, 5 de março de 2011

Comuna de Paris, 140 anos de simbolismo

O Twitter é mesmo sensacional. @NilDeOliveira71 anunciou e @na_faixa reproduziu a notícia de que a França prepara dezenas de festejos pelos 140 anos da Comuna de Paris (nos 150 anos será, imagino, la chose la plus folle...). A programação está aqui, num site tão dramático quanto aqueles dias intensos de furor democrático.

A Commune de Paris, a mais curta e mais famosa insurreição popular da história -- analisada até por Marx, quer maior status que este??? --, durou uns dois meses, de 18 de março a 28 de maio de 1871. E não aconteceu apenas em Paris: Marselha, Lyon, Saint-Étienne, Narbonne, Toulouse, Le Creusot, Limoges, muitas cidades e vilas instalaram suas comunas poucos dias depois, no rastro da experiência da capital (e não existia Twitter, ouviram bem, adoradores das "redes sociais"?). O povo acumulava frustração em cima de frustração desde a Revolução Francesa (1789),  cansado de guerras e derrotas. Até que ficou maduro uns 80 anos depois e foi pro pau. Bem, maduro é modo de dizer, já que não teve força para manter o poder. Mas que foi pro pau, foi, tanto que o governo francês não quis saber: executou sumariamente milhares de communards, num banho de sangue digno da tradicional "democracia francesa" -- essa mesma, sempre saiu matando ao longo de sua história, em território francês ou nas colônias.

Na "Semaine sanglante", a Semana Sangrenta, de 22 a 28 de maio de 1871, o resultado terrível: as forças versaillaises fuzilaram 30 mil  communards, embora os números "oficiais" afirmem que foram "apenas" 17 mil. Segundo a Wiki, a repressão contou com nada menos de 400 mil delações, das quais somente 5% não eram anônimas... e há registro de 43.522 prisões, das quais 819 mulheres e 538 crianças (com 7.700 presos "por engano").


Em sua curta vida a Comuna consagrou o tal "governo do povo, pelo povo e para o povo", democracia direta fincada na cidadania ativa, diz a Wiki. Inclusive o direito à insurreição, como pregava a Constituição de 1793, virou "o mais sagrado dos direitos e o mais imprescritível dos deveres". Um luxo (quase) perdido, não é mesmo?

Pense num avanço democrático: os communards adotaram. Entram nessa conta a força nacional popular (todas os cidadãos "válidos", em contraposição a "inválidos", eram da guarda nacional) e a liberdade total de imprensa (os jornais anti-Comuna continuaram a circular numa boa). A mulher, que teve papel fundamental nos eventos, foi emancipada. E foram elas, as mulheres da Comuna, que decidiram separar o Estado da igreja e introduzir o ensino laico nas escolas! Porretas!

Por fim, mas não por último, o exemplo para nossos tempos xenófobos: a Wiki lembra que a Comuna recebeu de braços abertos os estrangeiros: "Considerando que a bandeira da comuna é a da República universal; considerando que toda cidade tem o direito de dar o título de cidadão aos estrangeiros que a servem...".

Não é à toa que um dos eventos programados pelos franceses terá o título de "La Commune de Paris (1871) -- Une histoire moderne".

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