É bom acreditar no aviso de abertura: "Embora baseado em história real, este filme não representa nenhum personagem ou evento verdadeiro". Primeiro porque Miller tinha 57 anos de idade e 28 de NYT quando foi presa, então nunca poderia ser desenhada como foquinha inocente de rabinho de cavalo como a mostra Kate Beckinsale -- 34 aninhos durante as filmagens, cara e corpinho de 25, um filho de 7. Segundo que ela jamais escreveu matéria revelando o nome de Valerie Plame. Ela escreveu outras porcarias, mas não esta, que coube ao coleguinha Bob Novak, o Príncipe das Trevas, em coluna no Washington Post intitulada Mission to Niger. Judith Miller apenas estava presente quando a informação foi vazada pelo bandido Scooter Libby, assessor de Dick Chenney.
Terceiro que o filme não conta uma palavra sobre as matérias dela anteriores à invasão do Iraque, indecentemente mentirosas. Por exemplo, esta de 8/9/2002, em que ela e Michael R. Gordon "reportam" a interceptação de tubos reforçados que serviriam para a bomba do Iraque. Matéria de capa, minha gente, com informações atribuídas a "funcionários americanos" e "especialistas americanos em informação". Olhem esse trecho:
"A insistência obstinada de Saddam Hussein em perseguir suas ambições nucleares, ao lado do que desertores descreveram em entrevistas como o esforço do Iraque para melhorar e expandir os arsenais químicos e biológicos de Bagdá trouxeram o Iraque e os Estados Unidos à beira da guerra".
Foi essa matéria que Condoleezza, Colin Powell e Donald Rumsfeld brandiram para "provar" que Saddam era um louco nuclear. Descoberta e desmentida, ela ousou afirmar: "Meu papel não era avaliar informações do governo, nem fazer análise independente do trabalho da inteligência, mas informar sobre o que pensava o governo". É dose ou quer mais?
Quarto, a história é distorcida de maneira tal no filme que o sigilo de fonte vira um ato ético -- na cabeça do roteirista, a fonte secundária que ela preserva confirmara que era da CIA a agente que investigara atentado ao presidente e desmentira a participação de Caracas -- mesmo assim os EUA atacaram a Venezuela! Nobre, não?, quando na verdade Miller protegia os bandidos que, em retaliação ao marido de Valerie Plame (ele desmentiu que Saddam comprara urânio no Níger), abriram a identidade da agente. A fonte primária da Beckinsale no filme era uma criança inocente, pode? E não Scooter Libby, um dos servos mais abjetos de Dick Chenney e Karl Rove! O grande informante de Dona Miller sobre o Iraque era Ahmed Chalabi, um safado que em troca das mentiras passadas a Miller ganhou cargo no governo-fantoche iraquiano.
James Carville ironizou em 2005: estava na dúvida se o problema de Judith Miller se referia à Primeira Emenda (liberdade de expressão) ou à Quinta Emenda (direito ao silêncio para não se incriminar).
Quinto, o jornal, no filme, é um modelo de bom jornalismo. Quem acompanhou sabe que o NYT fez um papelão dando cobertura a Dona Miller em toda a sua carreira de falsidades, uma Jayson Blair apenas mais velha. Segundo a Salon, "desde seus primeiros dias no Times, quando emplacou desinformação da CIA em matéria sobre a Líbia, ela sempre foi instrumento do poder. Era a voz do Departamento de Estado embedded no Times."
Para completar, o filme é chato que dói. Claro, fica difícil sustentar uma heroína com base numa profissional indecente. E o pior é que em 2 de janeiro ela apareceu no Fox News Watch, onde trabalha desde 2008, criticando Julian Assange pelos vazamentos do Wikileaks! "Mau jornalista", disse, "não se preocupa em verificar as informações que divulga nem se vai afetar alguém". É inacreditável o cinismo da mulher que ajudou a mandar à morte mais de 100 mil pessoas desde a invasão...
2 comentários:
Pô, entregou o final do filme... :))) Que aliás é boçal mesmo.
Beijos!
ah, num entreguei não... entreguei? puxa, mas o filme é de 2008! :-))))
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