Esta segunda parte das “boas-vindas” a Barack Obama, vou avisando, é bem mais confusa do que a
primeira – afinal, o dinheiro a gente já sabe mesmo que “
vai acabar com tudo, bububu…”, né, Niemeyer? Começo citando o pacifista americano David Swanson, um cara maneiro que no dia 15/3, no artigo
Obama é ainda pior do que Bush?, fez balanço francamente desanimador dos 2 anos e pouco do meu ex-amado. “John Dean, conselheiro da Casa Branca de Richard Nixon, anteviu na era Bush que seu sucessor seria ou o melhor ou o pior presidente da história americana”, começa ele. “Desfaria os abusos e processaria os criminosos que os praticaram ou protegeria os criminosos e continuaria com os abusos”.
Obama
ruma a galope para a segunda alternativa. Swanson afirma que, se os abusos eram secretos sob Bush, com Obama viraram política pública formal. “Mesmo o poder de assassinar qualquer um, inclusive americanos, virou – por decreto de Obama – questão puramente de capricho presidencial, sem exigência de autorização de qualquer outra pessoa ou órgão legislador”.
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Naomi e Sean, quase idênticos |
E o que esse fracasso todo tem a ver com o filme
Fair game, de Doug Liman, que conta a imunda história da exposição de Valerie Plame Wilson como agente da CIA pelos falcões da guerra de Bush e seus capachos na mídia? Bem, vamos lá. Valerie caiu na armadilha de um chefete e sugeriu num memo interno o envio a Níger de seu marido, Joseph Wilson – ex-embaixador dos EUA no Gabão, com centenas de viagens à África –, para apurar a intermediação de toneladas de urânio para a bomba do Iraque. O pedido, na verdade, viera de um sujeito chamado
Irve Lewis "Scooter" Libby, serviçal absolutamente asqueroso de Dick Cheney, o vice-presidente mais absolutamente asqueroso da história americana. Libby esteve em Langley pessoalmente para encomendar esse serviço extraordinário ao embaixador.
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Valerie e Joe "reais" |
Era fevereiro de 2002, e Joe Wilson volta do Níger convencido de que os rumores sobre o urânio são infundados. Seu relatório, mostrando por A + B que teria sido impossível o transporte dessas volumosas quantidades do minério pelo país, é devidamente assinado, datado e entregue às autoridades. Num belo dia de janeiro de 2003, ele vê Bush anunciando no discurso do “State of the Union”, no Congresso, a passagem desse urânio pelo Níger – usando seu relatório como “prova” e “justificativa” para a invasão do Iraque! (Junto com a insustentável história dos tubos de alumínio reforçado que Saddam teria comprado para a montagem de centrífugas, estava pavimentado o caminho para Bagdá;
acompanhei muito esse episódio.) O Iraque foi invadido em março de 2003. Em julho, Joe escreveu artigo-bomba,
What I Didn't Find in Africa (o que não encontrei na África), que o New York Times prontamente publica. Scooter Libby fica furioso. Ele e Karl Rove, outro falcão da guerra asqueroso da era Bush, espalham a colunistas amestrados que a mulher de Wilson, agente da CIA, é que o enviou a Níger. E isso é só o início da bárbara campanha de desmoralização do casal.
O filme não mostra o
papel repugnante no episódio da “jornalista” Judith Miller, ex-NYT, hoje Fox News. Falo mais dela um outro dia. O roteiro tem outras falhas, claro. Afinal, é fiel aos livros de memórias de
Valerie e
Joe Wilson. Ela aparece como agente-anjinho, ele como paladino da verdade. Mas fizeram lá o trabalho deles, botaram o Scooter na cadeia, demitiram o Rove. O filme mostra o cinismo gosmento dos falcões, as mentiras deslavadas, a covardia evasiva, as manobras rastejantes. Nem os vermes são tão baixos.
E o Obama? O Obama, meus amigos, nada fez. Toda a corja de genocidas que jogaram os Estados Unidos numa guerra sangrenta com base em mentiras deslavadas está livre como passarinho. Seus métodos continuam valendo na Casa Branca de David Axelrod e na CIA de Leon Panetta (até deu
demonstração pública de amor incondicional à CIA). Enquanto o presidente pratica
omissão criminosa, a tortura continua em Guantánamo, em Bagram, nos black sites da CIA e mesmo em Quantico, a poucos quilômetros da Pensilvannia Avenue. O confinamento de Bradley Manning, vocês me desculpem, é a pá de cal que faltava para comprovar a rendição de Obama aos insetos mais abjetos de todos: os torturadores.
PS: David Swanson
programa manifestação em frente à Casa Branca na tarde de 19 de março! David, Obama estará no Brasil!
4 comentários:
Como é possível não falar da Judith Miller, que inventou ter recebido uma carta contendo "antrax" (era talco) e forçou a evacuação do prédio do NYT, antes de dedurar a Valerie como espiã da CIA?
ah, mas isso é o de menos, foi só carnaval. o pior foi ela ter ficado 85 dias presa pra nao dizer a fonte do vazamento e ser considerada heroína, para afinal dizer que a fonte foi o Rove! sem falar que foi autora ou coautora das matérias sobre os tubos reforçados e o urânio no Níger, usadas pelos falcões pra justificar a guerra! e era tudo invenção do chalabi, o safado há 30 anos fora do Iraque q prometeu os "tubos reforçados" aos EUA se derrubassem o Kadafi.
Vc queria dizer o Sadam, né? Kadafi ainda resiste (rs,rs,rs)
hehehehe, claro! :-)))
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