Cada vez que passa eu vejo Falcão Negro em perigo (Black Hawk Down, Ridley Scott, 2001). É impressionante. A Somália dando lição a americano... Não há um filme de "ação" hoje em dia que não mencione o fiasco de Mogadíscio -- paradoxalmente, pouquíssimo filmado. É tabu.
Para resumir, em 1993 dois helicópteros deles foram derrubados em plena capital da Somália, Mukdixu na língua local, terra de ninguém dominada e violentada por facções rivais de rebeldes injuriados com a ocupação da Somália pela Etiópia. É, os esfarrapados invadiram os rotos. Os corpos esquartejados de soldados americanos foram arrastados pelas ruas de Mogadíscio (a foto aérea, de 1991, mostra como essas ruas eram), após sucessão de erros crassos dos comandantes: 18 morreram, quase 100 ficaram feridos, um desastre.
Obama deveria fazer o mesmo que eu antes de se aventurar como louco no Afeganistão.
Em países sem poder central não dá pra entrar e arrebentar. O engraçado -- engraçado??? -- é que a Veja na época disse que o filme foi uma patriotada do diretor. Como se vê, eles são burros há tempos: o filme mostra o tremendo non-sense da presença americana na Somália, e olha que DESSA VEZ era autorizada pela ONU. Scott descreveu os "rebeldes" como assassinos degenerados. Os caras ERAM assassinos degenerados, que da forma lá deles lutavam contra invasores. Como nos demais países africanos em guerra civil. Nem precisa ir ao cinema pra saber disso, né não? Até a mídia mostra!
Bem, a Somália deveria ter sido o aviso definitivo ao Pentágono: fica na tua que guerra irregular não é a tua praia. Mas qual. O complexo industrial-militar precisa renovar estoque e girar -- girar, atente bem: girar -- 100 bi por ano. Probleminha é quando o cartão de crédito de uns 30 milhões de cidadãos explode, o dinheiro pra pagar a tripoteca quarteirizada não aparece na conta de uns 5 milhões de mutuários e essa grana sujinha (os tais 100 bi), que costumava quebrar o galho dos bancos, tá lá enterrada pelo quinto ano consecutivo em guerras (Iraque/Afeganistão) que eram pra ser rapidinhas. Dá crise.
8 comentários:
Os gastos com a manutenção do capitalismo vão levar os EUA a situação tão desesperadora e prolongada, que o país terá de interromper o tradicional intervencionismo.
A estrela de xerife do mundo estava na carteira com muitas notas de dólar. Só que a carteira sumiu e o xerife não tem mais como provar o poder que dizia ter.
Ah, outra coisa: o tirambaço das hipotecas ainda vai render por tempo difícil de se determinar.
Segundo a Miriam Leitão, DEZ MIL famílias perdem suas casas por dia nos EUA. Vezes 30 = 300 mil. Vezes 12= 3 milhões e 600 mil num ano.
Até o momento, os pacotes de combate à crise somam a bagatela de U$S 15 trilhões. Ou dez anos do PIB brasileiro.
Logo, logo, alguns países entrarão em moratória. Dívidas serão auditadas e os cruéis pagamentos de juros serão suspensos.
Alguma dúvida de que o mundo como a gente conheceu está indo para o vinagre?
Mari,
Brilhante análise. Ainda não li em lugar nenhum esta relação feita de forma tão clara.
Puxa, brigada, Vera.
Ruy, que conta espetacular. É isso mesmo.
Já imaginaram a inflação americana pra botar esse dinheiro na rua? E o déficit, que com Bush já era de 2 trilhões? Impagável. Não vai ter dinheiro pra pagar salário de servidor! Já pensou?
Mas é uma economia muito rica. Quem sabe?
Sem chance!
O capital substituiu o ralo da banheira por um bueiro de rua.
Pode abrir as torneiras, que a água não chega nem a empoçar.
Esqueci de assinar o comentário.
Tava lendo um livro para a faculdade e topei com uma observação do Benjamin Franklin - aquele baixinho de óculos da vovó, mais conhecido como o inventor do pararraio (é assim, agora?)- um dos founding fathers:
(...)"quem ganha tudo o que pode honradamente e guarda tudo o que ganha (excetuando os gastos necessários) sem dúvida alguma chegará a ser rico" se deus quiser.
Sei que é papo weberiano, de ética protestante (embora o BF fosse estivesse mais pra Locke e Montesquieu e o Weber nem tinha nascido), mas quando vc torna o cidadão um consumidor desvairado de SUVs, pelo menos duas coisas se perdem: a cidadania (Patriot Act) e a própria casa.
Muito bem dito.
Postar um comentário