quarta-feira, 27 de abril de 2011

A apaixonante Líbia que não conhecemos

Claudia Antunes enviou o excelente texto abaixo sobre a Líbia. Esclarece um milhão de coisas – por exemplo, o papelão da União Africana! – e ainda refresca a memória dos mais velhos sobre acontecimentos remotos. Além de tudo, é super bem-escrito! Foi publicado na edição de abril da London Review of Books. O autor, jornalista com coluna semanal no al-Masri al-Youm, o diário privado mais vendido do Egito, nasceu em Rabat, no Marrocos. Vive no Cairo desde 2000, escrevendo sobre Egito e Oriente Médio para várias publicações, como The Economist, Financial Times, Foreign Policy. Quando vi a foto lembrei que sempre o ouço na Jazira. É muito bom, muito cético e realista. Aproveitem o artigo, é tão informativo quando delicioso de ler. Desculpem algum erro de tradução. (Se clicar nas imagens, todas acrescentadas por mim para atenuar a "metragem", a maioria aumenta.) Valeu, Claudinha!


Existe uma Líbia?

Issandr El Amrani, London Review of Books, Vol. 33 Nº 9 · 28/4/2011

Mahmoud Jibril, do Conselho
Enquanto escrevo há um impasse na Líbia. Cidades como Misurata e al-Baida, pontos de passagem entre a Cirenaica, no leste, e a Tripolitânia, no oeste, estiveram alternadamente em mãos de rebeldes e legalistas. A comunidade internacional apressou-se a apoiar os rebeldes, depois descobriu que eram militarmente menos eficientes do que se pensava, resultando que o regime de Kadafi parece estar retomando o pé. Ninguém parece saber exatamente o que seja a missão da Otan: é estabelecer uma zona de exclusão aérea, uma zona de exclusão terrestre ou provocar a mudança do regime? Vários esforços diplomáticos estão em andamento pelo cessar-fogo, embora nenhum tenha muito sucesso e o Conselho Nacional de Transição da Líbia – o comando rebelde reconhecido por França, Itália, Catar e Maldivas como governo legítimo – começou a mostrar sinais de divisão interna. Impasse militar é uma possibilidade real e até mesmo se a Otan vier a estabelecer uma estratégia alternativa, como armar e treinar os rebeldes, isso dificilmente garantirá seu sucesso; forças legalistas têm reservas consideráveis ​​de dinheiro e ouro para aquisição de armas e o país conta com economia paralela que poderia aliviar o impacto das sanções.

Em fevereiro, quando a revolta começou, a situação era muito diferente. Uma cidade após outra caía em mão rebeldes e a reação do regime foi lenta e desajeitada. No contexto da derrubada de Ben-Ali, na Tunísia, e Mubarak, no Egito, poucas semanas antes, o sucesso da rebelião parecia aposta segura, especialmente quando a França inesperadamente reconheceu o Conselho Nacional de Transição depois que Bernard-Henri Lévy convenceu Sarkozy a agir depressa. Apenas alguns anos antes, Sarkozy tinha dado a Kadafi calorosa recepção em Paris e, quando criticado por isso, apontou em sua defesa o abandono pela Líbia de seu programa de armas nucleares e, mais indiretamente, o lucrativo mercado que o país oferecia à indústria francesa. Agora, Sarkozy precisa reunir apoio na França.

A atual divisão de fato da Líbia em leste e oeste, aproximadamente ao longo das fronteiras das antigas províncias otomanas de Tripolitânia e Cirenaica, reflete a ausência de laços históricos fortes entre as duas regiões, separadas por um trecho de 482 quilômetros de deserto onde o Golfo de Sirte [em português, Golfo de Sidra] desce rapidamente para varrer o Paralelo 30. Na verdade, a Líbia não tinha histórico de unidade política antes de sua criação pela ONU em 24 de dezembro de 1951. No início do século 20, as províncias de Tripolitânia, Cirenaica e Fazzan, no sudoeste do país, estavam sob controle nominal da Sublime Porta por cerca de 400 anos. Sua população, estimada em 1 milhão, dois terços dos quais na Tripolitânia, consistia principalmente de pastores nômades. Doenças e fome garantiram que esse número permanecesse estável por mais de um século. Os europeus tinham noção romântica da história antiga dessas províncias – o litoral tinha sido controlado em vários pontos por fenícios, gregos, romanos e bizantinos – e dos templos em ruínas que estas civilizações deixaram para trás. (A ligação dos Estados Unidos com o que seja hoje a Líbia é ainda mais superficial, como ilustra o hino dos fuzileiros americanos, que começa com "Dos salões de Montezuma / Às praias de Trípoli".) Foi a última área do norte da África a atrair a atenção dos colonizadores europeus, embora durante o século 19 o Banco di Roma tenha estabelecido filiais ao longo da costa.

A Batalha de Al Alamein
Em 1911, a Itália, um império retardatário, decidiu anexar Tripolitânia e Cirenaica e transformá-las no que o protofascista Gabriele d'Annunzio chamaria de "Quarta Costa”. Depois de comunicar a intenção formalmente ao Império Otomano, os italianos lançaram a invasão, começando pelas principais cidades costeiras. Só em 1913 controlaram a Tripolitânia; Cirenaica foi mais difícil ainda. Conseguiram dominar as cidades litorâneas e transformá-las em guarnições militares, mas encontraram resistência feroz dos senussis, ordem religiosa fundada em Meca, em 1837, que combinava ensinamentos tradicionais sufistas da Cirenaica com ruminações salafistas em favor de uma renovação islâmica. Os senussis lutaram contra a invasão francesa ao sul da Cirenaica e Fazzan em 1902 e voltaram suas energias para os italianos. Interrompida durante a Primeira Guerra Mundial, quando as tropas italianas foram exigidas noutros locais, esta "pacificação" continuaria até 1943, quando os Aliados finalmente expulsaram italianos e alemães após a batalha de Al Alamein.

Em breve seção sobre o período italiano em A History of Modern Líbia (2006), Dirk Vandewalle escreveu:
Foi, por qualquer padrão, uma campanha brutal e impiedosa de subjugação. As estimativas de mortes da população da Líbia como um todo variam consideravelmente, mas fonte confiável calcula que o número de óbitos, por todas as causas exceto as naturais, de 1912 a 1943, ficou entre 250 mil e 300 mil, numa população na época de 800 mil a 1 milhão. A maioria ocorreu durante o período fascista, quando, apenas por execução, morreram cerca de 12 mil cirenaicos em 1930 e 1931.
O mártir Omar al-Mukhtar
Ao matar mais de um quarto da população total, os italianos substancialmente enfraqueceram o poder e a estrutura social das tribos cirenaicas e da ordem senussi. Alegavam agir no melhor interesse dos moradores: Mussolini, prenunciando Kadafi em sua bufonaria mortal, até mesmo proclamou-se em 1937 protetor do Islã em Trípoli. As políticas de Il Duce, no entanto, criaram um ícone nacional raro e duradouro com o martírio de Omar al-Mukhtar, xeque tribal cirenaico que liderou os esforços de guerrilha contra os italianos. Al-Mukhtar foi capturado em setembro de 1931, e Rodolfo Graziani, o comandante-em-chefe italiano na Líbia, apressou-se a deixar Roma para submetê-lo a julgamento superficial. Vinte mil integrantes de tribos e notáveis ​​foram forçados a assistir a seu enforcamento público. Seu nome agora é usado pelos rebeldes na convocação de combatentes, seu retrato decora as paredes por todo o leste e seu grito de guerra – "Nunca nos renderemos, venceremos ou morreremos" – tornou-se o slogan oficial da insurreição.

Berlusconi e Kadafi em 2009
A era colonial italiana deixou para trás uma população traumatizada e a tradição, em algumas cidades costeiras, de um excelente café. Os italianos enviaram 110 mil colonos ao que agora chamam de Líbia para construção de infraestrutura, como portos e uma estrada costeira de duas pistas que pela primeira vez ligou a Tunísia ao Egito. (Em 2009, por ocasião das comemorações dos 40 anos de Kadafi no poder, Berlusconi abriu nova autoestrada costeira que a Itália financiou. A força aérea italiana sobrevoou a cerimônia, seus jatos liberando rastros de vapor verde em homenagem à bandeira da Líbia na era Kadafi. A estrada foi o preço que a Itália pagou para obter lucrativa cota do petróleo líbio e contratos de venda de armas, além de tratado de amizade recíproca que proibia a guerra entre os dois países. O tratado já foi suspenso pelo Parlamento da Itália.) A Itália viu a Líbia como solução para o excedente de sua própria população – a maioria dos colonos era de camponeses sem terra atraídos pela perspectiva de ganhar fazendas criadas por projetos do governo colonial para recuperação de áreas degradadas – e nunca demonstrou interesse no recrutamento de nativos para a administração. No máximo, eram contratados como trabalhadores braçais assalariados. Como observa Vandewalle, "os primeiros encontros dos líbios com o Estado moderno tornaram ainda mais atraente o relativo igualitarismo do modo de vida tribal – que de alguma forma explica a suspeita do teimoso Kadafi quanto à autoridade centralizada, evidenciada na primeira frase de seu Livro Verde: "O instrumento do governo é o principal problema político enfrentado por comunidades humanas."

Após a Segunda Guerra Mundial, uma espécie de vida política surgiu na Tripolitânia mais cosmopolita, o que favoreceu a unificação das províncias, enquanto a Cirenaica continuava a apoiar o herdeiro dos senussis, Sayyid Idris al-Senussi, recusando-se a participar de qualquer governo não liderado por ele. Os habitantes de Fazzan preferiram continuar governados pelos franceses. As grandes potências inicialmente defenderam a ideia de tripla tutela: a italiana em Tripolitânia (onde permaneceram cerca de 40 mil colonos italianos), britânica na Cirenaica e francesa em Fazzan. A intensificação da Guerra Fria em fins da década de 1940 mudou essa visão, com EUA e Grã-Bretanha preferindo agora uma Líbia independente que lhes trouxesse vantagens: o sistema de tutela não permitia o estabelecimento de bases militares. Como observou o embaixador americano na época, "um olhar sobre o mapa mostra o valor estratégico da Líbia... sem o qual poderia haver pouco interesse no surgimento de um reino árabe no Norte de África... Se a Líbia passasse de algum modo à tutela das Nações Unidas não participaria dos acordos de defesa do mundo livre”.

O rei Idris I da Líbia
Assim foi criado o Reino Unido da Líbia, Estado nascido de um acordo agregando regiões díspares que seu novo governante, o chefe senussi rei Idris, teria agora que unir. Era um dos países mais pobres do mundo, com renda anual per capita de cerca de US$ 25, taxa de analfabetismo de 94% e sem um único médico – até hoje, muito das importações da Líbia é de know-how médico, enquanto os visitantes da Líbia asseguram altos ganhos a médicos de Malta e Tunísia. Seus três componentes insistiram num sistema fortemente federal e, em sua primeira versão, de 1951 a 1963, o reino manteve três capitais distintas. Sua principal fonte de renda, até que as receitas do petróleo começassem a fluir no fim de 1950, provinham do aluguel de duas bases militares a americanos e britânicos; até fins da década de 1950, a Líbia recebeu o maior volume de ajuda dos EUA per capita no mundo.

O rei e sua comitiva acumularam poder pessoal considerável, sobretudo depois que começou a extração de petróleo, mas a autoridade acabou transferida ao nível provincial e local, bloqueando a criação de um governo nacional efetivo. O rei mantinha duas guardas pretorianas, a Força de Defesa Cirenaica e a Força de Defesa Tripolitana, cada uma composta de tribos leais aos senussis. A monarquia proibira os partidos políticos: os que surgiram após a guerra – na  Tripolitânia, o Partido do Congresso Nacional, na Cirenaica, o Clube Omar al-Mukhtar – não podiam funcionar e a idéia de uma Líbia unificada ganhou pouco impulso. O próprio Idris estava mais interessado no futuro da Cirenaica, onde passou a maior parte de seu tempo, do que em governar a Tripolitânia. Mesmo quando o sistema federal foi abolido em 1963 e o país se tornou o Reino da Líbia, muito poder informal permaneceu nas mãos do grupo de Idris – burocratas tripolitanos e a família Senussi propriamente dita, que conspiravam para garantir a sucessão. Nisso não diferia da Líbia da última década, quando as únicas pessoas com poder real eram a família Kadafi, sua tribo e burocratas legalistas.

Em 1969, Kadafi e seus Oficiais Livres montaram um golpe e facilmente derrubaram a monarquia, cada vez mais percebida como corrupta, conspiratória, responsável pelo aumento da inflação. As receitas provenientes das bases militares estrangeiras não eram mais necessárias, agora que os petrodólares jorravam, e o país se ressentia da postura conservadora pró-ocidental de Idris. O principal inimigo da monarquia era a Rádio Cairo, com sua mensagem da revolução pan-árabe, e Kadafi idolatrava Nasser. Os Oficiais Livres queriam fazer parte de uma nação árabe e muçulmana em vez de líbia. Mais tarde, depois de repetidos conflitos com outros líderes árabes (especialmente o rei Abdullah da Arábia Saudita, que, alega-se, ele tentou assassinar em 2002 quando ainda príncipe herdeiro), Kadafi desistiu da tentativa de unificar o mundo árabe. Abandonou seu islamismo, a ideologia pan-islâmica e passou a olhar mais para o sul, nomeando-se rei da África por meio da diplomacia dos cheques generosos.

O jovem Kadafi
O Kadafi que conhecemos – o “cachorro louco” da Líbia, com tendência a divagar em discursos, às roupas fantasiosas e a ataques de megalomania, ridicularizado no You Tube em vídeos como o "Zenga Zenga", que carrega sua tenda quando viaja – não foi sempre assim. Em 1º de setembro de 1969, quando anunciou a derrubada do rei Idris, era um bonito oficial do exército de 27 anos que esperava inverter a humilhação da derrota árabe para Israel em 1967. Mas também vinha de uma tribo pequena da cidade tripolitana de Sirte – de onde ainda vem a maioria dos comandantes-chave do exército líbio – e sua política era principalmente regional.

O Kadafi da Jamaria
Demorou oito anos para ele transformar a Líbia em Jamahiriya (Jamaria) ou república das massas, e outros dois para publicar o Livro Verde, sua filosofia semianalfabeta de administração. Somente em 1989 abandonou o posto no governo e ungiu-se, simplesmente, em “guia da revolução”. Cada etapa era acompanhada de mudanças no sistema político líbio, concebidas para alterar a relação entre os cidadãos e a autoridade central, para desviar as críticas de si mesmo, para culpar os subalternos pela má execução de suas idéias. Viraram característica de seu reinado os discursos longos de crítica às estruturas que ele próprio criara e aos homens que ele designara para executá-las, sempre com o objectivo final de concentrar o poder real em sua família, sua tribo e alguns indivíduos de confiança. Em The Libyan Paradox, Luis Martinez fala de quatro eras: de 1969 a 1973, o controle foi mantido pelo Conselho de Comando Revolucionário e um partido único inspirado na União Socialista Árabe do Egito; a segunda, de 1973 a 1977, viu a introdução dos Comitês Populares, desastrosa tentativa de descentralização e de "poder do povo"; a terceira, de 1977-1992, testemunhou a introdução dos Comités Revolucionários, as desprezadas milícias de vanguarda, segundo o modelo dos guardas vermelhos chineses, encarregadas da "supervisão absoluta do poder revolucionário do povo" e política externa baseada no apoio ao terrorismo internacional; na quarta, a época das sanções e da reabilitação da Líbia no Ocidente, a revolução de Kadafi perdeu força e seu regime encolheu em grande parte de volta à base tribal.

Saif Kadafi
O levante iniciado em fevereiro foi inesperado, mas assim foram as rebeliões nos outros países árabes, embora houvesse indícios de que se aproximava fase difícil com a sucessão dos governantes idosos. As crises de sucessão, no entanto, eram apenas parte do quadro. Mubarak e Ben-Ali eram claramente corruptos; na Líbia, os filhos de Kadafi controlavam imensos blocos da economia. Os três países eram Estados mafiosos. Na última década, o regime líbio conduziu o país numa combinação de “cassetete e cenouras”: de um lado, a repressão, de outro, a promessa de salários melhores com a suspensão das sanções e a volta das petrolíferas internacionais, que investiriam em novos campos na Líbia desprovida de tecnologia, bem como a fachada de um processo de reformas e liberalização prometido por Saif Kadafi, segundo filho do “Guia”, em troca da sucessão. O que Saif de fato prometia era a adaptação da Líbia ao autoritarismo dinástico pró-ocidental e pró-mercado, então visível no Egito e na Tunísia. No fim, o que desfez a revolução de Kadafi foi a revolução pan-árabe ampla, com a qual os jovens árabes imediatamente se identificaram. É por isso que as tentativas diplomáticas de garantir a sucessão a Saif, como queriam a União Africana e Curt Weldon, ex-congressista republicano da Pensilvânia que dirigiu "diplomacia privada" financiada por lobistas do petróleo, têm sido rejeitadas de imediato pelos rebeldes.

O moderno centro de Benghazi
Em seu reinado de 42 anos, Kadafi usou a Líbia como teste para seu ideal de não Estado, misturando ideologia marxista, sua versão peculiar da história islâmica e de valores beduínos idealizados (igualitarismo, autossuficiência). Apesar de sua origem tribal há agora, graças a ele, um senso maior de Líbia unida como jamais existiu. Esta era de redistribuição das receitas do petróleo permitiu que nas décadas de 1970 e 1980 o nível de vida dos líbios subisse dramaticamente, tornando-os mais dependentes do Estado, especialmente após Kadafi vetar as empresas privadas por mais de uma década, medida que levou ao exílio os empreendedores do país e criou profundo poço de ressentimento, principalmente na classe de comerciantes de Benghazi, agora os mais fervorosos defensores da insurreição. A crescente urbanização do país resultou no declínio lento da identidade tribal e regional, enquanto a educação padronizada e a globalização tornaram obsoleto o velho debate sobre se a Líbia deve existir. Mas, como mostra a história de Vandewalle, a fixação de Kadafi no não Estado e a administração acidentada do país significam que a construção do Estado está "desequilibrada e incompleta".

A questão que agora se coloca é se haverá força suficiente para manter a Líbia unida. Hoje, os rebeldes afirmam que não planejam dividir o país e que as considerações tribais e provinciais seriam irrelevantes. Mas a realidade é que seu movimento é sobretudo cirenaico e o recrutamento de suas forças é em grande parte de origem tribal. Além da rejeição ao regime de Kadafi, o Conselho Nacional de Transição pouco indicou do que seria sua versão da Líbia pós-Kadafi. Já Kadafi reuniu tribos leais a seu redor, e agora depende mais do que nunca de seu apoio. Com o tempo, a divisão histórica tripolitana-cirenaica pode ressurgir.

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