Foto: Max Whittaker/Reuters
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Viva WikiLeaks! Sicko não foi proibido em Cuba
Michael Moore
OpenMike, 18 de dezembro de 2010, 4:47 AM
WikiLeaks ontem fez uma coisa incrível: lançou um telegrama sigiloso do Departamento de Estado que trata, em parte, de mim e do meu filme Sicko.
É espantoso olhar a natureza orwelliana dos burocratas do Estado, que torcem mentiras e tentam recriar a realidade (presumo que para agradar a seus chefes e dizer-lhes o que eles querem ouvir).
A data é 31 de janeiro de 2008. Poucos dias depois de Sicko ser indicado ao Oscar de Melhor Documentário. Isso deve ter deixado alguém quicando no Departamento de Estado de Bush (seu Departamento do Tesouro já tinha me notificado de que investigava as leis porventura quebrei ao levar três socorristas do 11/09 a Cuba para receberem os cuidados de saúde que lhes foram negados nos Estados Unidos).
Wendell Potter, ex-executivo de seguradora de saúde, revelou recentemente que essa indústria – a qual decidiu gastar milhões para me perseguir e, se necessário, "jogar Michael Moore de um penhasco" – trabalhou com anticastristas cubanos em Miami para difamar meu filme.
Assim, em 31 de janeiro de 2008 um funcionário do Departamento de Estado em Havana inventou uma história e enviou-a à sede em Washington. Veja o que eles inventaram:
(...) afirmou que as autoridades cubanas proibiram o documentário de Michael Moore, Sicko, por ser subversivo. Embora a intenção do filme seja desacreditar o sistema de saúde dos EUA, destacando a excelência do sistema cubano, disse que o regime sabe que o filme é um mito e não quer arriscar uma reação popular, mostrando aos cubanos facilidades que claramente não estão disponíveis para a grande maioria deles.
Soa convincente, hein? Há apenas um problema: Sicko tinha acabado de passar em cinemas cubanos. E a nação inteira de Cuba viu o filme na televisão nacional em 25 de abril de 2008! Os cubanos abraçaram tanto o filme que se tornou uma das raras fitas americanas distribuídas nos cinemas de Cuba. Eu, pessoalmente, garanto que uma cópia de 35 mm ficou com o Instituto de Cinema de Havana. Houve sessões de Sicko em cidades de todo o país.
Mas o telegrama secreto disse que os cubanos foram proibidos de ver o meu filme. Hmmm.
Sabemos também de outro documento secreto dos EUA dizendo que "o desencanto das massas [em Cuba] se espalhou por todas as províncias", e que "toda a província de Oriente está fervendo de ódio" pelo regime de Castro. Há uma rebelião subterrânea enorme, e "trabalhadores dão todo o apoio que podem", todos envolvidos na "sabotagem sutil" contra o governo. O moral é horrível em todos os ramos das forças armadas e, em caso de guerra, o exército "não vai lutar". Uau! Este telegrama é quente!
Naturalmente, este cabo secreto dos EUA é de 31 de março de 1961, três semanas antes de Cuba chutar nosso traseiro na Baía dos Porcos.
O governo dos EUA tem passado estes documentos "secretos" a si mesmo nos últimos 50 anos, explicando nos mínimos detalhes como as coisas estão horríveis em Cuba e como os cubanos estão discretamente ansiosos pela nossa volta para assumir o controle. Não sei por que escrevemos estes telegramas, imagino que apenas nos façam sentir melhores. (Qualquer curioso pode encontrar um museu inteiro de desejos esperançosos dos EUA no site do National Security Archive).
Então o que fazer com um telegrama "secreto" falso, especialmente um que envolva você e seu filme? Bem, você espera que um jornal competente investigue a mensagem e grite sua descoberta do alto do telhado.
Mas WikiLeaks ontem enviou o telegrama sobre o caso Sicko em Cuba à mídia – e o que ela fez com ele? Divulgou como se fosse verdadeiro! Eis a manchete no Guardian:
WikiLeaks: Cuba proibiu Sicko por mostrar sistema de saúde “místico”
Autoridades temeram que o lindo hospital mostrado no filme de Michael Moore, indicado ao Oscar, provocasse revolta popular.
E nem uma centelha de investigação para ver se Cuba tinha realmente proibido o filme! De fato, exatamente o oposto. A imprensa de direita passou o dia informando uma mentira (Andy Levy, da Fox – duas vezes –, Reason Magazine, Spectator e Hot Air, mais uma série de blogs). Infelizmente, mesmo BoingBoing e meus amigos da Nation escreveram a respeito sem ceticismo. Então você tem WikiLeaks, que se expôs para encontrar e divulgar esses telegramas à imprensa – e os jornalistas tradicionais mais uma vez têm preguiça de levantar um dedo e clicar no mouse para entrar no Nexis ou pesquisar no Google e ver se realmente Cuba "proibiu o filme”. Se ao menos UM repórter o fizesse teria encontrado:
16 junho de 2007 sábado 01:41 GMT [sete meses antes do telegrama falso]Ou que tal esta pequena notícia de 25 de abril de 2008 do site CubaSi.Cu (tradução do Google):
TÍTULO: Ministro da Saúde cubano diz que Sicko, de Moore, mostra "valores humanos" do regime comunista
BYLINE: Por ANDREA RODRIGUEZ, da Associated Press
Dateline: HAVANA
O ministro da Saúde de Cuba, José Ramón Balaguer, afirmou hoje que Sicko, do documentarista americano Michael Moore, destaca os valores humanos do governo comunista da ilha (...) "Não pode haver nenhuma dúvida, este documentário de uma personalidade como o senhor Michael Moore ajuda a promover os princípios profundamente humanos da sociedade cubana."
Sicko estreia in CubaE tem este, da Juventudrebelde.cu (tradução do Google). Ou esta análise cubana (tradução do Google). Há até mesmo um longo fragmento de Sicko (o trecho sobre Cuba) na homepage do site Mesa-Redonda em CubaSi.cu website!
25/4/2008
The documentary Sicko, the U.S. filmmaker Michael Moore, which deals about the deplorable state of American health care system will be released today at 5:50 pm, for the space Cubavision Roundtable and the Education Channel. (O documentário Sicko, do cineasta Michael Moore, que trata do deplorável estado do sistema de saúde americano, será apresentado hoje às 17h30 na Mesa Redonda de Cubavisión e no Canal Educativo.
OK, então sabemos que a mídia é preguiçosa e falha a maior parte do tempo. Mas o maior problema aqui é que nosso governo parecia ser conivente com a indústria de seguros de saúde para destruir um filme que poderia ter ajudado a trazer o que os cubanos já têm em seu país pobre de terceiro mundo: saúde pública universal e gratuita. Porque eles têm e nós não, Cuba apresenta taxa de mortalidade infantil menor do que a nossa, sua expectativa de vida é apenas sete meses mais curta do que a nossa e, de acordo com a OMS, está apenas dois lugares atrás do país mais rico do planeta no ranking da qualidade dos serviços de saúde.
Essa é a matéria, grande mídia e direitistas do ódio.
Agora que você já foi apresentado aos fatos, o que você vai fazer sobre isso? Vai me atacar por ter exibido meu filme na televisão estatal cubana? Ou vai me atacar por não ter exibido meu filme na televisão estatal cubana?
Você tem que escolher um, não pode ser ambos.
E como os fatos mostram que o filme foi exibido na TV estatal e nos cinemas, acho que o melhor é vocês me atacarem porque meu filme passou em Cuba.
Viva WikiLeaks!
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Michael Moore não menciona, mas a CBS também deu a notícia sem apurar:
Katie Couric (CBSNews): Reportamos ontem [17/12] que Cuba proibiu Sicko, de Michael Moore, porque o documentário mostraria um sistema de saúde tão bom que faria o povo cubano rir ou ficar zangado – era o que dizia telegrama do Depto. de Estado liberado por Wikileaks e publicado pelo Guardian. Agora [18/12], Moore (um dos maiores financiadores de Assange) divulgou longo desmentido (http://bit.ly/gusZxA). Ele afirma que "toda a nação cubana viu o filme na TV nacional em 25 de abril de 2008!” Os cubanos abraçaram o filme de tal modo que se tornou uma das raras fitas americanas exibidas nos cinemas do país". Ele conclui: “Acho melhor vocês me atacarem pelo fato de que meus filmes passam em Cuba! Viva WikiLeaks!" (via The Nation) (N.T.)
7 comentários:
E o PIG diz que eles são a pátria da democracia e dos direitos humanos...
Meu sonho atual é ter uma imprensa que publique fatos e não versões.
Vou ter que virar Matusalém.
Seremos duas, então!
Os historiadores do futuro é que terão um trabalho enorme garimpar um pouco de verdade nos jornais da nossa época.
É verdade, hein??? Há tempos não pensava nisso! Vou blogar a respeito!
Penso que até lá será criada uma nova profissão. Uma mistura de antropologia, arqueologia e geologia para investigar a mídia exatamente como se leem hoje as linhas do solo e os restos de uma cultura para determinar o que aconteceu em outras épocas.
Talvez uma antropologia do discurso midiático: os séculos 20 e 21 serão objeto de estudo acurado. hehehe.
Quero nascer de novo para trabalhar nisto.
Muito interessante! Cada contraponto encontrado será festejado pelos alunos doutorandos do geoantroarquemidiólogo-chefe da pesquisa! :-))))
É verdade, terão que desenvolver técnicas para filtrar os escritos e se chegar minimamente próximo do que ocorreu de fato.
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