A Caia Fittipaldi, que persiste nessa tarefa caridosa de traduzir textos que a gente não lerá no Brasil, ou melhor, no Ocidente, comenta: "Grande Al-Jazeera! Sem alguma indignação de humanidade decente, não se faz NENHUM jornalismo que preste!" Observem a pergunta da repòrter.
Ativistas da Flotilha “assassinados com 30 tiros”
7/6/2010, Al-Jazeera, Qatar
Necropsia dos corpos dos ativistas assassinados no ataque israelense à flotilha que se dirigia a Gaza há cinco dias indica que as vítimas receberam vários tiros a queima roupa.
O jornal britânico Guardian citou Yalcin Buyuk, vice-presidente do Conselho Turco de Medicina Forense, que informou que os nove homens receberam um total de 30 tiros.
Dois homens receberam quatro tiros, e cinco das vítimas receberam tiros na cabeça ou pelas costas, disse Buyuk ao jornal, baseado nos relatórios preliminares da necropsia.
Ibrahim Bilgen, ativista de 60 anos, recebeu quatro tiros na têmpora, peito, quadril e costas, como mostram os exames.
Furkan Dogan, 19 anos, cidadão norte-americano filho de pais turcos, recebeu cinco tiros a menos de 45 cm, no rosto, na parte de trás da cabeça, dois na perna e um nas costas.
Nove pessoas foram mortas na madrugada de 2ª-feira no ataque à Flotilha da Liberdade, comboio de navios que levavam ajuda humanitária a Gaza, em tentativa de romper o bloqueio israelense ao território.
Militares israelenses disseram que os fuzileiros, que abordaram o navio em águas internacionais atiraram em legítima defesa, depois de serem atacados pelos ativistas.
Avital Leibovich, porta-voz do exército de Israel, perguntada sobre por que um homem de 60 anos e um jovem de 19, dentre outros, haviam recebido tantos tiros a queima-roupa, respondeu ao repórter de Al Jazeera: “Sabemos bem que há terroristas de todas as idades e com as mais diferentes histórias.” “Eles tinham um objetivo. Eles escolheram nos desafiar com facas e porretes de metal”.
“Os tiros vinham do helicóptero”
Jamal Elshayyal, jornalista de Al Jazeera que acompanhava a flotilha e testemunhou o ataque dos fuzileiros israelenses, confirmou que alguns passageiros trocaram murros com os israelenses, alguns com pedaços de madeira e metal, para defender-se, quando viram que os soldados estavam atirando.
Contou que testemunhou algumas das mortes, e confirmou que pelo menos uma pessoa recebeu um tiro que atravessou a testa, "vindo do helicóptero parado acima do convés.”
“Depois do tiroteio e das primeiras mortes, todos levantaram bandeiras brancas e pequenos cartazes em inglês e hebraico”, disse ele. “Um ativista [no barco] pediu aos fuzileiros que socorressem os feridos, mas eles nada fizeram e os feridos morreram no convés, onde estavam.”
As mortes, que aconteceram no navio madrinha do comboio, o Mavi Marmara, continuam a despertar indignação em todo o mundo. Na Turquia, jornais noticiaram no domingo, que o Procurador Geral do Estado, em Istanbul, Turquia, já reunira provas suficientes para acusar, como autores dos crimes, Binyamin Netanyahu, primeiro-ministro; Ehud Barak, ministro da Defesa; e Gabi Ashkenazi, comandante-geral do exército de Israel.
As acusações incluem assassinato e tentativa de assassinato, ataque a cidadãos turcos em águas internacionais e pirataria – como lê-se hoje em Today's Zaman, diário turco editado em inglês.
Recep Tayyip Erdogan, primeiro-ministro da Turquia, em discurso transmitido por televisão, disse: “Vocês [israelenses] mataram Furkan Dogan, de 19 anos, com brutalidade. Que fé, que livro sagrado ensinaria alguma desculpa para assassiná-lo?”.
“Falo a eles na linguagem deles. O sexto mandamento diz “Não matarás”. Será que entenderam bem? Repito, também em inglês “you shall not kill”. Ainda não aprenderam? Digo também em hebraico “Lo Tirtzakh”.”
Sobre o Hamás, disse Erdogan: “O Hamás é a resistência. Lutam pela resistência e lutam pela terra deles. São palestinos.
“Concorreram a eleições. Venceram. E, hoje, estão presos nas prisões israelenses. Eu já disse exatamente isso aos norte-americanos: que não aceito que o Hamás seja apresentado como grupo terrorista.”
Ameaça da Turquia
Namik Tan, embaixador da Turquia em Washington, também alertou, na 6ª-feira, que seu país estuda romper todas as relações com Israel, a menos que Israel se desculpe formalmente pelo ataque ao navio Mavi Marmara, que viajava sob bandeira turca.
Tan disse também que a Turquia espera investigação independente e confiável sobre todos os eventos. E que é hora de Israel por fim ao bloqueio de Gaza.
Três ativistas turcos, feridos no ataque dos fuzileiros, chegaram na 6ª-feira à Turquia, a bordo de avião-hospital. Mais dois voluntários, gravemente feridos, permanecem em hospital israelense, com um avião turco à espera para repatriá-los a qualquer momento, disse Recep Akdag, ministro da Saúde da Turquia.
Os EUA também informaram que investigarão as circunstâncias da morte de Dogan, o mais jovem das vítimas do ataque israelense, que tinha dupla nacionalidade turco-norte-americano. “Analisaremos as circunstâncias da morte de um cidadão dos EUA, como faríamos em qualquer caso, em qualquer momento” – disse Philip Crowley, porta-voz do departamento de Estado.
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