Tá, sei que nem pareço jornalista (ou ex-jornalista) de tanto que malho a imprensa, mas é duro aturar clichê de narrador/comentarista-mala. Maradona é o maior, Argentina é a melhor, a Itália sempre começa mal e acaba campeã, se os EUA não se classificarem o futebol morre de vez no país. Saco!
Maradona não é o maior, antes dele vêm Pelé, Garrincha e até Zico. Na Argentina, só foi campeão uma vez pelo Boca (no Argentinos Juniors, só vice). No Barcelona, doenças, lesões e brigas: só foi campeão da Copa do Rei. Deu 2 títulos italianos e a Copa da Uefa ao Napoli (com Careca!), mas provocou cizânia no país, ligou-se a mafiosos e foi flagrado positivo para cocaína após jogo contra o Bari. Suspensão de 14 meses. Preso em Buenos Aires, foi pro Sevilha, depois pro Newell's Old Boys e nada. Teste antidoping na Copa de 94 deu positivo para efedrina, remédio de emagrecer proibido no esporte.
Então, me desculpem, a carreira não é lá essa coca-cola. Zico não foi campeão do mundo, mas deu inúmeros títulos a seu clube e esteve na melhor seleção brasileira depois da de 70.
O segundo clichê: para mim, esta seleção argentina só fez jogo chato. Parecia o Botafogo perdendo gol. E a Argentina só será melhor quando for 6 vezes campeã mundial. Até lá, são melhores os alemães, os italianos, os brasileiros. Quanto à Itália, se esta seleção for longe eu paro de falar palavrão.
Vamos ao último clichê. Os Estados Unidos não são mais os mesmos dos anos 70, quando o Cosmos de Pelé fracassou. Agora, há uma gigantesca colônia estrangeira que ama futebol, que primeiro atraiu menininhas para o esporte e agora conquista a juventude. O maior número de ingressos para a esta Copa foi vendido nos EUA. A ABC está transmitindo os jogos dos americanos, e a ESPN americana, todos os jogos da Copa. Isso é dinheiro, gente, muito dinheiro, e americano não joga dinheiro fora.
Capturei algumas notícias sobre o jogo, todas na primeira página dos sites. Reparem o uso de adjetivos dignos da imprensa calejada em futebol. E isso em dia de grave crise político-militar nos EUA: Obama demitiu o general McChrystal do comando das forças americanas e aliadas no Afeganistão (Petraeus, o general queridinho da mídia, vai assumir a vaga!).
Huffington Post -- na página interna, o adjetivo para o gol é "épico" (os comentários são hilários):
O New York Times ("gol tardio dramático"):
O Washington Post (gol no último minuto "salva"):
E a Sports Illustrated, a melhor revista de esportes do mundo na minha humirde ("fim de conto de fadas"):
Para completar, e-mail enviado ao Bate-Bola, da ESPN Brasil:
DE NEW YORK! INÉDITA CELEBRAÇÃO! JAMAIS VISTA POR MIM EM ESPORTE ALGUM! Go USA! USA
Da janela do meu apartamento ouvi um barulho, um grito como se fosse de estadio, como se eu estivesse em meu pais querido. Foi emocionante, os americanos tão pegando gosto pelo nosso esporte amado, grande scorer -- DONOVAN! Na hora do gol, em unissono a cidade celebrou! Nunca vi isso antes por aquí, estou vendo [o programa] pela internet. Abs a todos, Pedro Martin Jones -- de Brasília/DF estudando e morando por aqui há 3 anos, acadêmico, West Village, Manhattan, NY
Então, os malas deveriam ler mais e repetir menos baboseira.
4 comentários:
Pois uma minhas metas para o século xxi é ver os EUA vencerem uma copa do mundo.
e vão ser, pode escrever. as meninas já foram. lembra do vôlei? eles nada eram no vôlei. cansados dos fiascos seguidos dos anos 60 e 70 (em 1980 nem conseguiram vaga na Olimpíada!), eles se reuniram, investiram e acabaram bicampeões olímpicos em 84 e 88. os caras são fogo!
vc reparou no pique dos americanos aos 90 minutos de jogo, todo mundo morto mas voando em direção ao gol da argélia até o donovan marcar? loucura. aquilo é determinação. os caras são meio malucos nesse lance de patriotismo e dar o sangue!marcar?
Você deveria estar exercendo a profissão de jornalista esportivo no lugar da maioria que aí está, pois sabe como poucos sobre futebol, parabéns!
Rapaz! Pois sabia que eu tentei??? Não me deixaram! Era 1967 e não tinha mulher cobrindo esporte. Muito menos no JB de João Saldanha, Sandro Moreyra, Oldemário Touguinhó... já pensou eu, 21 anos, naquele ninho? Desisti e logo depois surgiu a Marilene Dabus. Perdi a chance de ser a primeira repórter mulher na área de esportes. Sniff...
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