A crise das ideias
Adesão ao neoliberalismo levou o País de volta ao ideal da República Velha
Carlos Lessa:
Professor e economista
O Dia, 17/4
Rio - O Brasil buscou um projeto nacional de desenvolvimento pela industrialização e a urbanização. De 1930 a 1980, o PIB brasileiro cresceu acima de 6% a.a. e, ao final, o Brasil tinha um sistema industrial que nos situava em 8º lugar mundial, embora não tivéssemos reduzido a má distribuição de renda. Na década de 80, a economia estagnou, mas foi restaurado o Estado de direito.
A hiperinflação abriu caminho para a descontrução do Estado nacional e a crise da dívida externa abriu caminho para a adesão ao neoliberalismo. O capítulo socialdemocrata da Constituição foi adiado e submetido à lógica patrimonialista da acumulação financeira; o capítulo nacional-desenvolvimentista foi apagado por emendas constitucionais.
A economia mergulhou na mediocridade; houve atrofia e desmontagem de segmentos do sistema industrial e prevaleceu um saudosismo da República Velha com o retorno à prioridade exportadora de commodities.
O desenvolvimento como projeto nacional saiu de pauta. Não começamos nem sequer a discutir a incongruência da globalização e do ambientalismo. Continuamos voltados para a globalização e satisfeitos com a ressurgência de mercado para produtos primários, que hoje são 70% das exportações brasileiras.
Apesar de o presidente Lula ter afirmado que o Brasil não seria exportador de petróleo, já fechamos um negócio com a China para exportar US$12 bilhões em óleo cru. Um aumento de receita de exportação de recurso natural desindustrializa uma nação. Tem sido péssima a trajetória econômica, social e política dos exportadores de petróleo.
A Indonésia exportou petróleo na faixa de US$ 2/US$ 2,5 o barril e hoje, com seus campos esgotados, importa por US$ 100. O México tinha reservas de 48 bilhões de barris, hoje reduzidas a 14 bilhões. Em breve, provavelmente, precisará importar.
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