sábado, 28 de março de 2009

Lancet dá um chega pra lá no criminoso!

Vera mandou mensagem com link para o Azenha, que publica a tradução do editorial da Lancet criticando o besteirol criminoso desse tal Bento 16. Ô sujeito maléfico. A Corte Internacional da Haia deveria julgar esse desastre por crime contra a humanidade!!! Achei o editorial respeitoso demais. Uma revista científica tinha obrigação de ser mais contundente. Não digo que esculhambe como eu, mas deveria pegar mais pesado. O gajo é criminoso, e crime deve ser tratado como tal.

A tradução é da Conceição Lemes. Adoro as matérias dela. Tirei todas as iniciais maiúsculas de papa, igreja católica etc. Que mané inicial maiúscula coisa nenhuma! Esse mal de dois milênios é rasteiro! Mas Conceição é certamente a melhor repórter de saúde deste país, e assim apresenta o editorial:

Conceição Lemes

Se alguém ainda tem alguma dúvida de que a afirmação do papa Bento XVI em relação à camisinha foi um desserviço à luta contra o HIV/Aids no mundo, o contundente editorial desta sexta-feira [27/3] da Lancet é a pá de cal.

Sob o título "Há redenção para o papa?", o editorial afirma que o papa distorce o conhecimento científico sobre camisinha, fez comentário gravemente errado e descuidado sobre HIV/Aids e exige que ele se retrate. A Lancet é uma das mais prestigiadas revistas médicas do mundo. Eis o editorial na íntegra.

***

Há redenção para o papa?

Editorial de The Lancet

O Vaticano sentiu a candência de um protesto internacional sem precedentes, semana passada, depois de o papa Bento 16 ter feito comentário inadmissível, gravemente errado e descuidado sobre HIV/AIDS. Em sua primeira visita à África, o papa disse a jornalistas que a luta do continente contra a doença seria problema "que não pode ser resolvido com distribuição de preservativos: ao contrário, os preservativos aumentam o problema".

É bem conhecida a oposição ética que a igreja católica faz ao controle de natalidade e o apoio que dá à fidelidade conjugal e à abstinência como meios para prevenção contra a contaminação pelo HIV. Mas, ao dizer que os preservativos aumentam os problemas relacionados ao HIV/AIDS, o papa ativamente distorce conhecimento científico demonstrado, para promover a doutrina católica sobre o assunto.

Imediatamente, a comunidade internacional condenou o comentário. Governos de Alemanha, França e Bélgica distribuíram notas criticando a posição do Papa. Julio Montaner, presidente da International Aids Society, considerou o comentário "irresponsável e perigoso". A Unaids e o Population Fund da ONU e a Organização Mundial da Saúde (OMS) também se manifestaram, reafirmando a posição oficial dessas entidades sobre o uso recomendado do preservativo e a importância de evitar o contágio, em que se lia que "o preservativo masculino de látex é a única, a mais eficiente e a mais acessível tecnologia que há para reduzir a transmissão sexual do HIV".

Sitiado pela fúria geral, até o Vaticano tentou emendar as palavras do papa. No website "Holy See", o chefe da assessoria de imprensa, padre Federico Lombari, escreveu que o papa teria dito que "há risco de que os preservativos venham a aumentar o problema".

Não se sabe se o papa errou por ignorância ou se houve deliberada tentativa de manipular informação científica para apoiar ideologia católica. Mas o comentário não foi desautorizado, e tentativas de retorcer as palavras do papa, sem qualquer respeito à verdade, não são encaminhamento recomendável. Quando alguma voz influente, seja líder político ou religioso, faz afirmação falsa no campo científico, que pode ter efeitos devastadores para a saúde de milhões de seres humanos, é seu dever retratar-se ou corrigir os registros públicos. Qualquer outra atitude do papa Bento será imenso desserviço aos que trabalham para defender a saúde pública, entre os quais milhares de católicos, que se dedicam incansavelmente à luta pela prevenção e contra a disseminação do HIV/AIDS em todo o mundo.

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