Já que se deu repercussão à série de "arrastões" no Rio de Janeiro, acho justo que se divulgue um outro ponto de vista. Todos os relatos tratam de assaltos a dois ou mais veículos, por grupos que nunca passam de 3 ou 4 pessoas -- isso está longe de configurar algo que se possa chamar arrastão -- que já é uma expressão sem definição perfeita --, quanto mais ao se ter em mente a imagem já altamente questionável dos assaltos coletivos em correria nas praias cariocas na década de 90. Vamos chamar as coisas pelos seus nomes.
Série de assaltos não é nada bom, e eu já fui assaltado várias vezes para afirmar isso. Mas o uso do termo "arrastão" é mais uma tentativa calhorda de incutir medo no carioca, nessa alta sociedade que se apavora ao ver um grupo de negros correndo quando não é atrás de uma bola. Porque é esse o substrato que identifico no uso desse termo: racismo. O pavor automático que fotos como essa causaram pela ameaça ao lazer dominical dos IPTUs mais caros do Rio.
Com suas diferenças, isso me lembra a distorção de prioridades da administração Bush quando o Katrina devastou Nova Orleans e a grande função das forças armadas foi prevenir os saques. As pessoas morrendo de fome sem teto e o que havia era o medo da população negra saquear a cidade. Aqui a mídia -- a mídia, não, O Globo! -- difunde na elite branca o medo dos negros descerem em hordas das favelas, "arrastando" todos os seus pertences. O Ali Kamel que nega o racismo se vale do temor ancestral comum a todo herdeiro de casa-grande: o Haitianismo.
Eu vi uma palestra de um comandante da PM certa vez explicando que a segurança é uma sensação, e não algo concreto. Ele dava o exemplo de eventos como a Rio 92, cujo esquema de segurança exigia que se remanejasse efetivo de algumas regiões para a área da conferência, e no entanto, ao perguntar à população dos bairros com efetivo reduzido se sentiam-se menos seguros, respondiam que ao contrário, que tinham a impressão de que toda a cidade estava mais segura.
Pois eu sou carioca e tenho a sensação de que minha cidade está paulatinamente mais segura a cada ano nos últimos quatro anos, apesar de o Globo mostrar carros pegando fogo e dizer que há "arrastões"por toda parte.
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E o Ignácio Cano concorda:
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