domingo, 28 de setembro de 2008

Cuidado, Obama, muito cuidado

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A Claudia comentou essa matéria (27/9) e fui lá buscar, porque a Folha é para assinantes:

"Supremacia branca ainda reina no campus anfitrião"

"Supremacistas brancos usarão todas as armas contra Obama", diz ativista veterano, que não iria ao debate para evitar polêmica

Clara Fagundes

Primeiro aluno negro da Universidade do Mississippi, James Meredith entrou no campus, em 1962, sob escolta da maior operação militar montada em território americano desde a Guerra de Secessão (1861-1865). Missão: derrotar o motim racista, apoiado pelo governador, contra a matrícula de Meredith, determinada pela Justiça. Saldo: dois mortos, centenas de feridos e o fim da segregação na tradicional "Ole Miss", fundada em 1848.

Meredith, hoje aos 75 anos, diz que ganhou "uma batalha contra a supremacia branca", mas que "pouca coisa" mudou no campus.

Anfitriã do debate entre John McCain e Barack Obama, o primeiro negro a disputar a Presidência dos EUA com chances de vitória, a universidade tem hoje 14% de alunos negros -a proporção na população do Estado é de 40%.

Polemista, Meredith disse que não iria ao debate "para não desviar a atenção", mas torce pela vitória de Obama. De sua casa, no Mississippi, ele falou com a Folha, por telefone.


FSP -- A universidade que se insurgiu contra o fim da segregação dá hoje boas-vindas ao primeiro candidato negro com chance de virar presidente. Como o sr. e os eventos de 1962 mudaram a "Ole Miss"?

JM -- Não muito. A supremacia branca ainda comanda. Era assim no Mississippi quando eu nasci, é assim hoje. E, se nada for feito, será assim amanhã.

FSP -- A Ole Mississippi ergueu um memorial ao sr. no campus. Isso não representa alguma mudança?

JM -- Ainda não fui capaz de entender o que aquilo significa. Acho que eles tampouco.

FSP -- O sr. concorreu às prévias da Câmara pelo Partido Republicano e apoiou figuras controvertidas como David Duke [ex-membro da Ku Klux Klan e candidato ao governo da Louisiana em 1991]...

JM -- [Interrompendo] Não tenho partido ou grupo. Também disputei pelo Partido Democrata e até venci a nomeação para o Congresso uma vez, mas retirei a candidatura no dia seguinte. Nunca concorri a um cargo que eu aceitaria. A única razão de ter me candidatado é porque o sistema político é o melhor palco para passar uma mensagem às pessoas.

FSP -- Mas o sr. já acusou a elite progressista de ser a maior inimiga dos negros americanos. Obama representa essa elite?

JM -- Não acho que possa ter uma opinião formada antes das eleições. Espero que Obama vença, isso definitivamente seria um marco na civilização cristã ocidental. Uma coisa está clara para mim: Obama é o homem mais calmo do mundo, o menos incendiário sobre a civilização cristã ocidental. Se alguém é capaz de promover essa mudança, é ele. Mas a supremacia branca tem raízes profundas nos EUA, e no Brasil, e não desistirá facilmente.

FSP -- O sr. é uma figura central da luta pelos direitos civis nos EUA, mas rejeita associação com o movimento organizado. Por quê?

JM -- Sou cidadão americano e, pela Constituição, todo cidadão tem os mesmos direitos. Eles [os ativistas] só exigiam três desses direitos [integração das escolas, desagregação dos espaços públicos e direito ao voto]. Era um insulto para mim. Não eram objetivos pelos quais valesse a pena lutar.

FSP -- E por quais objetivos valeria a pena lutar?

JM -- Por direitos iguais a todos os cidadãos.

FSP -- O senhor não crê que isso aconteça agora?

JM -- De modo algum. É como no esporte. O futebol americano tem aqui a mesma força que o britânico tem para vocês. Há 40 anos, um negro jamais poderia ser quarterback (principal lançador e líder do time) profissional. Hoje, qualquer um que leve o time à vitória pode ser o quarterback. Se Obama vencer, mostrará que a América mudou a tal ponto que qualquer um, branco ou não, pode ser o quarterback do país. Isso não ocorreu ainda, nem sei se ocorrerá. Os supremacistas brancos usarão todas as armadilhas para fazer com que todos os brancos do país votem no candidato branco.

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Impressinante, né? A verdade é que os supremacistas brancos estão mais ativos do que nunca. Tenho uma preocupação muito grande com isso. “Não tenho visto tanto ódio há muito tempo”, diz ao Post Billy Roper, 36 anos, líder do White Revolution, de Arkansas — grupos racistas como o dele cresceram 50% desde 2000. “Nada acordou mais os americanos pacatos do que a possibilidade de um presidente não-branco”. Esse trecho saiu numa matéria do Washington Post em junho que o Globo reproduziu. Tenho medo de que matem o homem. Ai, nem quero pensar nisso.

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