O conservadorismo se manifesta em tudo, até na escolha do modo de viver. Não é que a Veja-Rio se meteu a palpitar sobre o futuro de Santa Teresa, meu amado ex-bairro? Mairzinho Pena Neto escreve um texto candente -- se bem que educado demais para o meu gosto. Eu cairia de pau não apenas porque sou vítima da nova invasão francesa -- os franceses compraram velhos casarões de Santa e transformaram em hotéis de luxo, levando o preço dos imóveis a subir como foguete --, mas porque entre outros excessos ônibus gigantescos repletos de turistas esmagam as pedras antigas das ruas, fazem tremer as paredes centenárias, destroem um jeito calmo de se levar a vida. O bairro não comporta. Não comporta grandes hotéis, não comporta grande comèrcio. A não ser que mude. Mudando, expulsará seus moradores. E não será mais Santa.
A Veja, sempre na contramão, acha que os defensores do bairro "astravancam o pogresso". O PiG é definitivamente uma tragédia para o Brasil e para o povo brasileiro.
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Santa Teresa quer manter seu estilo de vida
Mair Pena Neto
Direto da Redação, 28/7/2010
Como diz o dito popular de que se você quer ser universal, fale de sua aldeia, volta e meia trato aqui de questões de Santa Teresa, um dos bairros mais charmosos do Rio de Janeiro, que escolhi para viver e cuja preservação defendo para que não perca suas características peculiares.
Santa Teresa é um lugar para se morar, apreciar e visitar e dele se lembrar como da primeira vez em que foi visto. Como centros antigos e cidades históricas, não admite muitas intervenções. Em seu caso, não só pelo tombamento como área de preservação ambiental, mas por uma maneira de viver, já muito deteriorada pelo crescimento das favelas no Rio de Janeiro.
O morador de Santa Teresa tem orgulho de seu bairro e luta por preservar suas características e sua tranqüilidade. Os espaços comerciais, hoje muito cobiçados, devem se manter restritos a determinados eixos e em quantidade limitada. Concessões não podem ser aceitas sob o risco de se destruir um lugar único.
É justamente esse debate que se trava agora em Santa Teresa por conta do surgimento de uma associação de empreendedores da região, que procura estimular a abertura de novos estabelecimentos para dinamizar o bairro e aumentar sua segurança. A postura da nova organização se chocou com a da tradicional Associação de Moradores de Santa Teresa (Amast), mais preocupada com a invasão de visitantes e o caos que pode criar no bairro, já atormentado por problemas com a estrutura comercial existente.