Meus amigos sabem que há anos não leio literatura séria nem vejo filme cabeça, pura perda de tempo. Deixo isso para os jovens, coitados, ainda esperançosos. A coroa aqui se dedica com afinco a livros, filmes e seriados sobre espionagem/tecnologia e tribunais exclusivamente para saber a quantas anda o poder “dos caras” sobre nós, as hordas manipuláveis.
Como todos sabem, os americanos idolatram dinheiro. Tem verdinha no meio, eles logo contam tudo. Acontece com repórteres, advogados, executivos de corporações, integrantes de ONGs, espiões, milicos, o diabo. Basta que se desfaça o vínculo com a instituição a que pertencem, seja por demissão ou fritura. No que caem no ostracismo, abrem tudo o que sabem.
É nisso que reside a beleza da democracia americana: a liberdade de quebrar sigilos. Às vezes o vínculo nem se desfez, mas eles mandam ver. A Judith Miller, por exemplo, uma cretina hoje na Fox News: quando ainda era do New York Times, cobrindo segurança, escreveu um livro sobre as armas biológicas dos americanos. Revelou tudo. Logo depois do 9/11, recebeu envelope com talco e pensou que era antraz. Devia ser “brincadeirinha” dos milicos dos laboratórios que ela expôs no livro, mas isso não foi considerado e acabou esquecido. No NYT, fez campanha vigorosa pela invasão do Iraque por conta de armas de destruição em massa do Saddam, e foi demitida quando veio à tona que estava servindo a Karl Rove e Donald Rumsfeld e às corporações por trás deles.
Bem, depois desse nariz de cera enorme, informo que acabo de ler O recurso (The appeal), de John Grisham (Rocco, 2008). Gente, vocês nem imaginam! As grandes corporações -- químicas, pedrolíferas, de medicamentos --, cansadas de pagar bilhões de indenização por danos físicos e morais, começaram a comprar assentos nas supremas cortes estaduais! Os juízes que eles elegem em campanhas milionárias (vários estados ainda têm eleição para juiz, promotor e até inspetor de quarteirão — viva a democracia!) votam pela anulação das sentenças de primeira instância, que em geral favorecem os querelantes. É um livro imperdível.
Isso não nos toca diretamente, claro, nossos tribunais têm juízes visceralmente vendidos às empresas, mas não custa saber como os primos ricos se viram lá em cima. Nos estados sem eleição, com juízes indicados, as corporações perdem feio. Por isso tem tanta empresa americana despejando seu lixo tóxico no Terceiro Mundo. A França, por sinal, só explora a praga cancerosa do amianto aqui no Brasil: lá é proibido. Lindo, não?
2 comentários:
Li The Appeal no pocket que a Monica me trouxe no fim do ano passado. Realmente é estarrecedor, e o pior é que o Grisham parece mesmo saber das coisas, romanceia um pouco, mas tem lá seu fundo de verdade. Tb sou fã.
Vc falou do amianto fracnês. E aquela denúncia sobre os piratas (???) pescadores somalianos contra o lixo tóxico europeu? Não vi em jornal nenhum daqui. Aliás, reafirmo, pra que jornal?
E esse lixo inglês que o RS está reexportando? A Wikipedia me informa que ainda tem nove usinas nucleares em funcionamento no UK, duas foram "defuelled" nos últimos cinco anos, além de outras "decommissioned". Sem contar os reatores de pesquisa. É mto lixo, não? Ou é só teoria da conspiração?
Conspiração p. nenhuma, amiga, eles não sabem o que fazer com aquela eme toda! Aliás, não sabem mais o que fazer com o lixo comum, viu como veio parar aqui tb?
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