terça-feira, 1 de novembro de 2011

sábado, 29 de outubro de 2011

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Legalizar o aborto!



Quer ser contra o aborto? Ótimo, vai fundo. Mas não queira mandar mulher pra cadeia por fazer aborto. Cuidemos cada um da própria vida, que tal?

domingo, 11 de setembro de 2011

Vamos a Londres! Que emoção!

Valeu, Marcelinho (Machado), 20 pontos! Esperou
12 anos, mas realizou o sonho de criança! (EFE)

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Quem pertence a quem no mundo enlatado

Quadro muito esclarecedor dos proprietários de mitos! Dica preciosa via @marcosfaria70, @io9, obrigada! (Clique para ampliar.)

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Otan, EUA e al-Qaeda assim, ó!

Via @VilaVudu (imagens -- todas do Google Image -- acrescentadas por mim)

Como a al-Qaeda chegou ao poder em Trípoli

Pepe Escobar

Asia Times Online, 30/8/2011


Abdelhakim Belhadj
O nome do homem é Abdelhakim Belhaj. Alguns o conhecem no Oriente Médio, mas poucos no ocidente algum dia ouviram seu nome.

Vamos por partes. Porque a história de como um comandante da al-Qaeda acabou por converter-se no principal comandante militar líbio na cidade de Trípoli ainda em guerra, põe por terra – mais uma vez – a selva de espelhos que se conhece como “guerra ao terror”, além de abalar profundamente toda a propaganda de uma “intervenção humanitária” tão cuidadosamente inventada para encobrir a intervenção militar, pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), na Líbia.

A fortaleza de Bab-al-Aziziyah, onde vivia Muammar Gaddafi foi invadida e conquistada, semana passada, quase exclusivamente por homens de Belhaj – que constituíam a linha de frente de uma milícia de berberes das montanhas do sudoeste de Trípoli. Essa milícia é a chamada hoje “Brigada de Trípoli”, que recebeu treinamento secreto, durante dois meses, de Forças Especiais dos EUA. Ao longo de seis meses de guerra civil/tribal, essa seria a milícia mais efetiva dos ‘rebeldes’.

Na 3ª-feira passada, Belhaj vangloriava-se de como havia vencido, com as forças de Gaddafi escapando “como ratos” (a mesma metáfora que Gaddafi usou, referindo-se aos ‘rebeldes’).

Abdelhakim Belhaj, também conhecido como Abu Abdallah al-Sadek, é jihadista líbio. Nascido em maio de 1966, aperfeiçoou seus saberes com os mujahideen da Jihad antissoviética dos anos 1980s no Afeganistão.

É fundador do Grupo de Combate Islâmico Líbio [ing. Libyan Islamic Fighting Group (LIFG)] do qual é o principal comandante – com Khaled Chrif e Sami Saadi como assessores e representantes. Depois que os Talibã assumiram o poder em Kabul em 1996, o LIFG criaram dois campos de treinamento no Afeganistão; um deles, 30 km ao norte de Kabul – comandado por Abu Yahya – exclusivo para jihadistas ligados à al-Qaeda.

Depois do 11/9, Belhaj mudou-se para o Paquistão e para o Iraque, onde esteve em contato com ninguém menos que o ultra linha-dura Abu Musab al-Zarqawi – tudo isso antes que a al-Qaeda no Iraque se declarasse a serviço de Osama bin Laden e Ayman al-Zawahiri e super ultra turbinasse suas práticas nefandas.

No Iraque, os líbios formavam o maior contingente de jihadistas sunitas estrangeiros, perdendo só para os sauditas. Além disso, os jihadistas líbios sempre foram superstars no mais alto escalão da Al-Qaeda “histórica” – de Abu Faraj al-Libi (comandante militar até ser preso em 2005, e hoje um dos 16 detentos “de mais alto valor” no centro de detenção dos EUA em Guantánamo), a Abu al-Laith al-Libi (outro alto comandante militar, morto no Paquistão no início de 2008).

Uma “entrega (muito) especial”[1]

O LIFG está nos radares da Agência Central de Inteligência (CIA) dos EUA desde o 11/9. Em 2003, Belhaj foi afinal preso na Malásia – e transferido pela via das “entregas especiais”, para uma prisão secreta em Bangkok onde foi devidamente torturado.

Em 2004, os norte-americanos decidiram mandá-lo, como presente, para a inteligência da Líbia – até que foi libertado pelo governo Gaddafi, em março de 2010, com outros 211 “terroristas”, em golpe de propaganda divulgado com muito alarde.

Saif no Opera Ball em Viena
O orquestrador de tudo isso foi ninguém menos que Saif Islam al-Gaddafi – a face modernizadora à moda da London School of Economics do regime. Os comandantes do LIFG – Belhaj e seus dois assessores Chrif e Saadi – divulgaram uma confissão de 417 páginas, chamada “Estudos Corretivos”, na qual declararam o fim da Jihad contra Gaddafi (também a declararam ilegal). Em seguida, foram postos em liberdade.

Relato fascinante de todo esse processo pode ser encontrado num relatório intitulado “Combatendo o Terrorismo na Líbia com Diálogo e Reintegração” [orig. Combating Terrorism in Libya through Dialogue and Reintegration]. Observe-se que os autores “especialistas” em terrorismo sediados em Cingapura, e que o regime cevava com vinhos e jantares, manifestam “o mais profundo agradecimento a Saif al-Islam Gaddafi e à fundação Gaddafi International Charity and Development, que tornaram possível essa visita”.

Interessa observar que isso durou até 2007, quando o número 2 da al-Qaeda, Zawahiri, anunciou oficialmente a fusão do Grupo de Combate Islâmico Líbio [ing. Libyan Islamic Fighting Group (LIFG)] com a al-Qaeda no Mahgreb Islâmico [ing. Al-Qaeda in the Islamic Mahgreb (AQIM)]. Desde então, para todas as finalidades práticas, LIFG/AQIM passaram a ser um e o mesmo grupo, do qual Belhaj era/é o principal comandante e emir.

Em 2007, o Grupo de Combate Islâmico Líbio [ing. Libyan Islamic Fighting Group (LIFG)] estava convocando uma Jihad contra Gaddafi, mas também contra os EUA e sortido grupo de “infiéis” ocidentais.

Rode a fita adiante, até fevereiro passado. É quando, afinal livre da prisão, Belhaj resolveu voltar ao modo Jihad e alinhar seus soldados com o ‘levante’ de ‘rebeldes’ que começava a ser plantado na Cirenaica [ver aqui o que é Cirenaica (nota deste blog)].

Todas as agências de inteligência nos EUA, Europa e em todo o mundo árabe sabem de onde brotou Belhaj. Mesmo que não soubessem, o próprio Belhaj já disse na Líbia que o único interesse, seu e de suas milícias, é implantar a lei da sharia.

Não há, nem parecido, nisso tudo, qualquer processo “pró-democracia” – nem que se tente a mais complexa ginástica imaginativa. Mas, ao mesmo tempo, força de tal importância não seria apeada da guerra da OTAN só porque não gosta muito de “infiéis”.

Foto AP
O assassinato no fim de julho do comandante dos ‘rebeldes’ general Abdel Fattah Younis – morto pelos próprios ‘rebeldes’ – parece apontar diretamente para Belhaj ou, no mínimo, para gente próxima dele.

É importante saber que Younis – antes de desertar do governo Gaddafi – foi responsável, no governo líbio, pelo combate feroz que as forças especiais líbias moveram contra o Grupo de Combate Islâmico Líbio [ing.Libyan Islamic Fighting Group na Cirenaica, de 1990 a 1995.

O Conselho Nacional de Transição, segundo um de seus membros, Ali Tarhouni, teria deixado ‘vazar’ que Younis foi moto por uma nebulosa brigada, de nome Obaida ibn Jarrah (um dos companheiros do Profeta Maomé). Agora, a tal brigada parece ter-se dissolvido no ar.

Cale o bico, ou arranco sua cabeça

Não pode ser acaso que todos os principais comandantes militares ‘rebeldes’ sejam membros do LIFG, de Belhaj em Trípoli, a um Ismael as-Salabi em Benghazi e certo Abdelhakim al-Assadi em Derna, para nem mencionar figura importantíssima, Ali Salabi, com assento no núcleo do Conselho Nacional de Transição. Saladi foi quem negociou com Saif al-Islam Gaddafi o “fim” da Jihad do Grupo de Combate Islâmico Líbio contra o regime Gaddafi, com o que garantiu para si futuro brilhantíssimo entre esses ressuscitados “combatentes da liberdade”.

Brigada descansa na base em Tiji (Balint Szlanko/AP)
Ninguém precisará de bola de cristal para antever consequências. O grupo unificado LIFG/AQIM – já tendo alcançado poder militar e assentado entre os “vencedores” – nem remotamente desistirá do poder, só para satisfazer os anseios da OTAN.

Simultaneamente, entre a névoa da guerra, ainda não se sabe se Gaddafi planeja atrair a Brigada de Trípoli para um cenário de guerrilha urbana ou se arrastará atrás de si as milícias ‘rebeldes’, atraindo-as para o coração dos territórios da tribo Warfallah.

A esposa de Gaddafi é da tribo Warfallah, a maior da Líbia, com mais de 1 milhão de almas e 54 subtribos. Diz-se pelos corredores em Bruxelas que a OTAN prevê que Gaddafi lutará durante meses, se não anos; daí o prêmio (“Procurado vivo ou morto”) à moda texana de George W Bush, pela cabeça de Gaddafi e a volta desesperada da OTAN ao plano A (o golpe militar para derrubar Gaddafi).

É possível que a Líbia enfrente hoje o duplo espectro de uma Hidra guerrilheira de duas cabeças: forças de Gaddafi contra um governo central fraco do Conselho Nacional de Transição e tropas da OTAN em terra na Líbia; e a nuvem de Jihadistas do conglomerado LIFG/AQIM em Jihad contra a OTAN (se forem afastados do poder).


É possível que Gaddafi não passe de relíquia ditatorial do passado. Mas ninguém monopoliza o poder por 40 anos por nada e sem que seus serviços de inteligência nada descubram de aproveitável.


Desde o primeiro dia, Gaddafi disse e repetiu que o ataque contra a Líbia era operação da al-Qaeda e/ou operação local com financiamento estrangeiro. Esteve certo, portanto, desde o primeiro dia – embora tenha esquecido de dizer que, sobretudo, sempre foi guerra inventada pelo neonapoleônico presidente Nicolas Sarkozy da França (mas essa já é outra história).


Gaddafi também disse que seria o prelúdio da ocupação estrangeira, cuja meta é privatizar e roubar os recursos naturais da Líbia. Parece que acertou – também nisso.


Os “especialistas” de Cingapura que elogiaram a decisão do regime de Gaddafi de libertar os Jihadistas do Grupo de Combate Islâmico Líbio disseram que seria “estratégia necessária para mitigar a ameaça que pesa contra a Líbia”. Hoje, o que se vê é que o conjunto LIFG/AQIM – quer dizer, a al-Qaeda – conseguiu posicionar-se para exercer suas opções como “força política (líbia) local”.


Dez anos depois do 11/9, não é difícil imaginar que, no fundo do Mar da Arábia, há um crânio decomposto que, esse sim, está rindo por último. E lá ficará. Rindo.

Nota Vila Vudu
[1] Orig. extraordinary rendition. Em inglês, essa expressão designa o processo ilegal, mas usado frequentemente durante o governo Bush, nos primeiros movimentos da “guerra ao terror” pelo qual prisioneiros presos num país são entregues a outro para serem interrogados [ver aqui].

sábado, 27 de agosto de 2011

Africanos dizem basta à ONU

A confusão na Líbia deixa louco qualquer ser minimamente democrático e ao mesmo tempo defensor da nao ingerência nos assuntos internos dos países. Quem não fica feliz com a saída do Kadafi, um sujeito voluntarista no comando do país há mais de 40 anos? Mas quem pode ficar feliz com a destruição da Líbia pela Otan, a pretexto de "evitar genocídio" e apoiar os rebeldes, que sabe-se lá quem são numa região dividida há milênios por tribos inimigas?

Então, achei muito útil esta carta dos intelectuais africanos que o Coletivo de Tradutores @VilaVudu divulgou por e-mail (é do dia 11, mas ainda não tinha visto). Primeiro porque situa claramente a ONU e seu Conselho de Segurança como organismos a serviço dos interesses das potências militaristas mais fortes; segundo porque exige a cessação imediata dos ataques da Otan, que acabaram com a Líbia. (As imagens foram acrescentadas por mim).

***

Líbia, África e a Nova Ordem Mundial

Carta Aberta dos Intelectuais Africanos
Rosebank, Johannesburg, África do Sul
11/8/2011


Nós abaixo-assinados somos cidadãos africanos comuns, todos imensamente condoídos e indignados, vendo que africanos como nós estão submetidos aos horrores da guerra, atacados por potências estrangeiras que claramente repudiaram a visão nobre e relevante inscrita na Carta das Nações Unidas[1].

A ação de escrever essa carta é inspirada por nosso desejo, não de escolher lados, mas de proteger a soberania da Líbia e o direito do povo líbio de escolher seus líderes e determinar o próprio destino.

A Líbia é país africano.

Ataque da Otan a Misrata (CNN, 27/4?11)
Dia 10 de março, o Conselho de Paz e Segurança da União Africana aprovou importante resolução (3) na qual se delineou o mapa do caminho para encaminhar a solução do conflito líbio, consistente com os deveres da União Africana nos termos do Capítulo VIII da Carta das Nações Unidas.

Quando o Conselho de Segurança da ONU aprovou sua Resolução n. 1.973, sabia da decisão da União Africana, anunciada sete dias antes.

Ao decidir ignorá-la, o Conselho de Segurança deliberadamente contribuiu para subverter a lei internacional, além de comprometer a legitimidade da ONU aos olhos dos povos africanos.

Desde então, por outros caminhos, tem ajudado a promover e aprofundar processo imensamente pernicioso de marginalizar a África entre as demais nações do mundo, também no que tenha a ver com solucionar os problemas do continente.

Indiferente ao que determina a Carta das Nações Unidas, o Conselho de Segurança da ONU declarou sua guerra privada contra a Líbia, dia 17/3/2011.

O Conselho de Segurança deixou-se manipular pelo que o International Crisis Group (ICG), em seu Relatório sobre a Líbia, de 6/6/2011[2], descreve como “matérias jornalísticas sensacionalistas segundo as quais o regime líbio estaria usando sua Força Aérea contra manifestantes”.

Assim (mal) informado, o CS-ONU aprovou a Resolução n. 1.973, que autorizava que se impusesse uma “zona aérea de exclusão” sobre a Líbia e que se tomassem “todas as medidas necessárias (...) para proteger civis e área populosas sob ameaça da Jamahiriya Líbia Árabe (...)”.

Assim, sobretudo, o Conselho de Segurança usou o conceito altamente controverso e sob o qual não há consenso entre os especialistas em direito internacional da “responsabilidade/direito de proteger”, chamado R2P, para justificar a intervenção militar de que trata o Capítulo VII, na Líbia.

Sob essa duvidosa cobertura, o Conselho de Segurança da ONU já cometeu longa lista de agressões que configuram a transformação desse Conselho em instrumento a serviço dos desejos dos estados militarmente mais poderosos dentre seus estados-membros.

Até agora, o Conselho de Segurança não conseguiu apresentar nenhuma evidência de sua autorização para o uso da força nos termos do Capítulo VII da Carta da ONU tenha sido resposta proporcional e adequada a uma situação que, na Líbia, e depois da intervenção militar, foi convertida em guerra civil.

Em seguida, o Conselho de Segurança ‘terceirizou’ ou ‘subcontratou’ a implementação de sua resolução para a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), admitindo que essa aliança militar agisse como uma “coalizão de vontades”.

O Conselho de Segurança não cuidou de implantar qualquer mecanismo ou processo para supervisionar os ‘serviços’ do exército ‘subcontratado’, de modo a garantir que as provisões de suas Resoluções fossem completamente e satisfatoriamente atendidas.

Tampouco fez qualquer esforço para monitorar e analisar as ações da OTAN ‘subcontratada’.

O Conselho de Segurança permitiu que se estabelecesse um “Grupo de Contato” sem qualquer legitimidade e sem autorização legal formal – mais uma “coalizão de vontades” – que, de fato, desconstituiu a própria autoridade do Conselho de Segurança como autoridade competente para interferir no futuro da Líbia.

Confirmando essa desconstituição inadmissível, em reunião do dia 15/7/2011 em Istambul, esse “Grupo de Contato” “reafirmou que o Grupo de Contato continua como plataforma adequada e ponto focal de contato com o povo líbio, para coordenar a política internacional e ser um fórum de discussão do apoio humanitário e apoio pós-conflito”.

Dada a omissão do Conselho de Segurança, as duas “coalizões de vontades” – a OTAN e o “Grupo de Contato” –, de fato e para todos os efeitos, reescreveram a Resolução n. 1.973.

Assim, as tais “coalizões de vontades” abertamente assaltaram um poder que legitimamente só o Conselho de Segurança poderia ter e puseram-se a trabalhar para derrubar o governo líbio, golpe que passou a ser designado como ‘mudança de regime’. Para esse objetivo, passaram a usar da força e de todos os meios para derrubar o governo líbio – objetivo que absolutamente nada tem a ver com as decisões do Conselho de Segurança da ONU.

Mediante esses artifícios e sem qualquer atenção às Resoluções n. 1.970 e 1.973, aquelas “coalizões de vontades” atreveram-se a declarar ilegítimo o governo da Líbia e a proclamar um ‘conselho nacional de transição’ organizado em Benghazi como “legítima autoridade governante na Líbia”.

O Conselho de Segurança da ONU é hoje absolutamente incapaz de explicar como as decisões tomadas pela OTAN e pelo “Grupo de Contato” teriam algo a ver com a questão crucial de “facilitar o diálogo com vistas às reformas políticas necessárias para encontrar solução pacífica e sustentável” para o conflito na Líbia.

As ações de seus ‘subcontratados’ – a OTAN e o “Grupo de Contato” – converteram a ONU em parte beligerante no conflito líbio, desnaturando a Organização cujo papel só poderia ser de pacificador neutro e equidistante, igualmente, das duas facções armadas que disputam o poder na Líbia.

Não bastasse, o Conselho de Segurança optou por repudiar a lei internacional, ao deliberadamente ignorar o que determina o Capítulo VIII da Carta das Nações Unidas sobre o papel das instituições regionais legítimas.

A ‘guerra ao terror’ de George W. Bush contra o Iraque começou dia 20/3/2003. No dia seguinte, 21/3/2003, o jornal britânico The Guardian publicou um curto artigo assinado pelo conhecido neoconservador norte-americano Richard Perle, sob o título “Graças a Deus a ONU morreu. Seu fracasso abjeto só nos trouxe anarquia. O mundo precisa de ordem”[3].

Mas toda a arquitetura global do pós-Segunda Guerra Mundial, para manutenção da paz e da segurança internacionais centravam-se no respeito à Carta das Nações Unidas.

Hoje, o Conselho de Segurança da ONU deve saber que, pelo menos no que tenha a ver com a Líbia, atuou de modo que resultou em, e levou a, perder toda a autoridade moral para efetivamente presidir a discussão e o encaminhamento de processos criticamente importantes para que se alcance a paz global e se realize o objetivo da coexistência pacífica entre os povos do mundo.

Ao arrepio de tudo o que determina a Carta das Nações Unidas, o Conselho de Segurança autorizou e permitiu a anarquia que se abateu sobre o povo líbio.

Ao final disso tudo, o que se vê é que:

– muitos foram mortos ou aleijados;

– grande parte da infraestrutura do país foi destruída, o que empobreceu ainda mais o povo líbio;

– a animosidade e as fissuras que dividem o povo líbio foram aprofundadas;

– a possibilidade de chegar-se a um acordo negociado, inclusivo e estável tornou-se menor que nunca;

– a instabilidade aumentou em todos os países vizinhos da Líbia, sobretudo nos países do Sahel africano (Sudão, Chad, Niger, Mali e Mauritânia) [imagem ao lado];

– a África herdará desafio muito maior e mais difícil no que tenha a ver com questões de paz e estabilidade e, portanto, afastar-se-á ainda mais da via do desenvolvimento sustentável; e

– os que intervieram para perpetuar a violência e a guerra na Líbia fixarão os parâmetros sob os quais os líbios poderão decidir sobre o próprio destino e, assim, tornarão ainda mais limitado o exíguo espaço no qual os africanos lutam pelo seu direito a autodeterminação.

Como africanos, antevimos um futuro em que seríamos atores relevantes num sistema de relações internacionais justas, confiando que a ONU realmente zelaria pelo seu direito legítimo de atuar como “as fundações da nova ordem mundial”,

O Relatório do ICG citado acima diz:

“O que se pode prever para a Líbia, mas também para todo o norte da África, é cada vez mais terrível, a menos que se encontre meio pelo qual induzir os dois lados envolvidos no conflito armado na Líbia a negociar um acordo que permita transição pacífica para um estado pós-Gadaffi, pós-Jamahiriya, e que seja estado considerado legítimo pelo povo líbio. Uma saída política é, de longe, a melhor solução possível, ante a dificílima situação criada pelo impasse militar.” 2

Quando Richard Perle escreveu em 2003 sobre o “fracasso abjeto da ONU”, reclamava contra a ONU ter-se recusado a curvar-se ante a ditadura da única superpotência mundial, os EUA.

A ONU assumiu aquela posição, porque estava consciente da, e inspirada por, sua obrigação de agir como verdadeira representante de todos os povos do mundo, nos termos de abertura da Carta das Nações Unidas: “Nós, os povos das nações unidas, resolvidos a preservar as gerações vindouras do flagelo das guerras...”1

Contudo, e tragicamente, oito anos depois, em 2011, o Conselho de Segurança da ONU abandonou qualquer compromisso com essa determinação.

Açoitado pela humilhante experiência de 2003, quando os EUA demonstraram que o único poder é a violência, o Conselho de Segurança decidiu que mais fácil seria submeter-se à violência dos poderosos, que honrar o dever de respeitar o soberano desejo dos povos – também das nações africanas, é claro. Então divulgou a mensagem de que aceitava nada ser além de instrumento nas mãos dos senhores da violência mais brutal, os mais brutais no sistema das relações internacionais, e que a violência, portanto, passaria a comandar a ordenação dos negócios humanos.

Como africanos, temos de levantar-nos e reafirmar nosso direito e nosso dever de determinar nosso destino, na Líbia e em qualquer outro ponto de nosso continente.

Exigimos que todos os governos, em todos os cantos do mundo, também na África, que almejem alcançar genuíno respeito dos governados, como nós, ajam imediatamente para reafirmar “a lei pela qual todas as nações possam viver dignamente”.

Exigimos que:

– tenha fim imediatamente a guerra de agressão da OTAN contra a Líbia;

– a União Africana seja apoiada para implementar seu plano para ajudar o povo líbio a alcançar a paz, a democracia, prosperidade partilhada e a reconciliação, numa Líbia unida; e que

– o Conselho de Segurança aja imediatamente para cumprir suas responsabilidades, como definidas na Carta das Nações Unidas.

Os que desencadearam tempestade mortal de bombas sobre a Líbia não devem persistir na autoilusão de que o aparente silêncio dos milhões de africanos signifique qualquer tipo de aprovação à campanha de morte, destruição e dominação que aquela tempestade parece assegurar.

Estamos confiantes. Reemergiremos vitoriosos, por mais que façam os semeadores de morte dos mais poderosos exércitos do mundo.

Responderemos na prática da vida e como africanos. Em todos os momentos e pelos meios necessários, agiremos resoluta e deliberadamente para defender o direito de os africanos da Líbia decidirem o próprio futuro e, por essa via, defenderemos o direito e o dever de todos os africanos determinarmos nosso destino.

O Mapa do Caminho proposto pela União Africana[4] ainda é o melhor caminho para garantir a paz ao povo da Líbia.

[seguem-se 140 assinaturas de intelectuais, artistas, professores, religiosos, políticos e personalidades africanos]

[1] Em português, em http://www.oas.org/dil/port/1945%20Carta%20das%20Na%C3%A7%C3%B5es%20Unidas.pdf

[2] Em http://www.crisisgroup.org/en/regions/middle-east-north-africa/north-africa/libya/107-popular-protest-in-north-africa-and-the-middle-east-v-making-sense-of-libya.aspx (em inglês).

[3] “Thank God for the death of the UN. Its abject failure gave us only anarchy. The world needs order”, 21/3/2003, Richard Perle, The Guardian, UK, em http://www.guardian.co.uk/politics/2003/mar/21/foreignpolicy.iraq1.

[4] “African Union proposes Libya roadmap to peace”, 10/4/2011, http://www.socialistunity.com/?p=7976 (em inglês).

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Dilma, uma fala margarida!

“Eu quero intensificar o diálogo do governo com vocês. Tenho certeza de que o debate com os movimentos sociais é fundamental. E tenho certeza de que as críticas e as sugestões são essenciais e muito bem vindas, pois permitem que façamos cada vez melhor, que possamos, juntas, construir o Brasil que queremos: um país sem miséria, um país rico (…) e um país mais justo e menos desigual”
Discurso no encerramento da Marcha das Margaridas, evento das brasileiras do campo. Mais aqui.

Darcus Howe, um cidadão

Como disse o Marco Aurélio (meu filho, não o ministro do STF), "que síntese da contemporaneidade"! Ouçam a fala deste homem, arrepiem-se com a dignidade e altivez dele! Pra quem nao entender inglês, a história desse mico histórico da BBC estä contada no Viomundo.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Direito ao aborto, novos bombardeios


Meu querido companheiro Anibal Guimarães (falei dele nesta matéria aqui) envia e-mail assustador, com um alerta: a íntegra de uma nota da Sociedade de Bioética do Estado do Rio de Janeiro – regional da SBB que analisa o odioso, fascista e beato Projeto de Lei 416/2011 (íntegra aqui), aparentemente de "prevençao ao aborto" -- sim, estao ficando espertos, aprendem a dourar a pílula de seu mediaevalismo, mas fundamentalmente ofensivo à mulher, a seus direitos e ao SUS. Há dois outros assemelhados -- o federal me fez chorar --, aqui e aqui, devidamente inseridos no arquivo "Vomitório" do meu Google Docs. Quem me cedeu essas íntegras, poupando-me o trabalho de ir ao site da Alerj ou da Câmara, foi a @lessinha_nane, do excelente tumblr Fiscais de Fiofó S/A, no qual denuncia projetos de lei "de relevante alcance social propostos pela Frente Parlamentar dos Fiscais do Fiofó Alheio, também conhecida pela singela alcunha de Frente Parlamentar Evangélica". Ela acrescenta: "Este tumblr é baseado em fatos reais, qualquer semelhança com um Estado Laico terá sido mera coincidência". Bom demais!

Abaixo, a nota da SBRio (as imagens do texto foram inseridas por mim):

***

NOTA DA DIRETORIA

A diretoria da regional Rio de Janeiro da Sociedade Brasileira de Bioética, após cuidadosa análise do Projeto de Lei 416/2011, apresenta à sociedade fluminense as seguintes considerações para fundamentar sua posição contrária à aprovação do mesmo.

Entendemos que o projeto em questão representa um retrocesso dos pontos de vista moral, social, político e sanitário, por negar direitos fundamentais já garantidos no território nacional e pactuado em acordos internacionais (declaração do Cairo e de Beijing).

O Brasil garante o respeito à dignidade da pessoa ao garantir às mulheres seu direito à autodeterminação no que diz respeito aos direitos reprodutivos e ao acesso ao planejamento familiar (inclusive métodos contraceptivos, aí incluída a anticoncepção de emergência, a "pílula do dia seguinte", já normatizados pelo Ministério da Saúde).

O projeto faz uso indevido do conceito de pessoa, cuja aplicação a embriões e fetos é altamente controversa, já que não existe fundamentação aceitável que a sustente. Além disso, o projeto apresenta argumentos cientificamente falaciosos, induzindo o leitor a uma interpretação equivocada da questão.

Nota-se igualmente no referido projeto um absurdo ao equiparar casos de estupro com casos de gravidezes acidentais ou indesejadas. Tal postura é inaceitável e injustificável. Entendemos também que a defesa do direito ao aborto é inseparável da defesa dos direitos reprodutivos das mulheres e também inseparável de uma boa vida qualificada.

Todos os cuidados de saúde propostos pelo projeto já são obrigações do SUS, não fazendo sentido um projeto específico para esses cuidados.

Quanto à questão do abandono de incapazes, entendemos que o problema que vem sendo observado em algumas cidades brasileiras está diretamente relacionado com a proibição do aborto, falta de acesso a métodos contraceptivos e a profunda injustiça social que marca nossa sociedade. Pode sim haver um Programa de proteção a essa criançada abandonada, mas também a possibilidade de se garantir a essas mães o direito de impedir a gravidez ou mesmo o seu prosseguimento.

***

A nota é assinada pelo querido professor (Ensp/Fiocruz) Sergio Rego, presidente da SBRio.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Amorim, sereno: paz e cooperação!

Roberto Stuckert Filho/PR (8/8/11)
Meu amado ministro mandou muito bem! E a Dilma, mais ainda ao escolhê-lo!

(via @VilaVudu)

***

Brasília, 08/08/2011 – A presidenta da República, Dilma Rousseff, empossou nesta segunda-feira à tarde o novo ministro da Defesa, Celso Amorim, em solenidade realizada no Palácio do Planalto. Confira a íntegra do discurso de Amorim por ocasião da cerimônia de posse no cargo. O texto não inclui improvisos feitos ao longo da fala.

Palavras do ministro de Estado da Defesa, Celso Amorim, por ocasião da cerimônia de posse no cargo.

***

Antes de mais nada, agradeço o honroso convite da presidenta da República, Dilma Rousseff, para assumir a pasta da defesa.

Sou grato pela confiança e pela oportunidade de participar dessa importante etapa da longa transição do Brasil rumo a uma sociedade mais livre, mais justa e mais igualitária.

Serei breve.

A realidade de uma política pública complexa e multifacetada como a Defesa não oferece espaço à pretensão.

De maneira serena, cabe a mim neste momento mais ouvir do que falar – sem com isso me furtar ao diálogo franco e transparente.

Identifico nos militares valores dignos de admiração:

- patriotismo;
- abnegação;
- zelo pela coletividade;
- respeito à hierarquia e à disciplina.

Graças a importantes iniciativas levadas a cabo em governos anteriores, e mais particularmente durante o governo do presidente Lula, o panorama da Defesa nacional é qualitativamente distinto do cenário em que nos encontrávamos no início da redemocratização.

Contamos com Forças Armadas profissionais e plenamente conscientes de sua subordinação ao poder democrático civil.

A Estratégia Nacional de Defesa e o Plano de Articulação e Equipamento da Defesa dela decorrente oferecem um horizonte de curto, médio e longo prazo para o setor.

Sob o signo da continuidade que caracteriza os estados que atingiram maturidade democrática, trabalharei para implementá-los.

Farei isso com espírito crítico e de maneira atenta aos ajustes e adaptações que se façam necessários.

Dedicarei esforços ao fortalecimento da indústria nacional de material de emprego militar e à ampliação da autonomia tecnológica de nossas Forças Armadas, em estreita coordenação com os ministérios do Desenvolvimento e da Ciência e Tecnologia.

O momento que vivemos em termos de política industrial reforça essa prioridade.

O aprimoramento da capacidade de operação conjunta entre marinha, exército e aeronáutica, a racionalização de processos e programas e o robustecimento da supervisão do Ministério da Defesa sobre as políticas setoriais das forças são compromissos do titular da pasta.

O Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas terá importante papel nesse processo.

O Instituto Pandiá Calógeras, a ser implantado com celeridade, será importante instrumento de reflexão sobre temas estratégicos e servirá para formar os futuros analistas civis de Defesa.

Imagens dos conflitos em Londres

Nada contra a turma da limpeza, tão branquinha e bonitinha, olha só, gente!

AP

Mas tudo a favor dos revoltosos -- delinquentes safados, né? Segundo um colunista da Folha, tudo do PCC lá deles. Affffe!!!!!! Nenhum esforço para entender a revolta, NADA, tão-somente a projeção da "cultura tucana" que tomou conta deste país!

Mail Online

Mais fotos ótimas aqui (dica do @filipequintans no Twitter).

E, como sempre, as impressionantes big pictures do Boston Globe!

Matthew Lloyd/Getty Images

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Assista, é de partir o coração


Mais televisiva do que nunca, acabo de ver Tigres em perigo (Danger in Tiger Paradise), sobre a caça criminosa de tigres no Rathambhore National Park, em Rajasthan, na India. Valmik Thapak, que vem monitorando alguns exemplares e seus filhotes, luta como pode para protegê-los. Mas, sob o olhar complacente das autoridades do Projeto Tigre (as declarações "inocentes" de algumas delas lembram muito as de dirigentes do Ibama), caçadores conhecidos de todos exterminaram 28 tigres num ano, a tiro ou, acredite se quiser, choques elétricos -- é pra não estragar a pele... Que será vendida a tibetanos na China. Eles enfeitam seus trajes festivos com pele de tigre, dá pra imaginar uma coisa dessas??? (Parei de sentir pena do Tibete, pronto!). Se puder, assista, é de partir o coração.

Procurei muito, mas não achei na rede. O doc, de 50 minutos, é de 2002, feito para o Natural World da BBC e Animal Planet, do Discovery.

Que mané busca de deus, gente???!!!

Estava vendo na Record News uma entrevista com o Rubens Ewald Fº -- até agradável, diga-se, para uma pessoa preconceituosa (mais aqui e aqui) e um tanto obsoleta -- quando perguntaram sobre o filme favorito dele. "2001, uma odisseia no espaço", respondeu. Legal, bom mesmo, ainda que meio datado etc., pensei. Aí ele me solta essa: "2001 é a busca de deus". WHAT? Quem afirmou isso? Ok, o próprio Kubrick disse que cada um pode interpretar 2001 como bem entender, mas... busca de deus? Pra Kubrick essa interpretação é psicológica, um "conceito poético". Pra Arthur C. Clark, nem isso... A própria criança-estrela final é nosso retorno à matéria cósmica de que somos feitos, right? Bem, beato sempre acha uma brecha pra beatices, né? Então sugiro este vídeo -- "Kubrick2001, a odisseia no espaço explicada". É dupiru. Tem lá um deslize sobre "espírito" (o tal espírito é o nosso cérebro, certo???), mas ainda assim vale muito a pena. Tem em português, aguarde que a opção de idioma aparecerá, ok?


Divirta-se!

sexta-feira, 24 de junho de 2011

O "ráquer" era treta e o UOL é um pato

Sabem esse episódio do DDoS nos sites gov.br? O UOL entrevistou um suposto (RÁ!) representante de um grupo internacional de hackers. E ele não é coisa nenhuma, a não ser estelionatário. É claro que ataque DDoS a páginas de governo é notícia, mas publicar entrevista de um suposto (RÁ!) representante sem antes dar uma investigada... Vou te contar...

Pois foi TUDO DESMENTIDO! O cidadãoé pilantra.

PQP. Sinto vergonha pelo PIG, sinceramente.

Oposição-borracha

Via @caribe e @ro_anna


Se fosse o Lula...

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Minha esquerda é assim, a sua não???

A Sônia me mandou e resolvi publicar. Nada tem me animado, nada, a não ser esta descrição dos tempos atuais.

***

Cuidado: Zizek pode estar certo

Le Monde Diplomatique, 13 junho 2011 02:00 

"O que a esquerda vem fazendo nas últimas décadas é seguir brutalmente o destino de render-se, de acomodar-se, de fazer os "compromissos necessários " com o inimigo declarado". Esse é o espiríto de Zizek, um dos mais importantes teóricos de esquerda da atualidade

Jorge Barcellos

Diz-se que quando pediram a Slavoj Zizek para contar um segredo, ele teria respondido "- o comunismo vai ganhar". A frase resume o espírito daquele que tem sido um dos mais importantes teóricos de esquerda da atualidade. Zizek é o que podemos chamar de filósofo "arrasa-quarteirão": a palestra que proferiu no Salão Pedro Calmon da Faculdade de Economia da UFRJ, na praia Vermelha, em 2008, foi um imenso sucesso. Emir Sader relata que ao final da conferência, sob salva de palmas, disparou "– Chega! Guardem suas energias para quando chegar o comunismo". Em 2003, na Argentina, não foi diferente: Zizek reuniu mais de dois mil e quinhentos estudantes e professores atentos durante horas, experiência magistralmente registradas no documentário Zizek! de Astra Taylor. Paradoxalmente, este ícone da esquerda é o que mais dispara críticas à esquerda atual " o que a esquerda vem fazendo nas últimas décadas é seguir brutalmente o destino de render-se, de acomodar-se, de fazer os "compromissos necessários " com o inimigo declarado. 

Representa o socialismo, porém pode seguir plenamente o thatcherismo econômico; representa a ciência, mas pode seguir plenamente o império da multidão de opiniões, representa a democracia popular verdadeira, porém também pode jogar o jogo da política como espetáculo e dos pactos eleitorais; representa a fidelidade a certos princípios, porém pode ser totalmente pragmático". Para a esquerda local, já se disse tudo, menos que é masoquista. Agora se pode dizer.

Com Emir Sader no Odeon (Rio)
Zizek retornou ao Brasil para duas conferências: a primeira em São Paulo (21/5), no Sesc Pinheiros, integrando a programação do Seminário "Revoluções: uma política do sensível", e no Rio de Janeiro (24/5) no Cinema Odeon Petrobras. Em ambos fez a conferência "Revoluções: quando a situação é catastrófica, mas não é grave" e o lançamento de seus dois novos livros, "Em defesa das causas perdidas" e "Primeiro como tragédia, depois como farsa", ambos pela Boitempo. A promoção reúne entidades de peso como a FLACSO, CLACSO, Secretaria de Direitos Humanos do Governo Federal, PUC-RJ entre outras. Intelectual de produção vasta, sua trajetória é pouco conhecida dos brasileiros. Nascido em 1949 em Liubliana, Eslovênia, Zizek concluiu seu bacharelato em Artes, Filosofia e Sociologia em 1971 e obteve seu doutorado em Filosofia pela Universidade de Liubliana em 1985. Nos anos 70 fez parte da Escola da Eslovênia, onde estudou o pensamento de Hegel e nos anos 80 militou no movimento alternativo, chegando a ser candidato a Presidente de seu pais. Tomou contato com o pós-estruturalismo francês, estudando Jacques Lacan e escreveu uma imensa obra que inclui Porque não sabem o que fazem (1991), Goza teu sintoma!(1992), As Metastases do gozo (1994), O Espinoso Sujeito (1999), Bem vindo ao deserto do real (2003), Visão em Paralaxe (2008) e Lacrimare rerum (2009), entre outras.

O que torna profundamente atual o pensamento de Zizek é o seu trabalho sobre a ideologia. Não se trata da retomada de sua obra "O mapa da Ideologia", conhecida dos brasileiros, mas do aprofundamento de aspectos de sua obra pouco conhecida "O sublime objeto da ideologia" (2005) em que integrou de forma original as percepções psicanalíticas da fantasia à critica marxista da ideologia. Isto lhe lhe permitiu, pela primeira vez, propor uma teoria de como funciona a ideologia no plano subjetivo "Não existe a crença comum, o que existe é a crença em que os outros crêem." Zizek reconstrói os processos que fazem que homens, em determinadas circunstâncias, justifiquem e dêem um ar de verdade a uma mentira, numa espécie de construção coletiva . O "vamos fingir que as regras funcionam" oculta, entretanto, o fato de que as instituições no capitalismo contemporâneo estão falidas e ninguém de fato acredita nelas. Agimos como na fantasia de Papai Noel: nem os adultos, nem as crianças, acreditam mais nele. Pior: agimos assim com nossas instituições, inclusive com a democracia. A subjetividade também está sobre tremenda pressão da ideologia: cuidado, o capitalismo quer dar um significado a sua vida, diz Zizek. Ele toma como exemplo os anos que passamos consumindo publicidade, uma das melhores formas de se pensar o que acontece com nossa subjetividade. Nos anos 60, a propaganda automobilista vendia as qualidades de um carro; nos anos 70, o status que ele oferece ao consumidor para finalmente, hoje, ser a promessa de libertação da sociedade opressora. Para Zizek, o capitalismo contemporâneo é profundamente ideológico "a política desse capitalismo é a despolitização para que não haja mais uma ideologia clara." Na sociedade de consumo (Baudrillard), a ideologia vendida é a ideologia da diversão como na frase do filme Sociedade dos Poetas Mortos "Carpe Diem" (aproveitem o dia!). Nada mais comprovador do conceito de Lacan - apropriado por Zizek - de gozo excedente, um gozo que nos suborna para mascarar os nossos problemas. A solução, para Zizek, é o retorno à noção de economia política tal como proposta por Marx: politizar a economia e é nesse sentido que Zizek mais aproxima-se de outro teórico do marxismo, Robert Kurz. A ideologia do capitalismo contemporâneo, defende Zizek, quer que acreditemos que a economia não tem nada haver com a política: ela quer uma sociedade a-política, e para isso constrói a idéia de que é besteira discutir política. Nisto reside a radicalidade de Zizek: ele quer que a democracia se garanta sem as influências das pressões de mercado. E claro que os defensores do mercado rugem sem cessar quando ouvem falar de Zizek,chamando-o de intelectual bufão.

Yannis Stavrakakis, em La Izquierda Lacaniana – psicoanálisis, teoria, política (FCE, 2010), mostra que o pensamento de Zizek consolidou-se ao longo dos últimos quinze anos, período em que a Psicanálise e a Teoria Lacaniana passaram a ser recursos importantes na reorientação da teoria política contemporânea. Essa posição, para qual boa parte dos cientistas políticos torce o nariz, origina-se no próprio pensamento de Jacques Lacan, que não foi apolítico, ao contrário, fez criticas ao american way of life, ao capitalismo americano e a sociedade de consumo, o que o levou a associar sua noção de mais-gozo à noção de mais-valia de Marx. Nesse caminho estão Zizek, Cornelius Castoriadis, Alain Badiou e especialmente Ernesto Laclau, para quem "a teoria lacaniana aponta ferramentas decisivas para a formulação de uma teoria da hegemonia", daí a definição de seu horizonte teórico-politico em termos de Esquerda lacaniana, nítido campo de intervenções políticas e teóricas a partir da psicanálise - mas não somente com ela - parte para a critica da hegemonia capitalista contemporânea.

Em "Primeiro como tragédia, depois como farsa", lançado simultaneamente pela Verso ( Londres) e Flamarion (Paris) em 2009, Zizek pergunta se estamos preparados para a história que se impõe sobre nossas cabeças desde os ataques de 11 de setembro. Ele mostra as manobras por detrás das ideologias levantadas pela crise de 2008 e que levou bilhões de dólares para os bancos. Para Zizek, o que é profundamente ideológico é tratar as crises do capitalismo como algo estranho ao próprio capitalismo, ideia que deseja vender a imagem de um mercado capitalista regulado de outro modo. Ao contrário, ele nos mostra cada vez mais o capitalismo sobrevivendo abaixo de terapias de choque, mercado que exige violência extra-mercado para seu funcionamento. Para Zizek, a tarefa da esquerda critica é expor as características mortais do sistema capitalista mundial. Ele sabe que há algo de pobre na sociedade e acredita profundamente que o comunismo será reinventado para sanar a sociedade. E para isso, dirige-se aos comunistas desiludidos "- não tenha medo de se juntar a nós. Você já teve seu divertimento anticomunista e está perdoado por ele. É tempo de se levar a sério de novo". Ele vai além, mostra o mal-estar e a falta de sentido da democracia moderna e faz a pergunta paradoxal: estamos realmente vivendo em uma democracia? "A Itália de hoje é efetivamente uma espécie de laboratório experimental de nosso futuro", diz. Sua revolta é: como é possível admitir que milhares morram de fome enquanto os bancos enriquecem com seus trilhões de dólares?

Já na obra "Em defesa das causas perdidas", Zizek vai contra o pensamento hegemônico que vê a democracia liberal, as vezes dita pós-moderna, como o melhor dos mundos frente ao passado das lutas comunistas. Isso não quer dizer que as "causas perdidas" que defende estejam abrigadas pelo teto do Fórum Social Mundial: para Zizek, seu lema "Um outro mundo é possível" mostra que seus protagonistas ainda relacionam-se demais com a estrutura já postas pelo Capitalismo. Para fazer seu caminho, ele faz a opção por retornar ao marxismo à sua maneira, o que tem o peculiar efeito de chamar a atenção mundial sobre sua obra: não há dúvida, o que Zizek faz é tornar sedutor o marxismo para as nova gerações. Para isso articula Lacan, Hegel e Marx com cinema, música, cultura popular e a critica dos objetos de consumo. "Em defesa das causas perdidas" entretanto, padece do problema comum aos grandes pensadores contemporâneos: como produzem demais, escrevem demais, torna-se frequente encontrar traços de obras anteriores nas seguintes. Não há como deixar de ver no capítulo II Lições do passado o eco de suas obras anteriores sobre Robespierre e Mao, ou dos estudos anteriores que fez sobre Estalinismo publicados em espanhol. Há, entretanto, reflexões sobre o pensamento de Heidegger extremamente originais e que não haviam aparecido anteriormente. E é claro, Zizek sempre é um grande contador de causos que sintetizam brilhantemente suas ideias. Em um determinado momento de sua obra, ele cita a ficha de um hotel americano que diz: "Prezado cliente: para garantir que você vai desfrutar sua estadia conosco, este hotel está totalmente liberado do fumo. Qualquer violação deste regulamento resultará numa multa de $ 200". Assim é o Capitalismo, diz Zizek: estamos condenados a ser castigados se recursarmos a desfruta-lo plenamente. Zizek quer nos mostrar o cinismo do capitalismo contemporâneo em sua caminhada em direção a um capitalismo autoritário, contrário ao direitos humanos, como já anuncia o caso chinês. E o grande perigo é que ele pode estar certo.

Jorge Barcellos é historiador, mestre e doutorando em Educação/UFRGS, coordenador do Memorial da Câmara Municipal de Porto Alegre (blog)

quarta-feira, 8 de junho de 2011

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Eu menti. O dilema real é o capitalismo

Ando bem clichezeira ultimamente, mas meu clichê mais recente foi superfurado. O dilema do milênio não é a energia, mas o capitalismo neoliberal, esse daí que todos exaltam, desejam e buscam. Vejam só a questão espanhola, por exemplo. Estava todo mundo na praça pedindo emprego, salário, aposentadoria (tá, democracia também). Mas quem foi às urnas regionais (com enorme abstenção, diga-se) votou na direita neoliberal. É que os socialistas no poder seguem a receita neoliberal, daí a derrota... Vá entender a Espanha! (Para entender o Brasil, o companheiro Ivan Trindade publicou no Teia Livre um texto instigante!)

Não dá pra entender, na verdade, o mundo todo. No poder, o neoliberalismo na política atende cegamente às diretrizes econômicas neoliberais. Decisões de governos e tribunais seguem essas diretrizes. E o que acontece? Desemprego em massa. É a mais valia, estúpido! O patrão quer lucro maior, então vai modernizando a produção a ponto de desfigurar as leis marxistas e... prescindir do trabalhador. E da própria produção. Na crise, então, quer nem saber, demite os poucos que restam. É um círculo vicioso, um looping perverso. Então, por que os governos insistem nesse suicídio?

Não sei se me explico bem: os governos que se sucedem beneficiam as corporações -- e os Estados Unidos são a representação maior desse truísmo -- porque elas dão emprego, mas... elas não dão! (Ou tentam dar cada vez menos.) E os governos acabam reféns delas, às voltas com massas e massas de desempregados... como pode, gente? A literatura e o cinema cansam de mostrar essa burrice oficial coletiva! Há muitos docs famosos sobre a crise de 2008/2009, mas o meu preferido é o Inside job – "o filme que custou mais de US$ 20 trilhões para ser feito" –, do diretor Charles Ferguson (tratei dele aqui). Também adoro o do Michael Moore (Capitalism: a love story). Há outros ótimos, como The corporation (que é de 2003, mas já resumia tudo) ou o ficção-verdade The company men (John Wells, 2010), que baixei noutro dia e me deixou angustiada. Nenhum governante vê tais filmes? (Talvez Lula tenha visto todos...)

Já eu não vejo saída, alguém vê? Ou regredimos nesse capitalismo -- não digo ao feudalismo, hehe, mas a algum estágio mediano que não sei dizer qual, talvez o da Escandinávia pré-queda-do-Muro de Berlim (mas aí não seria capitalismo, né?, a natureza do sistema é buscar mais mais valia...) -- ou chegaremos a Mad Max. Aquele filme foi profético. Não há saída, gente. A não ser que houvesse revolução no mundo inteiro. Revolução?

Só não aposto porque espero estar morta até lá para não ver. Mas penso nos jovens que estarão...

Energia, o dilema deste milênio

Vista aérea da usina de Vattenfall, movida a carvão-lignito (Fabrizio Bensch/Reuters);
à direita, uma usina em Landshut, Bavaria. Isso é que é perigo no quintal! (Michaela Rehle/Reuters)
Achei incrível esta notícia! E agora, que energia vão usar? Carvão, como na foto da esquerda??? Um amigo do Marco fez um gráfico muito interessante, no qual tudo aponta para a nuclear. Claro que me preocupa o risco. Inventam tanta porcaria, por que não uma energia nuclear ou similar segura? Toda essa rejeição se deve à maldita bomba e a esse horror da síndrome da China. Depois dessa, viva Belo Monte! Ridículo pensar em energia eólica ou solar. (Pronto, agora podem me massacrar por todas essas opiniões suspeitíssimas.)
  
A Alemanha se transformou nesta segunda-feira no primeiro país que decidiu renunciar à energia nuclear por causa da catástrofe de Fukushima, no Japão, através de um acordo selado pela coalizão de Governo para desligar até 2022 a última de suas 17 centrais atômicas.

A chanceler alemã, Angela Merkel, anunciou que o pacto garantirá a transição para uma nova política energética baseada nas energias renováveis que garanta a provisão, a estabilidade dos preços, a autonomia elétrica nacional e um maior respeito ao meio ambiente.

O acordo estabelece o fechamento imediato das sete centrais mais antigas do país - que foram paradas de forma preventiva em março - e de outra com problemas de funcionamento, assim como a manutenção das três mais modernas no máximo até 2022.

Além disso, inclui uma cláusula de revisão pela qual, durante o processo de abandono da energia atômica, o Executivo pode decidir antecipar o fim definitivo da produção desse tipo de energia, dependendo do desenvolvimento das fontes renováveis.

A chanceler afirmou que o acordo busca, além disso, que até 2020 as energias alternativas representem pelo menos 40% da produção elétrica nacional e que se reduzam sensivelmente as emissões de CO2.

As legendas da coalizão de Governo - União Democrata-Cristã (CDU), União Social-Cristã (CSU) e Partido Democrático Liberal (FDP) - decidiram, além disso, manter o imposto ao combustível nuclear que os consórcios elétricos com centrais atômicas pagam, com o qual pretendem financiar o desenvolvimento das fontes renováveis.

Este acordo energético será organizado em uma série de normativas específicas que o Executivo começará a redigir e enviar ao Parlamento em forma de projetos de lei a partir da próxima semana.

Por sua vez, o Partido Social-Democrata (SPD) e o Partido Verde se mostraram dispostos a dialogar com o Governo para a tramitação parlamentar destas normas, embora sua reação inicial tenha sido de ceticismo.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Um saco esse pânico ideológico, credo...

E o mundo veio abaixo porque a Dilma cismou de reavaliar o kit da Escola Sem Homofobia. Coisas da luta política. Ninguém disse que seria cancelado, mas os portadores da síndrome do "pânico ideológico" de repente dão crédito até ao PIG, a Garotinho, a Bolsonaro e a outros arautos do "pânico moral". Não querem saber, saem matando a Dilma (que, diga-se de passagem, anda meio que mal-assessorada, minha nossa senhora do segundo escalão!). Não querem saber se o governo está em momento delicado, não, simplesmente acionam o modo pânico e saem matando, atirando ao léu pedaços do próprio fígado político, que as matilhas esfomeadas de plantão adoram devorar.

É impressionante que a esquerda de um país de baixa formação política e ideológica, por cinco séculos liderado pelas oligarquias antes rurais, depois rurais E industriais, como bem lembra nosso querido @arnobio1969) não tenha ainda sido capaz de trabalhar sua "paciência histórica", para usar expressão marxista que no Twitter o amigo @francisco_jrRN, do CNS, gosta de aplicar à luta em defesa do SUS...  

Nem o governo cancelou o kit nem os petistas entregaram o ouro. Estamos na luta! Eis, abaixo, a carta aberta que o Setorial LGBT do PT enviou à presidenta. Em vez de pedaços do fígado, que tal atirar pedaços de cérebro aos esfomeados? Em vez do pânico ideológico, que tal divulgar esse texto, cumprir tarefa de conscientização, armar os militantes e simpatizantes de argumentos, convencer a presidenta (e a seus assessores...) de que este é mais um capítulo de nossa luta histórica (sim, do PT e de outras forças pró-avanço na área de costumes) na construção da cidadania? Paciência histórica, amigos. Vamos vencer, disso não há dúvida. Às vezes só demora um pouquinho, pombas.

***

Carta aberta à Presidenta Dilma

Por Julian Rodrigues, Coordenador Nacional do Setorial LGBT – PT
Quinta-feira, 26 de maio de 2011

Presidenta:

Nós, do Setorial Nacional LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais) do Partido dos Trabalhadores, instância formal que organiza a intervenção da militância petista na luta anti-homofóbica, queremos dialogar publicamente com a senhora, nossa companheira na construção de um Brasil mais justo.

Gostaríamos de conversar a respeito da polêmica envolvendo os materiais educativos do projeto Escola Sem Homofobia, do MEC (apelidado de “Kit gay”, por conservadores).

Ficamos perplexos com as notícias veiculadas ontem, 25 de maio, informando que a senhora teria, em reunião com a “bancada evangélica”, decidido suspender a disponibilização dos materiais que estão sendo preparados pelo MEC, no contexto das políticas públicas de promoção do respeito à diversidade nas escolas brasileiras.

Admiramos sua vocação democrática, sua competência e seriedade. Sabemos que é preciso ouvir todos os segmentos da sociedade brasileira, buscando composições e sínteses, implementando as políticas públicas com eficácia, pautadas em critérios técnicos.

Nosso Partido é pioneiro no combate à discriminação contra homossexuais e nos orgulhamos do discurso do ex-presidente Lula, já em 1981, repudiando o preconceito. Somos vanguarda na luta pela afirmação da igualdade –criamos, já em1992, o primeiro núcleo LGBT em um partido político no país. Estamos juntos ao movimento social LGBT brasileiro, há anos batalhando contra a discriminação.

A maioria das leis e projetos de leis garantindo direitos à população LGBT, em todo o Brasil, são de iniciativa de parlamentares petistas. Marta Suplicy, já em 1995, propôs projeto de lei que estabelecia a união civil homossexual. Várias resoluções de Encontros Nacionais e Congressos do PT – e também nosso estatuto – ratificam esse compromisso com de combate ao preconceito e a discriminação em geral, e à homofobia em particular.

O ex-presidente Lula fez história, ao criar, em 2004, o primeiro programa governamental – Brasil Sem Homofobia – destinado a promover a igualdade entre todas as pessoas, de qualquer orientação sexual ou identidade de gênero.

Em 2008, o Governo Federal promoveu a 1ª Conferência LGBT, pioneira no mundo. No ano seguinte, foi criado o Plano Nacional de Promoção da Cidadania e dos Direitos Humanos LGBT – depois uma Coordenadoria e, posteriormente, um Conselho Nacional.

A maioria do movimento LGBT organizado e dos ativistas de Direitos Humanos fizeram campanha e votaram Dilma, trabalhando dia e noite pela sua eleição. Acreditamos no aprofundamento das políticas cidadãs iniciadas no governo do ex-presidente Lula.

Contudo, temos de reafirmar: o ESTADO BRASILEIRO É LAICO. Nossa Constituição traz entre seus princípios fundamentais, o combate a toda forma de discriminação, a dignidade humana e o pluralismo.

A recente decisão do Supremo Tribunal Federal, igualando as uniões estáveis homossexuais à heterossexuais reafirmou esses princípios básicos da Constituição Federal, assegurando a laicidade do Estado. Uma vitória da democracia brasileira.

Nessa mesma direção, enfatizamos a necessidade de aprofundar as políticas públicas que promovam a diversidade e o respeito às pessoas. Não concordamos, em nenhuma hipótese, com a possibilidade dos materiais elaborados pelo projeto Escola sem Homofobia não chegarem a seus destinatários.
Presidenta:

Um governo progressista, protagonizado por um partido de esquerda, dirigido por uma militante com a sua biografia, não pode transigir com princípios fundamentais da democracia.

A senhora tem deixado muito claro, em diversas ocasiões, que não transigirá na Defesa dos Direitos humanos. Pois bem, é disso que se trata. Não se trata de “costumes”, como foi mencionado, mas de direitos civis e políticos, do combate ao preconceito, de políticas pública de promoção da cidadania.

Ficamos muito satisfeitos com o fato de a senhora ter convocado há poucos dias, junto com a companheira Maria do Rosário, a 2ª Conferência Nacional LGBT, uma inequívoca demonstração de continuidade das políticas iniciadas no governo Lula, reafirmando assim o compromisso desse governo com o enfrentamento da homofobia.

O chamado “kit gay” é apenas um singelo material didático, elaborado por especialistas, referendado por entidades como a UNESCO, o Conselho Federal de Psicologia, a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, a UNE, a UBES entre outras.
Esse “kit” foi objeto de uma sórdida campanha, cheia de mentiras e distorções, que criou um sentimento de pânico moral em setores da nossa sociedade. A maior parte das pessoas que o repudiam não conhece seu conteúdo. Não há nada de inadequado, qualquer conteúdo sexual, nenhum beijo, nada, absolutamente nada que poderia atentar contra a qualidade educativa do material.

O objetivo do MEC com esse programa é apenas combater o bullying, que causa tanto sofrimento a milhões de “brasileirinhos”, em nossas escolas, fazendo com que muitos se evadam, perdendo o direito humano que têm à educação. O bullying é algo perverso, provoca discriminação, dor, exclusão e até suicídios - pode provocar tragédias.

O Brasil não cederá à chantagem de religiosos homofóbicos, que confundem templo com parlamento, que ignoram a laicidade, o pluralismo e a dignidade humana.

A opinião de alguns deputados fundamentalistas cristãos NÃO É a opinião da maioria do Congresso Nacional, muito menos da maioria da sociedade brasileira. No Congresso, por exemplo, há uma Frente Parlamentar que defende a cidadania LGBT com 175 deputados e senadores.

Presidenta Dilma:

Nós, seus companheiros de Partido e de jornada, ajudamos a elegê-la e também somos responsáveis pelo seu governo. Temos certeza que as políticas de promoção à cidadania LGBT não serão interrompidas.
A democracia brasileira não será chantageada por obscurantistas de plantão. Acreditamos no seu compromisso inabalável com os Direitos Humanos e com a cidadania plena. Seu governo construirá um Brasil melhor para todas e todos.

Apoiamos a continuidade das ações do projeto Escola Sem Homofobia e de todas as políticas inclusivas de seu governo. Sem retrocessos. Solicitamos, portanto, a continuidade imediata da disponibilização do “kit” para as escolas brasileiras.

Não basta combater a pobreza se junto não erradicarmos a violência do preconceito e da discriminação que está ao seu redor. Estarmos certos de contar com sua determinação.

Julian Rodrigues, Coordenador Nacional do Setorial LGBT – PT 26/5/2011

domingo, 22 de maio de 2011

Abaixo a MP 520!

Publiquei no Teia Livre hoje. Espero que os trabalhadores do SUS vençam mais este ataque à estabilidade e ao Regime Jurídico Único.

***

O ministro Alexandre Padilha (@padilhando), da Saúde, foi muito festejado no Twitter depois da entrevista coletiva que deu a blogueiros e tuiteiros (sábado 21/5). Para alguns, entretanto, o que ficou mesmo demonstrado, e bem antes do que se esperava, foi a total incompatibilidade do exercício simultâneo dos cargos de ministro e presidente do Conselho Nacional de Saúde (sobre o tema, ver links no pé deste texto). Padilha defendeu entusiasticamente a empresa hospitalar (ou pública) na gestão dos hospitais universitários (EBSERH) e pediu a aprovação urgente na Câmara da Medida Provisória 520, que regulamenta o modelo.

Ocorre que a MP mereceu moção de repúdio do CNS em janeiro (ver abaixo), como logo lembrou o conselheiro Francisco Júnior (@francisco_jrRN), antecessor de Padilha na presidência do colegiado que é a principal instância do controle social no país. A EBSERH transfere a responsabilidade sobre os hospitais universitários à iniciativa privada, seguindo a lógica privatista da Fundação Estatal de Direito Privado – mas consegue ser ainda pior, como atesta a insuspeita especialista Lenir Santos, defensora intransigente das FE.

Vejam o teor da moção, publicada no CNS e reproduzida em numerosos sites de sindicatos de trabalhadores da saúde, todos contrários à MP 520:
Brasília, 28 de janeiro de 2011

CNS aprova moção de repúdio à MP que cria a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares
O Conselho Nacional de Saúde (CNS) aprovou, nesta quinta-feira (27), moção de repúdio à Medida Provisória nº 520/2010. A MP foi publicada no dia 31 de dezembro e autoriza o Poder Executivo a criar a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH) com a atribuição de prestação de serviços de apoio aos hospitais universitários.

A urgência da medida provisória foi justificada pela necessidade de resolver o impasse dos terceirizados nos hospitais universitários, visto que o acórdão 1520/2006 do Tribunal de Contas da União (TCU) determinava a regularização da situação até 31 de dezembro de 2010 e teve seu prazo prorrogado esperando especificamente uma solução como a definida na proposta MP 520/2010.

Agora, as Universidades Federais poderão celebrar contratos com a nova empresa pública com personalidade jurídica de direito privado para o preenchimento dos cargos, inicialmente com profissionais contratados temporariamente por meio de seleção simplificada, pelo período máximo de dois anos. A EBSERH será administrada por um Conselho de Administração, uma Diretoria Executiva e um Conselho Fiscal e não prevê a participação do Controle Social.

Para o Conselho Nacional de Saúde, a MP 520 desvincula, na prática, os Hospitais Universitários das IFES, com o comprometimento da formação e qualificação dos profissionais de saúde que trabalham na saúde pública, produção do conhecimento na área de saúde, além de ferir o princípio constitucional de indissociabilidade entre ensino, pesquisa, extensão, dado que os Hospitais Universitários são unidades acadêmicas.

Outros prejuízos trazidos pela Medida Provisória referem-se a: precarização da mão de obra, uma vez que estabelece outra relação de trabalho nessas unidades e reforça o processo de terceirização; operacionalização sob a lógica de mercado e, portanto, tendo por princípio tão somente o cumprimento de metas, o que é danoso ao processo de busca da qualidade nos serviços públicos de saúde; financiamento do SUS, dentre outros.

Por considerar, ainda, que o instrumento utilizado - Medida Provisória - ignora os organismos da sociedade, não permitindo o debate com os agentes que construíram e sustentam o SUS, o CNS encaminhará ao Congresso Nacional a moção de repúdio e orienta as entidades a entrarem com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a MP 520/2010.

Francisco Júnior é um otimista incorrigível e convoca todos à luta, militância e usuários, em defesa da gestão profissionalizada e pública das unidades do SUS. Mas o cenário não é bom não. A tendência privatista galopa, enquanto o trabalhador do SUS cala. Pior, ele se despolitiza a olhos vistos. "Culpa" do desemprego, da terceirização e da mercantilização, resumiu Júnior, para quem o processo político é mesmo alienante e desideologizante.

Nesse contexto adverso, se ensaia um protesto o trabalhador é acusado de corporativismo e responsabilizado pela “ideologização do SUS” – como se isso fosse crime. “Diferente da opinião oficial, ou ideologizamos definitivamente o debate sobre o SUS ou não haverá condições de resgatá-lo”, disse o conselheiro num papo pelo Twitter nesta manhã de domingo 22. “Nada é inútil na construção do processo político em busca dos nossos ideais”, convocou. “Paciência histórica!”

Sim, é possível. A pressão dos defensores do SUS engessou no Congresso a proposta das fundações estatais. Vamos derrubar também a 520?

Quanto a Alexandre Padilha, parabéns pela entrevista, muito simpática (cuida dessa tosse, hein?). Agora, que tal executar as deliberações do CNS? É bom para a democracia, para o controle social, para o SUS e para o povo brasileiro!

Eleição no CNS

CNS: todo mundo feliz

Eleição no CNS e o pacote de maldades

O retorno do rei

Acabou a crise do CNS, oba!

O que está pegando no Conselho Nacional de Saúde?

Resposta do presidente do CNS
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...