sábado, 30 de março de 2013

Me senti na ditadura


Globo consegue o que a ditadura não conseguiu: calar imprensa alternativa

publicado em 29 de março de 2013 às 20:32



por Luiz Carlos Azenha
Meu advogado, Cesar Kloury, me proíbe de discutir especificidades sobre a sentença da Justiça carioca que me condenou a pagar 30 mil reais ao diretor de Central Globo de Jornalismo, Ali Kamel, supostamente por mover contra ele uma “campanha difamatória” em 28 posts do Viomundo, todos ligados a críticas políticas que fiz a Kamel em circunstâncias diretamente relacionadas à campanha presidencial de 2006, quando eu era repórter da Globo.
Lembro: eu não era um qualquer, na Globo, então. Era recém-chegado de ser correspondente da emissora em Nova York. Fui o repórter destacado para cobrir o candidato tucano Geraldo Alckmin durante a campanha de 2006. Ouvi, na redação de São Paulo, diretamente do então editor de economia do Jornal Nacional, Marco Aurélio Mello, que tinha sido determinado desde o Rio que as reportagens de economia deveriam ser “esquecidas”– tirar o pé, foi a frase — porque supostamente poderiam beneficiar a reeleição de Lula.
Vi colegas, como Mariana Kotscho e Cecília Negrão, reclamando que a cobertura da emissora nas eleições presidenciais não era imparcial.
Um importante repórter da emissora ligava para o então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, dizendo que a Globo pretendia entregar a eleição para o tucano Geraldo Alckmin. Ouvi o telefonema. Mais tarde, instado pelo próprio ministro, confirmei o que era também minha impressão.
Pessoalmente, tive uma reportagem potencialmente danosa para o então candidato a governador de São Paulo, José Serra, censurada. A reportagem dava conta de que Serra, enquanto ministro, tinha autorizado a maior parte das doações irregulares de ambulâncias a prefeituras.
Quando uma produtora localizou no interior de Minas Gerais o ex-assessor do ministro da Saúde Serra, Platão Fischer-Puller, que poderia esclarecer aspectos obscuros sobre a gestão do ministro no governo FHC, ela foi desencorajada a perseguí-lo, enquanto todos os recursos da emissora foram destinados a denunciar o contador do PT Delúbio Soares e o ex-ministro da Saúde Humberto Costa, este posteriormente absolvido de todas as acusações.
Tive reportagem sobre Carlinhos Cachoeira — muito mais tarde revelado como fonte da revista Veja para escândalos do governo Lula — ‘deslocada’ de telejornal mais nobre da emissora para o Bom Dia Brasil, como pode atestar o então editor Marco Aurélio Mello.
Num episódio específico, fui perseguido na redação por um feitor munido de um rádio de comunicação com o qual falava diretamente com o Rio de Janeiro: tratava-se de obter minha assinatura para um abaixo-assinado em apoio a Ali Kamel sobre a cobertura das eleições de 2006.
Considero que isso caracteriza assédio moral, já que o beneficiado pelo abaixo-assinado era chefe e poderia promover ou prejudicar subordinados de acordo com a adesão.
Argumentei, então, que o comentarista de política da Globo, Arnaldo Jabor, havia dito em plena campanha eleitoral que Lula era comparável ao ditador da Coréia do Norte, Kim Il-Sung, e que não acreditava ser essa postura compatível com a suposta imparcialidade da emissora. Resposta do editor, que hoje ocupa importante cargo na hierarquia da Globo: Jabor era o “palhaço” da casa, não deveria ser levado a sério.
No dia do primeiro turno das eleições, alertado por colega, ouvi uma gravação entre o delegado da Polícia Federal Edmilson Bruno e um grupo de jornalistas, na qual eles combinavam como deveria ser feito o vazamento das fotos do dinheiro que teria sido usado pelo PT para comprar um dossiê contra o candidato Serra.
Achei o assunto relevante e reproduzi uma transcrição — confesso, defeituosa pela pressa – no Viomundo.
Fui advertido por telefone pelo atual chefão da Globo, Carlos Henrique Schroeder, de que não deveria ter revelado em meu blog pessoal, hospedado na Globo.com, informações levantadas durante meu trabalho como repórter da emissora.
Contestei: a gravação, em minha opinião, era jornalisticamente relevante para o entendimento de todo o contexto do vazamento, que se deu exatamente na véspera do primeiro turno.
Enojado com o que havia testemunhado ao longo de 2006, inclusive com a represália exercida contra colegas — dentre os quais Rodrigo Vianna, Marco Aurélio Mello e Carlos Dornelles — e interessado especialmente em conhecer o mundo da blogosfera — pedi antecipadamente a rescisão de meu contrato com a emissora, na qual ganhava salário de alto executivo, com mais de um ano de antecedência, assumindo o compromisso de não trabalhar para outra emissora antes do vencimento do contrato pelo qual já não recebia salário.
Ou seja, fiz isso apesar dos grandes danos para minha carreira profissional e meu sustento pessoal.
Apesar das mentiras, ilações e tentativas de assassinato de caráter, perpretradas pelo jornal O Globo* e colunistas associados de Veja, friso: sempre vivi de meu salário. Este site sempre foi mantido graças a meu próprio salário de jornalista-trabalhador.
O objetivo do Viomundo sempre foi o de defender o interesse público e os movimentos sociais, sub-representados na mídia corporativa. Declaramos oficialmente: não recebemos patrocínio de governos ou empresas públicas ou estatais, ao contrário da Folha, de O Globo ou do Estadão. Nem do governo federal, nem de governos estaduais ou municipais.
Porém, para tudo existe um limite. A ação que me foi movida pela TV Globo (nominalmente por Ali Kamel) me custou R$ 30 mil reais em honorários advocatícios.
Fora o que eventualmente terei de gastar para derrotá-la. Agora, pensem comigo: qual é o limite das Organizações Globo para gastar com advogados?
O objetivo da emissora, ainda que por vias tortas, é claro: intimidar e calar aqueles que são capazes de desvendar o que se passa nos bastidores dela, justamente por terem fontes e conhecimento das engrenagens globais.
Sou arrimo de família: sustento mãe, irmão, ajudo irmã, filhas e mantenho este site graças a dinheiro de meu próprio bolso e da valiosa colaboração gratuita de milhares de leitores.
Cheguei ao extremo de meu limite financeiro, o que obviamente não é o caso das Organizações Globo, que concentram pelo menos 50% de todas as verbas publicitárias do Brasil, com o equivalente poder político, midiático e lobístico.
Durante a ditadura militar, implantada com o apoio das Organizações Globo, da Folha e do Estadão — entre outros que teriam se beneficiado do regime de força — houve uma forte tentativa de sufocar os meios alternativos de informação, dentre os quais destaco os jornais Movimento e Pasquim.
Hoje, através da judicialização de debate político, de um confronto que leva para a Justiça uma disputa entre desiguais, estamos fadados ao sufoco lento e gradual.
E, por mais que isso me doa profundamente no coração e na alma, devo admitir que perdemos. Não no campo político, mas no financeiro. Perdi. Ali Kamel e a Globo venceram. Calaram, pelo bolso, o Viomundo.
Estou certo de que meus queridíssimos leitores e apoiadores encontrarão alternativas à altura. O certo é que as Organizações Globo, uma das maiores empresas de jornalismo do mundo, nominalmente representadas aqui por Ali Kamel, mais uma vez impuseram seu monopólio informativo ao Brasil.
Eu os vejo por aí.
PS do Viomundo: Vem aí um livro escrito por mim com Rodrigo Vianna, Marco Aurelio Mello e outras testemunhas — identificadas ou não — narrando os bastidores da cobertura da eleição presidencial de 2006 na Globo, além de retratar tudo o que vocês testemunharam pessoalmente em 2010 e 2012.
PS do Viomundo 2: *Descreverei detalhadamente, em breve, como O Globo e associados tentaram praticar comigo o tradicional assassinato de caráter da mídia corporativa brasileira.
Leia também:
Justiça conclui que Ali Kamel não manda na Globo

terça-feira, 19 de março de 2013

Marilena Chauí, sempre

"Democracia e sociedade autoritária": palestra da filósofa Marilena Chauí no Café com Ideias, Goiânia, 13/3/2013. Posto os vídeos (do canal de Ageu Viana de Sousa) porque a matéria que resumiu a fala é totalmente insatisfatória.

Parte 1



Parte 2



Parte 3



Parte 4



Parte 5



Parte 6



A última parte virá em breve, informou o dono do canal.

Krugman apenas perfeito


Amigo chama atenção para post do dia 15 de Paul Krugman. De fato, não podia ser melhor. Dei uma traduzidinha.

Other People’s Children, Paul Krugman, NYT (15/3/2013)


Filhos dos outros 

Paul Krugman
Matthew Yglesias toca num ponto que eu pretendia abordar. O senador Rob Portman ganhou manchetes ao declarar seu apoio ao casamento gay após descobrir que o próprio filho é gay, e aparentemente somos obrigados a exaltá-lo por seu novo esclarecimento. Mas se esclarecimento é bom, não seria melhor se ele tivesse mostrado alguma flexibilidade sobre a questão antes de saber que a própria família seria beneficiada?

Vemos muito isso na vida americana ultimamente -- esse tipo de visão estreita de altruísmo, em que é considerado perfeitamente aceitável apoiar apenas as causas diretamente boas para você e os seus. Temos até uma tendência a considerar "inautênticas" as pessoas que apoiam políticas que não sejam de seu próprio interesse – se um homem rico apoia mais impostos sobre os ricos seria visto como estranho e, provavelmente, hipócrita.

Desnecessário dizer, está tudo errado. Virtude política consiste em bater pé no que é certo, mesmo -- ou até principalmente -- quando não redunde em seu próprio benefício. Alguém deveria perguntar a Portman por que ele não toma posição para, você sabe, os filhos dos outros.

sábado, 9 de março de 2013

Pra quem não lembra, SICKO!

#ForaFeliciano

São Paulo, 9/3/2013. Fonte: G1; Foto: Cris Faga/Estadão Conteúdo

SUS sim, privatização, NUNCA

ISTO comprou a Amil. Quer chegar a 100 milhões de brasileiros.

Nosso futuro com ISTO e sem o SUS é este:

Taxas de não segurados nos EUA

Fonte
A presidenta Dilma tem "conversado" com empresas de planos de saúde. O caminho é um só: repudiar com vigor qualquer ação de privatização da saúde.

Manifesto contra a privatização da Saúde
Ontem mesmo (8/3/2013) a mailing list "Domingueira", de Gilson Carvalho, sanitarista histórico que se especializou em financiamento da saúde, trouxe informação relevante sobre este assunto tão espinhoso.

Publiquei no meu Google Drive: Ainda os planos de saúde para pobres.

Preparem-se, é pau puro. E na questão da saúde pública, não tem jeito ou acordo, só PAU PURO! Afinal, saúde é direito de todos e dever do Estado.

quarta-feira, 6 de março de 2013

Adeus, querido companheiro

Milhares, milhões, quantos?

O número não importa, o importante é o legado. O Terra ficou retransmitindo o dia inteiro as imagens do pool venezuelano de TV, e foi uma comovente surpresa descobrir que o maior legado de Hugo Rafael Chávez Frías é um povo venezuelano articulado, consciente e informado.

Reuters, 6/3/2013
Tivemos um cortejo assim no Brasil:

Campanella Neto, 1954: a multidão
acompanha o enterro de Getúlio
Vargas pelo Aterro do Flamengo
Os argentinos tiveram o de Juan Domingo Perón...

Revista Gente, 4/7/1974
...e o de Evita:

Caras y Caretas, 1952
Como disse a TV venezuelana, o povo chora quem merece.
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